Entulho, saco de lixo, resto de comida, frutas, garrafas pet e móveis velhos. O descarte irregular de lixo às margens da avenida Tereza Cristina, na região Oeste de Belo Horizonte, a poucos metros do ribeirão Arrudas, tem revoltado moradores do bairro Gameleira, que convivem ainda com o surgimento de animais como ratos, escorpiões e baratas. Em média, 25 toneladas de lixo são retirados do local a cada 20 dias. A realidade liga ainda o alerta para o aumento do risco de enchentes, diante da iminente chegada do período chuvoso, apontam especialistas.
A situação foi flagrada pela reportagem de O Tempo e denunciada por moradores e funcionários de comércios localizados bem próximo a sujeira, na avenida Presidente Juscelino Kubitschek. Morador do bairro há 25 anos, o comerciante Thiago da Cruz, de 39 anos, conta que os resíduos são despejados constantemente por pessoas que passam pelo local, carroceiros e até caminhões.
“Época de chuva dá barro, época de sol é o mau cheiro. E não param de colocar (lixo), tanto os moradores quanto os caminhões , que geralmente vem de madrugada e descartam animais. Carros param e jogam o lixo lá. É frequente, um espaço que era para lazer virou um bota-fora. A prefeitura limpa, mas não adianta. É um verdadeiro enxugar gelo”, conta.
As limpezas no local são feitas a cada 20 dias, segundo a Prefeitura de BH. Em média, são retiradas cerca de 25 toneladas de resíduos do local a cada ação. A última limpeza no local, que é mapeado como “ponto crítico de deposição clandestina de resíduos” pela PBH, ocorreu no dia 10 de agosto. A próxima, está prevista para a próxima quinta-feira (31 de agosto). No entanto, o comerciante Vicente Henrique, de 63, afirma que o lixo no local só cresce, apesar das ações de retirada dos resíduos.
“Limpar eles(PBH) limpam, mas jogam todos os dias. Tem muito tempo que o lixão está ali, mas agora está muito mais aglomerado. Todo mundo está jogando lá, tenho visto uma grande quantidade de lixo lá, cachorro e gato morto, todo o tipo de entulho, além do odor horrível. Temos um campo de futebol ali do lado, além do perigo da pessoa ser atropelada porque para desviar do lixo acaba entrando na rua, em meio ao alto fluxo de carros”, reclama.
O comerciante cobra uma ação mais efetiva para evitar o descarte irregular de resíduos no local. “Se eles viessem e colocassem um impedimento, eles não colocariam mais. Não tem impedimento, limpam e deixam do mesmo jeito. Passa ali a época de chuva para você ver? Um barro e um odor terrível. Não sei o que eles vão fazer, mas já era para ter feito”, cobra.
A irregularidade alerta para o alto número de animais e do risco de doenças, como dengue e chikungunya. Em 2023, a capital registra uma explosão de arboviroses. Balanço divulgado pela PBH na última sexta-feira (25 de agosto) mostra que 10.236 casos de dengue já foram confirmados e nove óbitos foram registrados. Entretanto, o bota-fora também preocupa moradores para o risco de inundações que ocorrem no ribeirão Arrudas, e que já atingiram a região por inúmeras vezes. “Geralmente eles jogam lixo dentro do rio também e isso gera uma preocupação porque a gente está de mãos atadas”, lamenta Thiago da Cruz.
Medo parecido tem Guilherme Vinícius, de 31, que passa diariamente pelo local e relata o risco iminente de poluição do leito do rio. “É um caos ali. O pessoal também não colabora, dá uma indignação porque pessoas de outros bairros vem jogar aqui. A criança passa ali e tem que desviar de lixo. Já vimos enchentes aqui e o medo é que isso possa potencializar o risco de inundação”, reclama.
O temor relatado pelos moradores é real, conforme aponta o coordenador do Projeto Manuelzão - que atua em defesa da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano. Segundo ele, o descarte de lixo contribui para o assoreamento dos rios - processo em que cursos d'água são afetados pelo acúmulo de sedimentos- que causa a perda da capacidade de vazão e aumenta o risco de inundações.
“O efeito do lixo localmente é desastroso. Além do aspecto ruim e feio que deprecia o local e o ambiente, ali vira evidentemente um criadouro de vetores de doenças que invadem as residências e contaminam os alimentos e a população. Associado a isso, quanto mais lixo tivermos nas margens mais vai para dentro do rio e isso vai causar o assoreamento. Isso tira o rio do leito natural, ele perde a capacidade de vazão e fica mais raso e tem esse aspecto do comportamento que é catastrófico, quando vem as chuvas causando inundações”, explica.
O especialista aponta ainda que o problema é extensivo podendo afetar novos rios e populações localizadas a quilômetros do bota-fora. “Qualquer afluente leva isso para frente. Então o lixo depositado ali na Tereza Cristina vai cair no Arrudas, vai para o rio Das Velhas e depois para o São Francisco. Tudo que fazemos é ruim não só localmente, mas tem o efeito perverso porque sai contaminando e sujando todo o leito do rio, causando mortandade de peixes e impossibilitando o uso da água para o abastecimento”, aponta.
Diante da chegada do período chuvoso, previsto para o final do próximo mês, Polignano cobra uma conscientização da população para os riscos gerados pelo descarte irregular de lixo. “O rio foi feito para ter água limpa e peixe, o rio não nasce sujo com lixo, esgoto e resto de construção. Isso é posto pela ação humana. Normalmente a prefeitura intensifica a limpeza desses locais nos períodos pré chuvosos, mas a população precisa fazer a parte dela. Não adianta responsabilizar apenas a prefeitura, precisam que todos sejam conscientes que os danos na cidade vão para todos. é muito importante que haja uma consciência de evitar esse danos”, alerta.
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte afirma que o bota-fora às margens da Tereza Cristina “trata-se de um ponto crítico de deposição clandestina de resíduos” e solicita a colaboração de todos para a manutenção da limpeza no local. Segundo o Executivo, as equipes de fiscalização de controle urbanístico e ambiental fazem rondas diárias no local e já apreenderam caminhões que estavam realizando o descarte irregular de lixo.
“A PBH esclarece ainda que está reforçando as ações no local com as equipes de fiscais, Guarda Municipal e da SLU”, garante. Ainda conforme a PBH, na cidade há 34 Unidades de Pequenos Volumes - URPVs - instaladas em todas as regionais - para o descarte correto de entulhos e outros resíduos ( pneus, podas, móveis velhos).
“Os endereços das URPVs podem ser conferidos no pbh.gov.br/urpvs. Já para descarte de grandes volumes, é necessário contatar empresas licenciadas. Elas devem comprovar que esses volumes serão destinados para locais autorizados. Informações: pbh.gov.br/botafora”.
De acordo com a legislação de limpeza urbana (Lei 10.534/2012), quem for flagrado despejando resíduos em vias públicas, lotes vagos e encostas pode ser multado em R$ 6.651,80. Em caso de dano ao meio ambiente, a infração poderá ser considerada crime ambiental o infrator está sujeito a medidas administrativas e penais previstas na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Denúncias sobre irregularidades sobre destinação de lixo podem ser feitas no site da PBH.
Barreiro
Centro-Sul
Leste
Nordeste
Noroeste
Norte
Oeste
Pampulha
Venda Nova