Assembleia

Diretores da Vale ouvidos em CPI se esquivam de perguntas de deputados

Relator da CPI diz que estratégia da defesa é transferir responsabilidades pela tragédia

Por Raquel Penaforte
Publicado em 04 de julho de 2019 | 12:31
 
 
 
normal

A CPI que apura as responsabilidades no rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, ouve na manhã desta quinta-feira (4) mais dois funcionários da mineradora Vale.

O primeiro a depor foi o diretor operacional do corredor sudeste da Vale, Silmar Silva, que está afastado do cargo.

Após se esquivar de diversas perguntas do relator da CPI, o deputado André Quintão (PT), Silva alegou que teve acesso aos laudos que atestavam a segurança da barragem, mas que as decisões sobre as medidas a serem tomadas eram do setor geotécnico.

Ao ser questionado sobre qual teria sido o erro da Vale, Silva respondeu que desde o evento da Samarco, em Mariana, a mineradora investiu em tecnologia e pessoal especializado. "Não faltou investimento. Estou curioso para receber o relatório de investigação de causa para termos essa resposta", disse.

Em dado momento, o diretor afastado afirmou que a sirene na barragem nunca tocou. Em outros momentos, porém, Silva disse que o acionamento do alarme é automático quando o nível de segurança entra no nível 2.

Para o deputado Bartô (Novo), que participou da CPI, as declarações dadas pelo diretor provocaram perplexidade. "Não faz sentido o que senhor está dizendo: como é possível alegar que a sirene era responsável por alertar sobre possíveis instabilidades da barragem, mas, que no caso de Brumadinho a sirene não tocou justamente pelo rompimento?", indagou.

'Conjunto de omissões'

O deputado André Quintão afirmou que a Vale não adotou medidas de precaução para evitar a tragédia. "As mortes poderiam ter sido evitadas. A cada depoimento o conjunto de omissões e responsabilidade fica mais claro", afirmou. 

O deputado disse ainda que o diretor admitiu que a Vale parou de instalar os drenos responsáveis por diminuir os níveis de água na barragem e não tomou nenhuma providência.

"Eles transferem as responsabilidades, isso é uma estratégia comum de defesa. Não adianta transferir as responsabilidades para outros funcionários da linha inferior hierárquica porque temos documentos que mostram que os diretores sabiam das questões principais: fator de segurança abaixo do recomendado pela própria Vale e pelo fraturamento hidráulico do 15º dreno horizontal profundo", afirmou.

Segundo depoimento

Em seguida, o diretor de planejamento da Vale, Lucio Cavalle, depôs à comissão. 

O funcionário, afastado desde março deste ano, alegou que, entre suas atribuições, estava a contratação de empresas que prestavam auditorias para a mineradora.

Apesar de assumir a função de contratar tais empresas – entre elas, a Tüv Süd, que emitiu um laudo atestando a segurança da barragem – o diretor se isentou de responsabilidades. "Não era da minha gerência a responsabilidade da emissão desse laudo", alegou.

Texto atualizado às 13h36

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!