Trabalhadores do transporte coletivo de Belo Horizonte poderão receber apenas parte dos salários, a partir do próximo pagamento, por conta da queda de 80% da receita das empresas de ônibus. O número de passageiros diminuiu em função dos efeitos do coronavírus, e as pessoas estão em casa, em isolamento social.

O alerta é do presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), Joel Jorge Paschoalin. "Os salários vão sofrer cortes se não houver ajuda financeira", disse.

Segundo Joel, houve uma queda de 80% do número de passageiros, de 1,2 milhão, por dia, para 300 mil.  

"Hoje, as empresas arrecadam R$ 1 milhão por dia com as passagens. Antes, eram mais R$ 3 milhões", reclama o presidente do Setra-BH. 

"Essa queda da receita foi de 75% na terça-feira e hoje (nesta quarta-feira) atingiu 80%", disse Joel.

O número de viagens por dia foi reduzido de 24,5 mil para 19,5 mil, segundo ele.

"Reduzimos 20% das viagens", afirmou. A frota de ônibus na capital é de 2.830 veículos, distribuídos em mais de 30 empresas que compõem 24 grupos econômicos. 

Joel garantiu que não vai haver qualquer pedido de aumento do valor da tarifa em função desse prejuízo. 

"Em hipótese alguma. Acho que isso não cabe agora. A gente tem que ter consciência e incentivar os nossos governantes, os prefeitos da região metropolitana, o governador, os contratantes desses serviços", disse. 

O sindicalista disse, ainda, que os invervalos entre as viagens de ônibus, que antes variavam entre 10 a 15 minutos, foram aumentados para 30 minutos, mas que os coletivos poderão demorar mais tempo ainda para passar nos pontos. 

"A gente espaçou os horários e estamos trabalhando com um intervalo de 30 minutos no horário de pico. Antes, variava de 10 a 15 minutos, dependendo da linha. Algumas empresas estão com problemas para comprar óleo diesel, mas a orientação é focar na determinação do prefeito, Alexandre Kalil, e do governador, Romeu Zema, de manter todos os passageiros sentados", disse.

"Mas, se a empresa perceber que não vai ter diesel até o fim do dia, ela vai preservar as viagens do horário de pico e fazer uma ou outra viagem entre o horário de pico com dois ou três passageiros. Mas, pode acontecer dessas viagens serem canceladas. Então, talvez esse intervalo de 30 minutos possa passar para 40 minutos", afirmou Joel. 

O sindicalista disse que estão calculando quantos passageiros as linhas estão transportando em determinados horários. "Aí, a gente sabe da ocupação. Então, nós estamos trabalhando com essas ocupações e refazendo o quadro de horários para o dia seguinte porque o número de passageiros está caindo dia a dia", disse. 

"Estamos arrecadando 20% e o nosso óleo diesel é 25% do que a gente arrecada. Então, não precisa ser matemático, fazer contas. Nós estamos entrando em um colapso", afirmou o presidente do Setra-BH.

"Toda a nossa arrecadação será revertida para o pagamento do funcionário e para o óleo diesel. O resto das despesas a gente não está pagando ", afirmou.

"Expectativa de melhorar a gente não tem. O que pode nos ajudar é um capital vindo de outra fonte, da companhia de petróleo. Do governo federal, a gente tem menos esperança, mas pode ser do estado e dos municípios. A companhia de petróleo não quer saber. Se não pagou a nota, não carrega amanhã ", reagiu. 

BHTrans

A BHTrans informou que as empresas têm que obedecer o quadro de horário estabelecido por ela. Em relação à possibilidade de redução do salário dos empregados, disse se tratar de uma questão entre empresas privadas e trabalhadores e que não vai se manifestar.

Demora

Passageiros que têm que enfrentar o transporte público nesse período de redução das viagens reclamam da demora dos ônibus.

A encarregada de cozinha Marluce Geralda de Paula, de 54 anos, esperava havia mais de 40 minutos por um ônibus, na tarde desta quarta-feira, em um ponto da avenida Assis Chateaubriand, no bairro Floresta, região Leste. 

"Até agora não passou. Estou esperando o 8102 ou então o 8150, mas nenhum deles passa. Depois desse isolamento social a situação piorou muito para quem anda de ônibus. A gente, que é pobre, não tem condições de ir embora de carro", reclamou.

"Pego dois ônibus e estou ficando 30 minutos no outro ponto. Nesse aqui, cheguei duas da tarde e já são duas e quarenta", disse.

O carteiro Rafael Duarte, de 35, também reclama da demora dos ônibus. "Antes, demorava em torno de 10 a 15 minutos e agora está demorando até 50 minutos. Complicou a nossa vida, tanto para ir quanto para voltar do trabalho. E quando os ônibus chegam, já chegam lotados", disse.

Rafael teme aumento na tarifa de ônibus para compensar o prejuízo que as empresas estão tendo. "No dia a dia, como carteiro, a gente usa o passe. Mas, para quem paga, acho que vai aumentar depois para repor esse prejuizo", disse. 

Com a demora dos ônibus, o carteiro reclama que está havendo atraso na entrega das correspondências, mas que eles não estão deixando de fazer o trabalho deles.