Carnaval de 1976. Uma família de BH resolve passar uns dias em Guarapari, no Espírito Santo. Três adultos e seis crianças em acampamento num condomínio fechado.
E foi exatamente nesse lugar que Cecília São José de Faria, à época com 1 ano e 9 meses, sumiu, ao ir atrás de uma bola. Este é o caso mais antigo que se tem notícia de desaparecimento de uma pessoa mineira.
“Minha mãe tinha feito uma cirurgia, e os médicos recomendaram que ela fizesse uma viagem para descansar. Chegamos lá no dia 1º de fevereiro; no dia 2 fomos à praia de manhã. À tarde, Cecília e outro irmão, de 3 anos, brincavam quando a bola caiu atrás da cozinha. Ela foi pegar, e nunca mais vimos minha irmã”, conta Débora São José de Faria, 49.
Kombi branca intrigou a família
Débora conta que, após perceber o desaparecimento, o pai colocou toda a família dentro do carro e rodou o condomínio para tentar achar a filha.
“Antes da Cecília sumir, parou em frente à casa que a gente estava uma Kombi branca. A gente acredita que ela tenha sido levada nesse veículo. Na época, minha mãe era advogada, procurou o delegado, e ele respondeu que não poderia fazer nada. Não podia fechar a cidade porque estava em alta temporada, e isso assustaria os turistas”, relata.
A família fez o registro do desaparecimento na polícia, e o avô paterno das crianças reproduziu fotos de Cecília e usou um avião para espalhá-las pela cidade, mas nenhuma pista foi levantada.
"Nossa esperança é de ela aparecer algum dia"
Os pais de Cecília nunca desistiram de procurar a filha. Atualmente, o casal mora em Betim, na região metropolitana de BH. A mulher, hoje idosa, está acamada, e o marido também tem problemas de saúde. A família retornou ao Espírito Santo várias vezes, mas não teve nenhuma informação.
Os pais de Cecília chegaram a receber uma denúncia, depois de cerca de cinco anos do sumiço, de que a criança estaria no Rio Grande do Norte. O casal vendeu carro e outros bens para ir até lá, mas nada foi confirmado.
“A nossa esperança é da Cecília aparecer algum dia. O sonho da minha mãe é colocar um ponto final nessa história”, comenta Débora. A Polícia Civil do Espírito Santo não deu informações sobre o que foi investigado do caso.
Consequências do desaparecimento nas famílias
A vida de quem tem uma pessoa desaparecida na família muda totalmente. Como lidar com a falta de notícias? Quais são os sentimentos? O psicólogo Reinaldo da Silva Junior diz que as reações variam entre frustração, desespero e raiva. “É uma experiência que tira a pessoa do lugar, fica um vazio”, explica.
A incerteza de não saber se o desaparecido está vivo ou morto impede que um ciclo seja concluído, não há a confirmação do luto, e a angústia não tem fim. “Existem duas possibilidades: a desestrutura familiar ou a união, uma rede de sustentação”, completa o profissional.