Infecções sexualmente transmissíveis

Covid: Número de testes para sífilis e HIV tem queda de até 35% em BH

Agravamento da pandemia reduziu diagnósticos no primeiro trimestre e afetou descoberta de casos

Por Lucas Morais
Publicado em 10 de maio de 2021 | 06:00
 
 
 
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Além de levar o sistema de saúde quase ao colapso por conta do crescimento exponencial de casos nos últimos meses, a pandemia do coronavírus também afetou drasticamente a prevenção de outras infecções, como as sexualmente transmissíveis. É o que apontam os dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sobre o HIV, vírus da Aids, e a sífilis em BH. Ao mesmo passo em que os novos diagnósticos caíram, o número de testes realizados na rede municipal tiveram queda de até 35% só entre janeiro e março deste ano.

Segundo o levantamento, foram realizados 9.070 exames de HIV na capital entre janeiro e março de 2020 – a doença levou à adoção das medidas restritivas a partir do fim do último mês. Já no mesmo período de 2021, ocorreram 7.712 testes, uma redução de 15%. A situação da sífilis é pior, e os índices saíram de 9.247 para 6.158, uma queda de quase 34%.

Consequentemente, a pandemia afetou a identificação de novas pessoas que se infectaram na cidade. O balanço da prefeitura revelou que, entre 2019 e 2020, a detecção de novos casos teve queda de 34,7% para o HIV – foram 821 registros, contra 536 no ano passado. Na comparação entre o primeiro trimestre dos dois últimos anos, a redução de casos chegou a 56,7%, sendo 185 diagnósticos positivos em 2020 e 80 neste ano.

 

Para a coordenadora da Saúde Sexual da SMS, Cristiane Hernandes, a necessidade do isolamento social reduziu a procura pelo diagnóstico das duas doenças. “Não sabemos se as pessoas estão realmente seguindo medidas e se expondo ao risco (de serem contaminados). Mas a oferta está mantida nos postos”, enfatizou. Os números de testes para a sífilis também tiveram queda no Estado. Entre 2019 e 2020, a redução chegou a 16%, passando de 85.752 para 72.024 diagnósticos no ano passado.

Mais afetados

Cristiane lembrou que as faixas etárias mais jovens, principalmente entre 15 e 19 anos, além dos idosos com mais de 60 anos, tiveram um aumento expressivo na proporção de novos diagnósticos de HIV e sífilis. “Quando você compara com um período mais longo, percebe-se um aumento, e essas pessoas ficaram mais vulneráveis e expostas”, declarou. Um dos principais motivos é a falta de prevenção com o uso de preservativos nas relações sexuais.

Em BH

Todos os 152 postos de saúde oferecem a testagem rápida para o HIV e sífilis. Duas unidades – no Sagrada Família e no Shopping UAI – oferecem aconselhamento e oferecem dicas de prevenção.

Cenário preocupante

Segundo o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG e um dos coordenadores do projeto PrEP 15-19 Minas Mateus Westin, o cenário provocado pela pandemia na transmissão das ISTs é preocupante. “Uma das formas de prevenir essas infecções é através do diagnóstico precoce. Uma vez tratada a sífilis, a pessoa para de transmitir, e com o antirretroviral para o HIV, com o tempo, a carga viral se torna indetectável, e a pessoa também para de contaminar”, enfatizou.

O especialista alegou ainda que, com a redução dos testes, muitas pessoas podem transmitir essas infecções sem saber. “Diversos portadores ficam assintomáticos por muito tempo, então essa é a nossa preocupação central”, acrescentou. Westin disse que houve um enfraquecimento das políticas públicas para enfrentamento dessa situação nos últimos anos. 

“Tínhamos um departamento no Ministério da Saúde com campanhas publicitárias voltadas para populações-chave, como LGBTs, profissionais do sexo, usuários de drogas. Ocorreu uma fusão dessa estrutura com o de doenças crônicas não transmissíveis e inevitavelmente uma queda das ações”, finalizou.

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