Liderança comunitária do Morro do Papagaio, que abriga cerca de 17 mil moradores, confirmou nesta sexta-feira (29) o primeiro caso de Covid-19 no aglomerado. O paciente, que não será identificado por questões de segurança, está internado e seu quadro de saúde é considerado estável. A preocupação dos líderes que atuam ali é que os moradores da favela mantenham os cuidados sanitários necessários para que não ocorra uma rápida propagação do coronavírus. A região Centro-Sul, onde fica o Morro do Papagaio, é o ponto de Belo Horizonte com maior número de casos de Covid-19, principalmente concentrados em bairros nobres como Lourdes, Belvedere e Funcionários.
A aflição das lideranças do aglomerado diante da possibilidade de mais diagnósticos confirmados é tão grande que desde o início da pandemia são feitas ações de conscientização e apoio aos moradores. A cada semana, entre mil e duas mil máscaras são distribuídas às pessoas que ali vivem. Um grupo de voluntários, coordenados por Júlio Fessô, líder da Associação de Moradores, distribui diariamente às 6h frascos com álcool em gel para aqueles que estão deixando suas casas para trabalhar, e um carro de som circula também todos os dias tocando um rap que orienta os moradores sobre as medidas de proteção, como detalha o líder.
“Nós sabíamos do risco de algum trabalhador trazer o coronavírus para cá e por isso começamos as ações. Às 6h da manhã já saímos para distribuir máscaras, álcool em gel. Temos também um grupo de voluntárias que produzem as máscaras para a comunidade. Todo cuidado ainda é pouco”, comenta.
De acordo com ele, o necessário neste momento é evitar o pânico e reforçar as medidas de proteção. “A partir desse momento nós precisamos pensar o que podemos fazer enquanto comunidade. Entregamos equipamentos de proteção para trabalhadores e pessoas do grupo de risco, água e sabão e máscara. É o que nós temos disponível, é barato e pode evitar a contaminação. Esperamos doar cerca de um milhão de máscaras”, detalha Júlio.
A maior preocupação é que no Morro do Papagaio as famílias são grandes, compostas por muitas pessoas, e as casas costumeiramente pequenas. “Nós precisamos ser responsáveis agora, saber quem é o morador que está com coronavírus não vai mudar nada, precisamos dobrar os cuidados e lembrar que pode ser que existam casos assintomáticos aqui”, pontua Júlio.
Segundo ele, o morador que está infectado tomou todos os cuidados necessários, e a família dele pessoa já estava há algum tempo seguindo o isolamento domiciliar. “O pessoal não sabe como aconteceu dessa pessoa ter contraído o vírus. São familiares que estavam cumprindo o isolamento mesmo antes da confirmação, seguindo as recomendações”, comenta. Ele destaca que inúmeras lideranças da favela estão unidas neste momento para ajudar no combate à pandemia na comunidade.
Ações municipais
Outros casos de coronavírus já haviam sido confirmados em comunidades de Belo Horizonte pela própria prefeitura do município em um balanço de casos por bairro que é publicado a cada semana. A última edição do relatório, que saiu na sexta-feira passada (22), apontou os primeiros casos no Alto Vera Cruz, na Vila Marçola e no Santana do Cafezal – sendo estes dois integrantes do Aglomerado da Serra, maior favela de Minas Gerais com cerca de 46 mil habitantes.
Procurada, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) declarou que está distribuindo panfletos, cestas básicas e kits de higiene para moradores de vilas, favelas e ocupações da cidade. Os kits higiene são compostos por 19 de itens, entre eles sabonetes e cloro concentrado, e distribuídos a cerca de 114 mil famílias. O município também esclareceu que começou em 14 de maio a distribuição de dois milhões de máscaras gratuitas para residentes em vilas e favelas.
Até o momento, Belo Horizonte concentra mais de 1.700 casos de coronavírus segundo balanço da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) publicado nesta sexta-feira (29). Quarenta e oito pessoas morreram na cidade após serem infectadas pelo vírus. Ainda nesta sexta-feira, a PBH anunciará à imprensa se dará continuidade ao processo de reabertura do comércio e retomada da economia, iniciado na segunda-feira (25).