Mesmo com o risco iminente de rompimento das barragens que afetariam as comunidades, o treinamento de fuga em caso de desastre não teve grande adesão em Nova Lima e Raposos, na região metropolitana de Belo Horizonte. Menos da metade das 6.750 pessoas esperadas participaram do simulado. Ao todo, 3.194 moradores foram se preparar para salvar as próprias vidas.
A diarista Andreia Lúcia Soares, de 42 anos, foi uma das moradoras de Nova Lima que participou do simulado. Ela conta que, mesmo com o treinamento, não se sente preparada para se salvar em caso de rompimento. "Tenho criança em casa. Não é tão simples assim. Tenho medo de ficar ilhada ou de não conseguir correr", afirma.
Segundo a Defesa Civil, as comunidades de Honório Bicalho , Santa Rita e Alto do Gaia podem ser atingidas pela lama das barragens B3 e B4, da Vale. Em caso de rompimento da estrutura, os rejeitos chegariam nas localidades em 1h03. Dentre as 2.400 pessoas que participaram do treinamento, a que demorou mais para sair da área de risco gastou 55 minutos. Só dessas comunidades, deveriam ter participado 4.350 moradores.
Em Raposos, a adesão foi ainda pior. Apenas 33% do público esperado participou. Foram 794 pessoas e não as 2.400 que residem no trecho onde a lama de B3 e B4 chegaria em 1h46. Os que participaram fecharam o treinamento em 50 minutos.
Para o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais, o fato de ser apenas um simulado em pleno domingo pode ser um desmotivador para algumas pessoas. Mas, ele lembra que o treinamento é uma forma de salvar vidas. "É importante que em caso de rompimento as pessoas saibam onde são os pontos seguros", afirma.
Para a estudante Lidiane Mendes de Oliveira, de 31 anos, faltou informação. "Nem todo mundo ficou sabendo disso. Eu corri atrás de informações porque estou muito preocupada", disse.
Já em Itabirito, a população que pode ser atingida pelas barragens de Forquilha I e III, quis participar do simulado. Em caso de rompimento desses reservatórios, a lama atingiria a população em 1h36 minutos. O medo levou 4.770 pessoas para o treinamento. Publico maior do que o número de 4.363 pessoas que moram na área de risco.
Os simulados são uma continuidade das ações de segurança previstas no Plano de Ação Emergencial (PAEBM) das barragens de B3/B4 (distrito de Macacos, em Nova Lima) e Forquilhas I e III (área rural de Ouro Preto), que tiveram o nível de alerta elevado para 3 no último dia 27.
A Vale já fez treinamentos similares em Barão de Cocais e Santa Bárbara. A próxima cidade a receber o treinamento preventivo será São Gonçalo do Rio Abaixo, no dia 3 de abril.
Em nota, a Vale ressaltou que os simulados são medidas preventivas e que vai apoiar a população até que a situação seja normalizada.
Mobilidade
Os moradores acamados ou com alguma necessidade especial de Nova Lima, Raposos e Itabirito, que estão nas áreas onde os rejeitos das barragens B3/ B4 e Foquilhas I e III poderiam alcançar em caso de rompimento das estruturas, devem sair imediatamente de suas casas. A orientação é da Defesa Civil e visa garantir a integridade física dessas pessoas em caso de um desastre nos reservatórios.
Segundo o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais, o órgão está fazendo uma busca ativa para encontrar essas pessoas e convencê-las sobre a necessidade de deixar as casas. “Pessoas com qualquer tipo de necessidade especial precisam ser evacuadas imediatamente”, afirma. O órgão não sabe ainda quantas pessoas estão nessa situação. A Vale ficaria responsável pelo pagamento de diárias de hotéis ou aluguel de casas definidas para acomodá-las.
Em Nova Lima, o trabalho de localização desses moradores está sendo feito com a ajuda da assistência social do município. Segundo o vice-prefeito, João Marcelo Dieguez, a lista das pessoas acamadas que fazem uso do sistema de saúde do município já foi entregue para a mineradora. Ele não soube dizer quantos estão nessa situação. Agora, a prefeitura está em busca daqueles que não vão aos postos de saúde locais.
A orientação é que aqueles que sintam necessidade de sair de casa por perceber que não daria conta de fugir em caso de tragédia busquem os pontos de apoio da Vale montados nos municípios. Uma lista está sendo feita para tomada de medidas.