Cadeia

Delegado que matou reboqueiro em Belo Horizonte é preso a pedido da Corregedoria

A Polícia Civil de Minas Gerais cumpriu, na manhã deste sábado, um mandado de prisão em aberto em desfavor do delegado Rafael de Souza Horácio

Por Aline Diniz
Publicado em 30 de julho de 2022 | 13:48
 
 
 
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A Polícia Civil de Minas Gerais cumpriu, na manhã deste sábado, um mandado de prisão em aberto em desfavor do delegado Rafael de Souza Horácio — que matou, na última terça-feira (26), o reboqueiro Anderson Cândido de Melo, de 48 anos.

O pedido de prisão cautelar foi feito, nessa sexta-feira (29), pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Minas Gerais, e deferido pela Justiça. Anderson foi morto por Rafael de Souza Horácio durante uma briga de trânsito. Detalhes da discussão e do disparo ainda são desconhecidos, o que há é a versão que o delegado contou à Polícia Civil no dia do crime.

Relembre o caso

O desentendimento ocorreu no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha. Informações levantadas por O TEMPO com fontes no local dos disparos indicam que o delegado estava em uma viatura descaracterizada quando foi fechado pelo caminhão, o que deu início a uma discussão.

Após algum tempo, o policial teria fechado o reboque da vítima e efetuado o disparo, que atingiu o pescoço do homem. Ao perceber que tinha acertado o motorista, o próprio autor do disparo acionou a Polícia Civil e a perícia técnica compareceu ao local, fazendo os levantamentos iniciais na cena do crime.
 
Quando o veículo da vítima seria removido do local, familiares e amigos do homem baleado protestaram, momento em que um delegado explicou em voz alta que a primeira perícia já tinha sido feita e que uma nova perícia aconteceria em um segundo lugar, não especificado pelo policial.

Foi então que a filha dele pediu para entrar no caminhão apenas para pegar o telefone do homem, que estava em um compartimento embaixo do banco do passageiro, e uma blusa de frio. Nenhuma arma foi encontrada no caminhão, conforme constatado pela reportagem que acompanhou a situação. 

Quem é a vítima

Vizinhos de Anderson, ouvidos pela reportagem, contam que o reboqueiro era um trabalhador que se dedicava à família e à igreja. "Nunca teve nada errado com ele, ele era um homem evangélico que só vivia de luta", contou uma amiga, que preferiu o anonimato.

Pai de quatro filhos (um menino e três meninas) e amoroso com todos eles, Melo era querido na vizinhança e também na comunidade da igreja. "Foi um choque (a morte) para todos, a pastora e o pastor estão na casa dele. Todos os filhos moravam com ele, a mulher dele está inconsolável", revela a vizinha. Um amigo dele, que também pediu anonimato, desabafou que nunca havia visto tamanha "covardia".

"Saracura (como era conhecido Anderson) era um ótimo mecânico, um excelente profissional no ramo de reboque e um amigo sem igual. Ninguém nunca viu Saracura numa mesa de jogo, ou numa mesa de bar. Era serviço e igreja", detalhou.

Luta por uma vida melhor

O amigo, que também trabalha com reboque, contou que Saracura trabalhava em uma empresa do ramo. Há sete anos, porém, o chefe dele o ajudou a comprar o primeiro caminhão. Depois, ele "cresceu" sozinho.

​"Ele trocou o caminhãozinho no Ford grandão. Duvido que ele esbarraria o pára-choque do caminhão em qualquer carro. Você pode conversar com 10, 50 colegas reboqueiros dele, todos te diriam a mesma coisa. Ele tinha mais ciúmes do reboque do que tudo. Era um cara de ouro", lamenta o amigo.

Para finalizar, o parceiro de profissão e da vida faz questão de lembrar: "Precisei dele (Anderson Cândido de Melo) inúmeras vezes, e ele nunca me faltou. Me socorreu aqui em casa várias vezes, e à noite", finalizou. Antes de desligar o telefone, o amigo ainda completou que Melo também cuidava da mãe, que já estava debilitada e vivia em outra cidade. Além disso, todos os filhos estudam.

O que diz a Polícia Civil

"A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que, na tarde de hoje (26/7), na região central de Belo Horizonte, durante um suposto desentendimento de trânsito, um policial civil efetuou disparo de arma de fogo contra motorista de caminhão, que foi socorrido e faleceu no Hospital João XXIII.

O policial civil se apresentou de forma espontânea na delegacia mais próxima, onde a arma de fogo foi recolhida. A Corregedoria Geral da Polícia Civil (CGPC) assumiu o caso e está adotando as medidas legais cabíveis. Mais esclarecimentos serão posteriormente repassados à imprensa".
 

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