Risco

Chuva forte em BH tira sono de moradores da Vila Biquinhas

Imóveis em áreas de risco, pontes que ameaçam cair e goteiras dentro de casa são problemas durante chuvas no aglomerado

Por Gabriel Ronan
Publicado em 20 de fevereiro de 2022 | 14:33
 
 
 
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Moradores da Vila Biquinhas, na Região Norte de BH, passaram mais uma madrugada em claro neste domingo (20/2). A reportagem de O TEMPO esteve no local e ouviu relatos de desespero por parte de quem não vê a hora de mudar de endereço, mas não tem para onde ir.

É justamente o caso da doméstica Tânia Feliciana de Souza, de 65 anos. "É uma loucura. A gente não dorme. Aqui embaixo é goteira. Lá em cima também é goteira. Já teve que chamar o Corpo de Bombeiros porque não tinha como a gente sair daqui de dentro", conta a idosa. 

Tânia mora na Vila Biquinhas com a neta, a filha e o marido. A família já perdeu tudo em várias enchentes e recupera o mínimo para sobreviver a partir de doações. 

"Estamos com medo de desabar. Só falta um barraco para chegar no nosso. A gente não tem mais condições de ficar aqui. Tudo que tem aqui já foi lavado de lama. A gente tem medo agora é de perder a vida", lamenta. 

Pontes improvisadas

O direito de ir e vir não existe na Vila Biquinhas. Os deficientes físicos e visuais do aglomerado convivem com o desafio diário de encontrar atalhos nas pontes improvisadas para garantir a locomoção. 

"Minha situação é terrível. A última vez que a água entrou eu perdi tudo. Nem adianta comprar as coisas. Tudo na minha casa é molhado. Fica mais difícil ainda pro meu esposo, que é deficiente visual", afirma Maria Araújo, de 65. 

Na casa dela, vivem somente marido e mulher. O casal perdeu um filho recentemente,  assassinado no mesmo córrego que invade sua casa sempre que chove em BH. 

Durante a apuração desta matéria, a reportagem contou com apoio do líder comunitário José Vasco Ferreira Dias, de 55, conhecido como Zé do Rádio. Durante as entrevistas, ele deixava claro o descontentamento com o poder público. 

De acordo com Zé do Rádio, várias casas foram interditadas na Biquinhas nos últimos anos. Algumas delas foram jogadas no chão, mas o entulho foi parar dentro do córrego. Como resultado, o conjunto de concreto, pedaço de pias e tijolos dificulta a passagem da água, o que amplia os alagamentos. 

"Durante 12 anos sou líder comunitário aqui. A cada chuva piora. Muito deficiente que mora na vila, cadeirantes. Costuma dizer que perde tudo, mas perde é o nada que tem", diz José Vasco.  

Em dezembro, duas casas desabaram na Vila Biquinhas. Felizmente, o fato não deixou vítimas. A Defesa Civil foi acionada à época, assim como o Corpo de Bombeiros.

A Prefeitura de Belo Horizonte foi procurada para falar sobre a situação da vila, mas ainda não se manifestou.

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