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Criticado por Bolsonaro, passaporte da vacina é adotado por 249 cidades

Criticada pelo presidente Bolsonaro na ONU, a estratégia é adotada para estimular vacinação e criar ambientes mais seguros em relação à Covid

Por Cinthya Oliveira
Publicado em 27 de setembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha se mostrado contrário ao passaporte da vacina durante o discurso que abriu a Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), essa estratégia vem cada vez mais ganhando adesão entre os municípios brasileiros. De acordo com levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), pelo menos 249 cidades pretendem adotar, de alguma forma, restrições para a entrada de pessoas não vacinadas em ambientes de longa permanência, como restaurantes, bares, cinemas, teatros e estádios, por exemplo.

Essa já é uma realidade nas quatro maiores cidades do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. Mas em cada cidade o passaporte é utilizado de uma maneira, com regras específicas, visando dois objetivos: incentivar a imunização contra e criar ambientes mais seguros em relação à transmissão da Covid. 

No Rio, por exemplo, a comprovação da vacinação não é só necessária para ter acesso a locais como cinemas e academias, como também se tornou pré-requisito para ter acesso a cirurgias eletivas e ao programa municipal de distribuição de renda. De acordo com a prefeitura, duas semanas após a publicação dos decretos referentes ao passaporte, o número de faltosos à segunda dose caiu 40%.

A professora universitária Cláudia Capello, 55, precisou do comprovante de vacinação para entrar na academia. Mas o processo não foi complicado, segundo ela. “Foi enviado uma vez, por e-mail, para que a pessoa não precise portar isso. Na portaria, já estão os nomes de quem enviou o comprovante. E estão efetivamente cobrando porque existe um decreto e todos têm que cumprir”, relata.

“Acho mais interessante para engajar muitas pessoas que não estavam comparecendo para a segunda dose ou hesitando em tomar a vacina. Elas passaram a ir ao posto porque não querem deixar de frequentar alguns lugares”, completa Cláudia.

Já em São Paulo, a representante de vendas Roberta Gonçalves, 40, passou por aperto por causa do passaporte. Ela só soube que precisava do comprovante de vacinação quando chegou à entrada de um local para assistir a um show. “Nos disseram que precisava baixar um aplicativo e fazer um cadastro para entrar, mas não foi tão simples. Tive que refazer o acesso três vezes para dar certo”, conta. O aplicativo recomendado era e-saúdeSP e a organização do evento não informou a ela que também era possível ter o comprovante pelo app ConecteSUS.

Infectologista da Santa Casa, Claudia Murta explica que o passaporte pode ser interessante, mas não é possível se esquecer das outras medidas de segurança. “Mesmo em lugares com passaporte, as pessoas devem procurar adotar cuidados como higienização das mãos, uso de máscaras enquanto não estiverem comendo e verificar se as mesas estão distantes”, explica.

Betim adota selo de Ambiente Seguro

Belo Horizonte ainda estuda a possibilidade de adotar o passaporte da vacinação na cidade. Já Betim apostou na iniciativa, mas de uma maneira diferente das maiores cidades do país. O município preferiu criar um selo chamado de Ambiente Seguro, para estabelecimentos que exijam comprovante de imunização. Até sexta-feira, 22 já haviam feito a adesão formalmente.

Quem adere ao programa tem um benefício: pode utilizar 100% de sua capacidade original (conforme o alvará), diferentemente dos 30% válidos para quem não aderiu. Para o secretário de Saúde do município, Augusto Viana, essa é uma maneira segura e colaborativa de retomar as atividades econômicas. “O município propõe disponibilizar para os betinenses uma rede de serviços de bares, restaurantes, academias, cinemas com ambiente seguro”, afirma.

Mas a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) se posiciona contrária aos passaportes. “A gente sabe que a vacina é a saída para essa crise sanitária que a gente tem. Mas a Abrasel é veementemente contra o passaporte de vacinação, porque a gente sabe que algumas pessoas não tiveram oportunidade de se vacinar e outras não podem se vacinar por algum motivo. E o empresário não pode ser punido por isso. Se as prefeituras querem exigir a vacinação, que então punam o cidadão”, argumenta Matheus Daniel, presidente da Abrasel em Minas.

Para o infectologista e professor da UFMG Unaí Tupinambás, o passaporte da vacina pode ser interessante, mas tem um efeito menor no Brasil do que em outros países. França, Israel e a cidade de Nova York são alguns lugares que adotaram a estratégia para incentivar a população a se vacinar.

“Felizmente aqui no Brasil a aceitabilidade da vacina é alta, acima de 90%. E o movimento negacionista é muito pequeno. A gente não vai ter problema com a aceitabilidade da vacina”, diz o professor, lembrando que o Brasil tem um programa de imunização reconhecido mundialmente pela eficiência.

Para quem deseja portar um comprovante de vacinação, a dica é baixar o aplicativo ConecteSUS. É só fazer o cadastro e o usuário logo recebe os dados sobre data, horário, local e lote da vacina em arquivo PDF. 

 

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