Depois de Itatiaiuçu, Barão de Cocais e Macacos, mais pessoas terão que deixar suas casas devido a riscos de desastres provocados por barragens da Vale. Desta vez, 125 moradores serão retirados de imóveis em Ouro Preto, na região Central de Minas, e Nova Lima, na região metropolitana de BH.
As novas evacuações em comunidades e condomínios começaram nesta quarta-feira (20) nas duas cidades e já atingiram 67 moradores. Segundo a mineradora, a medida é para que seja realizado o descomissionamento – processo de acabar com barragens – das cinco estruturas.
Os desabrigados foram encaminhados para hotéis de Belo Horizonte, Itabirito e do condomínio Alphaville, em Nova Lima. Entre os removidos de casa estão 40 funcionários e familiares da AngloGold Ashanti. Eles residem ou trabalham nas vilas do Sistema Hidrelétrico Rio de Peixe, em Nova Lima. Moradora do residencial Solar da Lagoa, também afetado pela medida, a advogada Juliana Drumond Furquim Werneck, 40, ficou revoltada com a situação.
“Isso é um absurdo! Simplesmente batem na nossa porta e falam que a gente precisa sair. Deveriam ter programado antes”, desabafou. Ela mora no local há 20 anos com mais 11 pessoas e os animais de estimação. Os bichos também foram levados para locais seguros.
De acordo com a Vale, em Nova Lima, a remoção abrange moradores de 33 residências – cerca de cem pessoas –, que ficam em uma região localizada a 52 km do centro do município. Em Ouro Preto, a remoção abrange oito casa, na zona rural, com cerca de 25 moradores. O local está a aproximadamente 15 km de Engenheiro Correia.
A barragem de Nova Lima é a Vargem Grande, do Complexo Vargem Grande. Em Ouro Preto são as estruturas Forquilha I, II e III e Grupo, na Mina da Fábrica. Segundo o tenente-coronel Flávio Godinho, comandante da Defesa Civil de Minas Gerais, as cinco barragens passaram de nível 1 para 2 de risco, quando é exigida a evacuação das zonas de risco. “Para que isso aconteça de forma segura, há necessidade de se retirar quem possa ter algum tipo de dano a vida. É uma ação de prevenção”, explicou. Nesta quinta-feira (21), a Defesa Civil tentará contato com outros moradores não encontrados.
Desconforto
A diretora de escola Ziene Chagas Pereira, 40, tem uma casa no Solar da Lagoa e há três anos aluga o imóvel. Ela foi até o local para garantir que sua inquilina, a cozinheira Luiza Batista Guedes, 45, deixasse o local.
“Ela não acreditou quando ligamos. Esse foi o primeiro imóvel que meu marido comprou. Tem valor afetivo. Acredito que eles estão tocando essas sirenes para desviar o foco de Brumadinho”, afirmou a diretora. Já Vânia não pretende renovar o contrato de aluguel e quer se mudar.
Estrada para Ouro Preto fechada
A BR–356, que dá acesso a Itabirito e a Ouro Preto, na região Central de Minas Gerais, foi interditada às 17h desta quarta-feira e por tempo indeterminado. Segundo a Polícia Militar (PM), ela ficará fechada do KM 35, em Lagoa das Codornas, até o KM 50, no portal de Itabirito. A rodovia é saída para o Rio de Janeiro.
O major Flávio Santiago, porta-voz da PM, informou que o trecho foi fechado pois ele seria atingido pela lama em caso do rompimento da barragem Vargem Grande, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. A estrutura está em nível 2 de risco, último antes de uma ruptura. A medida, explicou o militar, é preventiva.
“Há discussões para ver se conseguimos criar outras alternativas. Mas a Polícia Militar e a Defesa Civil, em face da vida das pessoas, optaram por fazer essa interrupção, até porque, se houver um rompimento, em menos de quatro minutos a BR–356 será atingida. Então, é um tempo muito pequeno para fazer qualquer tipo de retirada”, disse Santiago. Os motoristas serão orientados no local.
Desvios
Segundo a PM, os veículos leves (carros, vans e motos) deverão fazer um desvio de 43 quilômetros, passando pela MG–030 em Nova Lima e Rio Acima, até chegar a Itabirito.
Já para os veículos pesados, a viagem pode aumentar em até 80 quilômetros, passando pela BR–040, em Ouro Branco, e seguindo até Ouro Preto pela MG–443 para chegar a Itabirito. Se o motorista acessar a entrada da MG–030 e, quiser enfrentar um trecho de terra pela comunidade Lobo Leite, o desvio caí para 43 quilômetros. (Pedro Ferreira)
‘Inconveniente às famílias’, afirma Zema
O governador Romeu Zema (Novo) se manifestou nesta quarta-feira sobre a retirada de pessoas que vivem nas proximidades de barragens em Nova Lima e Ouro Preto. O líder do Executivo estadual disse estar preocupado com a situação e afirmou que a situação é um “inconveniente para as famílias”.
Segundo o governador, ele determinou que a Coordenadoria de Estado de Defesa Civil tome as medidas necessárias, junto a representantes da Vale, para minimizar danos aos afetados. “Embora seja um inconveniente para essas famílias, a medida é preventiva e visa salvar vidas”, disse em nota.
“Após as tragédias ocorridas em Mariana e em Brumadinho, recentemente, vamos fazer tudo que estiver ao alcance do governo do Estado para preservar as vidas das pessoas”, completou Zema, que estava em Brasília nesta quarta-feira. (Da redação)
Posição
A Vale informou que vai prestar toda a assistência e apoio necessários às pessoas retiradas de suas casas, disponibilizando hospedagem, alimentação, transporte e medicamentos, além de uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, assistentes sociais e médicos. Também será oferecido abrigo para os animais.
Mais rigor
O Projeto de Lei 812/2019, que tramita na Câmara dos Deputados, quer aumentar a pena para os chamados “crimes de perigo comum”: incêndio, explosão, inundação e desmoronamento. A proposta determina que, nos casos de crime doloso – quando há intenção –, as penas, em caso de morte, seja multiplicada por cinco vezes.
Plano de ação para Itabirito
A Justiça de Itabirito, na região Central de Minas, determinou nesta quarta-feira que a Vale apresente em até três dias o Plano de Ação Emergencial (PAE) de um possível rompimento das barragens Forquilha I, II e III, que ficam em Ouro Preto. Na decisão, a juíza Vânia de Conceição Pinto Borges ordena que a empresa providencie, em 72 horas, rotas de fuga para a população do município, que seria atingido em caso de colapso das estruturas. Além disso, em sete dias, a mineradora deve fazer simulados de evacuação dos moradores. A juíza arbitrou multa de R$ 1 milhão por dia em caso de descumprimento.
Extinção
Medida. A Vale informou que vai descomissionar dez barragens em Minas Gerais construídas no processo a montante, mesmo da estruturas que se romperam em Brumadinho e em Mariana.