SEMANA SANTA

Com bacalhau chegando a R$200, cabeça de salmão e sardinha viram opções em BH

No Nova Suíssa, comerciante aposta até na venda da cabeça de salmão a R$4,99 kg; inflação também atinge os ovos

Por Simon Nascimento
Publicado em 26 de março de 2022 | 03:00
 
 
 
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O período da quaresma é um dos mais tradicionais ao consumo de peixes no Brasil. Mas neste ano, quem quiser manter o costume vai ter de desembolsar mais dinheiro para aquisição dos pescados. Espécies tradicionais e de compra acentuada pela população chegaram a dobrar de preço em Belo Horizonte. O quilo do bacalhau do porto ultrapassa R$200 em alguns estabelecimentos da metrópole, enquanto o saithe chega a R$90. No salmão, o preço saiu de R$34 kg, para cerca de R$70. 

A inflação também atingiu cortes mais baratos, como a tilápia, que está sendo comercializada quase 9% mais cara do que em 2021, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP). Para tentar incluir o pescado na lista de compras dos consumidores, proprietários de peixarias e frigoríficos têm oferecido peixes que têm preços mais acessíveis. 

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No bairro Nova Suíssa, na região Oeste de BH, o Frigorífico Vereda aposta, dentre outras ofertas, na comercialização da cabeça de salmão. O corte é vendido a R$4,99 com uma promessa: “para quem gosta de fazer uma moqueca, caldo de peixe é um produto produto carnudo”, relata o gerente do estabelecimento, José Antônio Leite.

Além da cabeça de salmão, o comerciante diz que a piramutaba sem pele, vendida a R$19,90 kg, e a isca congelada de tilápia, ofertada ao mesmo preço, também estão entre os mais procurados pela clientela. 

O filé de merluza e a sardinha são outros produtos com boas vendas. José Antônio diz que o frigorífico só vai ofertar peixes nobres, como salmão e bacalhau, na Semana Santa, devido ao alto valor. “É quando ocorre uma procura maior por variedade”, prevê.

Na peixaria São Francisco, localizada na Feira dos Produtores, Nordeste de BH, o proprietário Francisco Baptista de Melo explicou que os principais aumentos de preço ocorreram nos importados, como o salmão e o bacalhau. 

“O filé de tilápia é nosso carro-chefe, é o peixe da moda”, diz o comerciante sobre a procura dos clientes. Ele lembra que, no período de quaresma de 2021, o quilo do bacalhau saithe, com osso e pele, era vendido a R$49. Neste ano, o preço subiu para R$79.

No corte do porto, os valores saíram de R$170 para R$230. “Você fica até com medo de aumentar o preço para a clientela não sumir e desaparecer. Nós estamos reajustando aos poucos, não pode ser com a mesma margem de tempos atrás”, justifica. 

Vendas

Apesar de estar com boas expectativas, o comerciante acredita que o movimento de vendas em 2022 vai ser aquém do contabilizado em outros anos. O sentimento é o mesmo de Zenildo Ribeiro, proprietário da Frangos e Peixes, no bairro São Bernardo, na região da Pampulha. Por lá, o temor é de um aumento maior às vésperas da Semana Santa, quando a demanda por pescados deve aumentar. 

“Tem 37 anos que estou aqui. Na quinta e Sexta-Feira da Paixão sempre temos boas vendas. Mas neste ano não vai ser igual aos outros anos. A dificuldade está muito grande para todo mundo”, lamenta o comerciante.

Ribeiro conta que já observou uma mudança de consumo dos clientes. “A cabeça de surubim, por exemplo, antigamente eu nem vendia. Hoje muita gente já procura e vendo a R$12, R$13 o quilo. Poucos anos atrás o surubim é que estava nesse preço”, relembra. 

Ovos e legumes acompanham aumento 

Ingredientes presentes na tradicional bacalhoada, as batatas, tomates, pimentões e hortaliças também estão mais caros em Belo Horizonte. O chefe da seção de Informações de Mercado da CeasaMinas, Ricardo Fernandes, afirmou que, no atacado, o preço da batata inglesa subiu 8,8% desde fevereiro deste ano. A cebola registrou alta de 12,6%, enquanto o preço do tomate subiu 27,5%; 

Nos sacolões da cidade, o fruto do tomateiro chega a ser comercializado a R$14 kg. “Apesar de não estar chovendo mais, ainda fica um reflexo muito forte do período chuvoso do início do ano. De maneira geral os preços dos hortifrutigranjeiros estão mais altos”, destaca. Utilizados por muitos que não aderem aos pescados, os ovos também estão mais caros.

A caixa com 30 dúzias, do tipo branco grande, registrou um salto de 30%, conforme a Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig). O produto era comercializado, em dezembro de 2021, por R$98,00 na Ceasa, mas, em 23 de março bateu os R$130. Nos supermercados, a dúzia já se aproxima de R$10. 

Questões climáticas e guerra pressionam preços 

O economista da Fecomércio-MG Guilherme Almeida explica que os preços mais altos são esperados para esta época do ano devido à sazonalidade de consumo, mas foram impactados por questões climáticas, com o volume acentuado de chuva no início deste ano, e pela pressão que o conflito entre Rússia e Ucrânia gerou em commodities energéticas e agrícolas.

“Para um ítem chegar na prateleira para o consumidor final, precisa ser transportado por caminhões, carros, que acabam utilizando combustível nesse processo. Então isso exemplifica como a cadeia produtiva está toda interligada”, analisa. 

Na avaliação do economista, o processo inflacionário dificulta, até mesmo, a substituição de produtos. Ele lembrou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, avalia a evolução de preço de 377 ítens, sendo que 75% apresentaram elevação de preço nos últimos 12 meses.

“As famílias que já estão com orçamento apertado podem acabar comprometendo ainda mais o orçamento com aquisição desses produtos. Então o consumidor também acaba optando por substituir o consumo de um item por outro do mesmo segmento ou abrindo mão de determinados bens e serviços considerados não essenciais”, ressalta.

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