Dezoito motociclistas são atendidos, em média, diariamente no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, em decorrência de acidentes. A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) alerta que, na maioria das vezes, os sinistros poderiam ser evitados caso as leis fossem respeitadas. A campanha Maio Amarelo busca conscientizar pilotos e condutores para a redução das estatísticas (veja abaixo).
De janeiro a março de 2024, a unidade de saúde recebeu 1.669 ocupantes de motocicletas. O número é 30% a mais do registrado no mesmo período de 2023 — 1.268. No ano passado, o Hospital João XXIII registrou um total de 8.631 atendimentos a vítimas de acidentes envolvendo pedestres, carros de passeio, caminhões, camionetes ônibus e motos. Desse número, 5.707 eram ocupantes de motos.
As vítimas de acidentes de moto ficam, em sua maioria, com algum tipo de lesão ortopédica. Os dados mostram que cerca de 70% das pessoas que sobrevivem aos sinistros têm fraturas, geralmente, nos membros inferiores. O tempo de recuperação varia em cada caso, segundo a gerente médica da Urgência e Emergência do Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência da Fhemig (Hospitais João XXIII, Infantil João Paulo II e Maria Amélia Lins), Daniela Fóscolo.
“A complexidade varia de acordo com a velocidade em que ocorreu o acidente, podendo causar, em casos mais graves, traumatismos tóraco-abdominais, cranianos e lesões na coluna. Os pacientes que estavam em alta velocidade também costumam ser aqueles que demoram mais tempo para se recuperar e com mais chances de ficarem com algum tipo de sequela permanente”, alerta.
Uma das vítimas de acidente de moto e que precisou dos cuidados da equipe do João XXIII é Ana Júlia Alves Silva, de 19 anos. Após comprar uma moto, ela resolveu pilotar, apesar de não ter Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A jovem sofreu uma lesão no joelho, e vai precisar ser operada para colocação de pinos.
"Fui dar uma volta na moto, próxima à minha casa, antes de iniciar as aulas de direção. Como ainda não tenho muito conhecimento, usei o freio sem apertar a embreagem, o que fez com que a moto desse um tranco e eu caísse no chão com ela em cima da minha perna”, conta.
Após o acidente, Ana Júlia afirma que aprendeu a lição e que não será mais “tão corajosa”. “É importante que as pessoas não se arrisquem, moto é perigoso. É preciso ter muito cuidado, experiência e estar sempre com os equipamentos de proteção”.
A maioria das pessoas que chegam ao João XXIII vítimas de acidentes com motocicletas são homens, com idade entre 19 e 39 anos, segundo a médica Daniela Fóscolo. “Muitos deles estavam usando o veículo como meio de trabalho no momento do acidente”, informa.
Desde que viagens por aplicativo passaram a ser realizadas em motos, a gerente médica afirma que os acidentes passaram a aumentar. “O número de acidentes de moto vêm aumentando na última década, porém ficou ainda mais significativo a partir de 2020, quando também tivemos a mudança dos padrões de compras e o crescimento da utilização de aplicativos tanto para transportes de materiais quanto, agora mais recentemente, para transportes de pessoas”, diz.
Daniela explica ainda que o padrão de lesões de passageiros de moto é diferente do piloto. “Enquanto o piloto está mais fixo, pois segura no guidão, o passageiro não tem muito como se apoiar na moto e muitas das vezes não tem noção da dinâmica de andar nesse tipo de veículo”.
A Campanha Maio Amarelo deste ano, com o tema “Paz no trânsito começa por você”, lembra que a principal forma de diminuir o número desses acidentes é cada um fazendo a sua parte.
Respeitar as leis de trânsito e não dirigir após o uso de bebidas alcoólicas ou outras drogas já são regras conhecidas, mas muitas vezes desrespeitadas por um grande número de pessoas que acabam se envolvendo em acidentes.