Tragédia

Criança é assassinada a facadas em frente a escola em Betim

Babá presenciou crime contra garotinha de 5 anos; agressor quase foi linchado e teve que ser atendido em uma UPA

Publicado em 30 de outubro de 2019 | 08:03

 
 
Brenda é cuidadora da Yeda e presenciou o crime Brenda é cuidadora da Yeda e presenciou o crime Foto: Alex de Jesus / O Tempo
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Uma menina de 5 anos foi assassinada a facadas, na manhã desta quarta-feira (30), em frente a uma escola de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com a Polícia Militar, o crime foi cometido por um homem com esquizofrenia durante um surto na rua Perdões, no bairro Vila Cristina.

Antes de ser preso, o suspeito, que tem 25 anos, quase foi linchado por pessoas que presenciaram o crime e, por isso, precisou ser levado à UPA Teresópolis. O homem teria dito que tinha um 'chamado de entidades' e vozes disseram que ele 'deveria matar uma criança hoje'.

Ele era egresso recente do sistema prisional, suspeito de cometer crimes como furto, ameaça e tráfico de drogas.

A Delegacia de Homicídios de Betim ficará responsável pelo caso e o corpo da menina já foi recolhido pela perícia para o Instituto Médico Legal (IML). Diante da tragédia, a Prefeitura de Betim decretou luto oficial e suspendeu as aulas no Centro Infantil Municipal (CIM) Silvina Júlia de Carvalho, onde a vítima estudava. 

Agressão na porta da escola

Brenda Souza de Andrade, 23, era cuidadora de Ieda Isabella Manoel Peres, a garotinha assassinada e, no momento do crime, levava a criança e seu irmão também pequeno para a escola. À reportagem ela contou que só percebeu a aproximação do homem em suas costas quando viu a menina caída no chão.

"Eu arrumei ela e o irmão para vir para escola. Quando atravessei a esquina (da rua Perdões), ela caiu. Eu olhei para o lado, perguntei 'por que você caiu?', e o irmão dela começou a gritar chorando. Eu olhei para trás e vi o homem com a faca, branco, que nem de açougue. Eu peguei ela, segurei ela no chão, parece que ele só queria ela. Ele só dava facada e risada, facada e risada". 

Segundo a jovem, frequentadores de um bar próximo ao lugar onde a menina foi esfaqueada não tentaram ajudá-la. Ela só conseguiu socorro com professoras do Colégio Neuza Duarte. O irmão da criança conseguiu correr, a pedido da cuidadora, e se esconder do suspeito.

"O irmão não foi atingido, mandei ele correr, ele ficou gritando, muito desesperado", conta. Há também relatos preliminares de o homem ter tentado agredir ainda outras crianças na porta da escola. 

Ainda com as mãos sujas de sangue, Brenda falou sobre a tragédia. "Eu estava trazendo ela para escola, nem passava pela minha cabeça isso. Tô com a minha consciência pesada, não sei nem o que falo para a mãe dela. A bichinha estava tão alegrinha, tinha acabado de arrumar ela para vir para a escola", desabafa.

A escola próxima de onde o crime aconteceu também se manifestou e lamentou o caso. Veja a nota:

O Colégio Neuza Dutra lamenta profundamente a fatalidade ocorrida em suas proximidades na manhã desta Quarta Feira, 30 de Outubro de 2019.

Informamos que este fato não possui nenhuma ligação com o Colégio e que a vítima não é estudante do Neuza Dutra, à família dos envolvidos prestamos nossas condolências neste momento difícil.

Reforçamos ainda que, o Colégio Neuza Dutra possui uma estrutura de segurança completamente adequada, além de monitoramento por câmeras 24h por dia.

Queremos ainda tranquilizar a todos, informando que os nossos estudantes, professores e colaboradores se encontram bem e as aulas estão se transcorrendo normalmente.

Segundo a Polícia Militar o autor do crime já se encontra detido.

Nossa equipe está à disposição para quaisquer esclarecimentos.

