Coronavírus: padaria de Juiz de Fora distribui pães para quem não pode pagar

"Hoje tem o pãozinho?", questiona um morador de Juiz de Fora, na Zona da Mata, à proprietária de uma padaria na cidade que, há pelo menos uma semana, está distribuindo gratuitamente pães para aqueles que não conseguem pagar pelo alimento. A ação começou alguns dias após as primeiras medidas para contenção da pandemia do novo coronavírus em Minas Gerais.

De lá para cá, quem chega à porta da Padaria Manchester, na região central da cidade, encontra uma cesta cheia de sacos de papel pardo. Neles, estão os pães que contribuem para que muitos moradores consigam se alimentar. Colada na cesta, uma placa anuncia: "Se você não tiver dinheiro hoje para comprar pão, pode retirar o seu aqui". 

A proprietária da padaria, Marlize Lima de Castro Gonçalves, de 27 anos, conta que são muitas as pessoas que estão procurando o estabelecimento atrás de alimentação, movimento que se torna mais intenso a cada dia. "A maioria das pessoas que retiram o pão conta que está passando muita dificuldade. Um catador de papel falou que com essa crise tudo piorou, que não conseguia dinheiro nenhum e que estava passando muita dificuldade, a ponto de não ter o que comer. Ele disse que aquele pão era o alimento garantido que ele tinha para aquele dia", comenta. 

A ação começou na semana passada como uma maneira de prestar apoio a quem está em uma situação complicada em Juiz de Fora, e, além de trabalhadores autônomos, muitas pessoas em situação de rua têm buscado o alimento na padaria. Ainda não há data para que a distribuição de pães seja encerrada.

"Nós enxergamos a possibilidade de amenizar um pouco a dor de quem não tem condição de se alimentar. Diante desse mundo egoísta, pensamos que podíamos fazer a diferença. Tem dado muito certo, as pessoas estão felizes. Todos os dias alguém pergunta: 'Ah, hoje tem pãozinho?', são moradores de rua, pessoas que não podem pagar", esclarece Marlize. 

O procedimento é rápido: quem precisa, chega à porta da padaria, retira um dos pacotes com os pães e o leva. "Alguns perguntam: 'Ah, posso tirar?', e eu explico que sim. Nós estamos sempre repondo os pães durante o dia. Só não deixamos a cesta lotada para que algumas pessoas não retirem aquilo que pode alimentar outras", pontua.

Ela ainda lembra que, nos dias seguintes ao começo da distribuição, clientes da padaria chegaram a levar embora os pães, mesmo sem necessitar. "Uma funcionária minha percebeu que dois clientes queriam levar os pães, mesmo podendo pagar. Ela explicou para eles, o cliente tentou justificar... Não é todo mundo que tem a consciência de entender o propósito da ação". 

Apesar de contratempos como esse, a proprietária traçou um balanço muito positivo da doação de pães. "Meu coração se enche de felicidade mesmo, poder entender que uma atitude de amor pode mudar muitas realidades, que podemos fazer diferença na vida de uma pessoa. Por menos que seja, a gente pode fazer diferença na vida do outro, a gente pode levar um pouquinho de conforto, sabe?". 

Juiz de Fora

O município de Juiz de Fora já é o segundo de Minas Gerais com maior número de pacientes diagnosticados com o novo coronavírus. Balanço da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), publicado nesta terça-feira (31), aponta que o número de casos na cidade praticamente dobrou de um dia para o outro. Na segunda-feira (30) eram 13 casos, agora já são 23. Entre segunda e terça-feira, o Estado registrou 14 diagnósticos para a Covid-19, sendo dez deles apenas em Juiz de Fora.

Antônio Almas (PSDB), médico e prefeito de Juiz de Fora, decretou uma série de medidas para conter o avanço da Covid-19 no município. Estão suspensas por tempo indeterminado as aulas na rede municipal, instituições particulares são orientadas a suspender todas as atividades, eventos também estão cancelados, e existe uma recomendação para que sejam adiadas quaisquer atividades com público superior a cem pessoas. Não há óbitos confirmados na cidade. 

Atualizada às 11h16.