Muitos dos que transitam, trabalham ou moram no centro da capital devem desconhecer a existência de uma pequena casa encravada (e conservada) na rua Padre Belchior, entre a avenida Augusto de Lima e a rua Curitiba. Muitos também não sabem que ali existe o córrego do Leitão, coberto na década de 70 e hoje fonte de inspiração para intervenções artísticas do projeto Nessa Rua Tem um Rio, de artistas da ONG Instituto Undió desde 2007. É a partir do imóvel que os envolvidos resgatam o cuidado e o interesse pela rua, estreitando laços com comerciantes, moradores e pedestres por meio de performances inusitadas.
Uma das intervenções é um café comunitário promovido na calçada em frente à casa, oferecido gratuitamente para todos que passam pela rua. A iniciativa é resultado das lembranças da infância da artista plástica Thereza Portes, fundadora da Undió e neta dos donos do imóvel.
“Meu avô era médico e atendia em casa. Me lembro do imóvel cheio de gente, e minha avó sempre fazia café. A ação é uma forma de resgatar isso”, conta Thereza, que há 30 anos coordena o Undió junto com a mãe, a também artista plástica Júlia Portes.
No café, cujo dia para acontecer é “imprevisível”, bolos e biscoitos caseiros, além de centenas de xícaras, são colocados sobre uma mesa de 10 m. “As pessoas ficam assustadas. Perguntam se é para vender ou se é de igreja. Mas logo param e começam a conversar, justamente o que queremos”, diz Thereza.
Pesquisas e Performances. Embora há três décadas o instituto ofereça cursos de teatro, música e artes plásticas a adolescentes e jovens carentes, foi somente em 2007 que ele ganhou sede. Construído nos anos 30, o imóvel ficou 15 anos abandonado e passou por grande reforma.
Serviço
Contribuição. Voluntários são bem-vindos ao Instituto Undió, que está aberto a quem queira ajudar nas oficinas artísticas e em outros projetos. O site da instituição é
www.institutoundio.org.
Saiba mais
Xícaras. O café comunitário do projeto Nessa Rua Tem um Rio contava com uma coleção de mais de 300 xícaras, mas todas foram roubadas durante o evento realizado na praça da Estação, durante a última Virada Cultural. Agora, a artista plástica Thereza Portes está refazendo a coleção. O objetivo é receber doações de xícaras e conhecer a história de cada um dos utensílios.
Patrocínio. O Instituto Undió tem patrocínio anual de R$ 70 mil, da Petrobras, e tem despesa mensal de aproximadamente R$ 6.000. Para promover exibições de filmes e mostras artísticas, a instituição conta com parcerias com outras ONGs. Parte dos gastos é paga pelos artistas.
Diversidade. Uma das fontes de inspiração para os artistas do projeto Nessa Rua Tem um Rio está na diversidade da rua Padre Belchior. Além de cinema pornográfico, o local abriga lojas de discos e de consertos de panelas, bares e ponto de concentração de veículos que fazem carretos.