Veja a galeria de fotos de Alex de Jesus:

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Registros na polícia

Com apenas 25 anos, o suspeito de assassinar uma menina a facadas na porta de uma escola em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, possui vários registros de delitos e crimes na Polícia Militar. Tráfico e uso de drogas, ameaça e furtos são alguns dos registros contra ele. 

São, pelo menos, sete ocorrências a respeito de crimes ou situações de violências nas quais ele estaria envolvido. Os primeiros registros datam, ainda, de 2014 – à época, ele tinha 19 anos, e em muitos há detalhes sobre consumo de drogas, entre elas crack. Ainda naquele ano, começaram as primeiras ocorrências de furto. Ao todo, são três delas e uma quarta de natureza semelhante, posto que ele teria participado de um roubo. 

Um dos registros mais sérios foi feito pela ex-namorada do suspeito, em 2017. À época, a mulher o denunciou por ele não aceitar o término do relacionamento e ameaçá-la de morte. No ano seguinte, a própria mãe alegou à polícia que o filho teria agido com violência durante um ataque de abstinência por falta de consumir drogas.

No último mês do ano passado, o rapaz foi preso por tráfico e uso de drogas em Betim. Com ele, a polícia registrou ter encontrado pedras de crack, além de certa quantia em dinheiro e maconha escondidas em sua cueca e, por isso, ele recebeu voz de prisão. As ocorrências se dividem entre Betim e Carlos Chagas, município no Vale do Mucuri onde ele nasceu. 

'Chamado' para matar

De acordo com o major Paulo Roberto, que acompanhou a ocorrência desde o início, o suspeito disse ter ouvido um "chamado de entidades" para matar uma criança hoje. Veja um trecho da entrevista:

A informação dada pelo major de que ele usava tornozeleira eletrônica foi negada pela Sejusp, que disse que ele só usou o equipamento até setembro.

Suspeito tinha esquizofrenia, diz PM

De acordo com a Polícia Militar, o suspeito de matar Ieda apresenta um quadro esquizofrenia. Segundo a corporação, a família dele apresentou laudos e disse que ele teve uma consulta com psiquiatra ontem para aumentar a dose da medicação. 

"Ele foi com a mãe ao psiquiatra porque o remédio não estava fazendo efeito. O médico passou a medicação de 10 para 20 gotas, mas ele não chegou a tomar a nova dose. Ao voltar para casa, ele teve um novo surto. Colocou um funk e ficava dando gargalhadas, dançava sozinho. Subia nos muros, dizia que o 'patrão' tinha mandado ele matar uma criança", explicou o major Paulo Roberto, da 177ª Companhia do 66º Batalhão.

A família gravou vídeos da situação para mostrá-lo quando ele voltasse à realidade. Preocupados, familiares esconderam objetos cortantes. 

Nesta quarta, o homem acordou cedo e falou para a mãe que iria à padaria comprar pão. 

"No quintal da casa, ele andava de um lado para o outro afirmando que teria que matar alguém. A mãe pediu para ele não sair de casa, mas o autor disse que só ia comprar pão. Ele voltou para o imóvel, mas saiu outra vez sem que a família percebesse. Infelizmente, ele conseguiu uma faca. E foi o momento em que ele cometeu o crime", detalhou o policial. 

Ouça um trecho da entrevista com o major, que traz vários detalhes sobre o que foi apurado junto à família do suspeito:

"As pessoas não devem fazer justiça com as próprias mãos", diz policial

Após o crime, o homem foi agredido com socos, pedras, golpes de capacete por pessoas que estavam na região. O agressor precisou ser socorrido por militares e encaminhado à unidade de saúde, onde foi medicado e recebeu alta médica. 

"A gente orienta que as pessoas acreditem nas Forças de Segurança. Que ninguém faça justiça com as próprias mãos porque não é o ideal. Cada família tem o seu problema particular e a gente precisa saber entender essa questão e respeitar", disse o policial.

O agressor morava com a mãe e três irmãos na região da vila Cristina, onde o crime aconteceu. O pai está trabalhando na Suécia.

O homem será encaminhado à Delegacia de Homicídios de Betim.

Texto atualizado às 12h06