Matéria especial

Bebê de BH que sumiu há 44 anos não foi localizada até hoje

Cecília correu para pegar uma bola na casa onde passeava com a família, em Guarapari (ES), e nunca mais foi vista

Por Carolina Caetano
Publicado em 19 de outubro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Carnaval de 1976. Uma família de BH resolve passar uns dias em Guarapari, no Espírito Santo. Três adultos e seis crianças em acampamento num condomínio fechado.

E foi exatamente nesse lugar que Cecília São José de Faria, à época com 1 ano e 9 meses, sumiu, ao ir atrás de uma bola. Este é o caso mais antigo que se tem notícia de desaparecimento de uma pessoa mineira. 

“Minha mãe tinha feito uma cirurgia, e os médicos recomendaram que ela fizesse uma viagem para descansar. Chegamos lá no dia 1º de fevereiro; no dia 2 fomos à praia de manhã. À tarde, Cecília e outro irmão, de 3 anos, brincavam quando a bola caiu atrás da cozinha. Ela foi pegar, e nunca mais vimos minha irmã”, conta Débora São José de Faria, 49.

Kombi branca intrigou a família

Débora conta que, após perceber o desaparecimento, o pai colocou toda a família dentro do carro e rodou o condomínio para tentar achar a filha.

“Antes da Cecília sumir, parou em frente à casa que a gente estava uma Kombi branca. A gente acredita que ela tenha sido levada nesse veículo. Na época, minha mãe era advogada, procurou o delegado, e ele respondeu que não poderia fazer nada. Não podia fechar a cidade porque estava em alta temporada, e isso assustaria os turistas”, relata.

A família fez o registro do desaparecimento na polícia, e o avô paterno das crianças reproduziu fotos de Cecília e usou um avião para espalhá-las pela cidade, mas nenhuma pista foi levantada.

"Nossa esperança é de ela aparecer algum dia"

Os pais de Cecília nunca desistiram de procurar a filha. Atualmente, o casal mora em Betim, na região metropolitana de BH. A mulher, hoje idosa, está acamada, e o marido também tem problemas de saúde. A família retornou ao Espírito Santo várias vezes, mas não teve nenhuma informação.

Os pais de Cecília chegaram a receber uma denúncia, depois de cerca de cinco anos do sumiço, de que a criança estaria no Rio Grande do Norte. O casal vendeu carro e outros bens para ir até lá, mas nada foi confirmado.

“A nossa esperança é da Cecília aparecer algum dia. O sonho da minha mãe é colocar um ponto final nessa história”, comenta Débora. A Polícia Civil do Espírito Santo não deu informações sobre o que foi investigado do caso. 

Consequências do desaparecimento nas famílias

A vida de quem tem uma pessoa desaparecida na família muda totalmente. Como lidar com a falta de notícias? Quais são os sentimentos? O psicólogo Reinaldo da Silva Junior diz que as reações variam entre frustração, desespero e raiva. “É uma experiência que tira a pessoa do lugar, fica um vazio”, explica. 

A incerteza de não saber se o desaparecido está vivo ou morto impede que um ciclo seja concluído, não há a confirmação do luto, e a angústia não tem fim. “Existem duas possibilidades: a desestrutura familiar ou a união, uma rede de sustentação”, completa o profissional. 

 

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