Durante cinco anos, a técnica em informática desempregada Gabriela Spínola Barbosa, 24, viveu em uma prisão sem grades por conta das três sessões de hemodiálise a que era submetida por semana para tratar a insuficiência renal crônica. “Prisão sem grade porque você está livre, mas, ao mesmo tempo, presa. Sua vida é muito limitada. Eu queria estudar e não conseguia. Eu queria trabalhar, e não conseguia. Um tantinho de água que eu bebia a mais, já passava mal. Não podia comer alimentos como batata, couve, cará, nada que fosse rico em potássio”, conta Gabriela, que, em fevereiro do ano passado, conseguiu receber a doação de um rim. Nesta quinta-feira (14), Dia Mundial do Rim, ela conta que tem mais um motivo a comemorar. “Agora, posso realizar meus sonhos. Estou fazendo um curso e tenho a esperança de encontrar um emprego”, afirma.
Gabriela foi uma das 73 pessoas que passaram pelo transplante de rim entre janeiro e fevereiro de 2018, por meio do MG Transplantes, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). No mesmo período deste ano, o número de transplantados subiu para 86, um aumento de 17,8%.
Espera
De acordo com o MG Transplantes, no Estado a maior demanda de órgãos é por um rim. Nesta quarta-feira (13), de um total de 4.082 pessoas que aguardavam na fila por algum tipo de órgão em Minas, 2.820 esperavam por um rim – mais da metade. Em segundo lugar estava a córnea, com 1.098 pacientes à espera de um doador.
Estima-se que, no mundo, existam 850 milhões de pessoas com doença renal. “É uma doença silenciosa, cujas principais causas são enfermidades muito comuns, como hipertensão e diabetes”, explica a presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia, Líian Carmo.
A médica recomenda às pessoas como forma de prevenção cuidar da saúde de um modo geral e passar por avaliações periódicas. “A gente sabe que, atualmente, a obesidade é um fator de risco para hipertensão e diabetes e, consequentemente, prejudica a saúde renal”, alerta. O uso indiscriminado de anti-inflamatórios e de outras medicações sem recomendação médica também causa lesão renal, de acordo com a médica.
A escolha de um doador renal é criteriosa, e a preferência tem sido pelos órgãos de pessoas falecidas, uma vez que é exigido de quem doa seguir uma vida regrada e ser constantemente avaliado. “Nenhum paciente com risco é liberado para doação em vida. Hoje, no mundo inteiro, a doação renal entre vivos tem diminuído, pela própria exigência de ser um doador impecável e de preencher muitos requisitos”, explica a presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia, Lílian Carmo.
Segundo ela, a doação de rim caiu muito nos últimos meses no Estado. “Foram poucas campanhas em prol da doação, e a gente sabe que, como recusa das famílias é elevada, há a necessidade contínua de conscientização das pessoas. Quem tem interesse em doar após a morte deve avisar os familiares”, orienta a médica.
“É importante que as famílias aceitem doar. É um ato que salva vida de uma pessoa que não está mais aqui”, salienta Lílian.
Saiba mais
Sintomas
As pessoas devem ficar atentas aos sinais de alerta da doença, como edema e inchaço das pernas, diminuição do volume urinário e fraqueza. “São sinais de que o rim não está funcionando bem”, alerta a médica Lilian Carmo.
Operação
O transplante renal é indicado quando o rim funciona menos de 10% na remoção de resíduos tóxicos e do excesso de água do organismo.
Situação atual
“A maioria dos pacientes (de Minas) está em tratamento conservador e não tem indicação de transplante. Só vai transplantar quando não houver alternativa”, esclarece Lílian Carmo, que é presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia.