Obras do BRT

Engenheiro vetou escolha de empresa 

Contratada locava contêineres e fez estações do Move para transferência

Por Johnatan Castro e Luciene Câmara
Publicado em 07 de julho de 2014 | 03:00
 
 
 
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Passado o impacto inicial da queda do viaduto Batalha dos Guararapes, na avenida Pedro I, em Venda Nova, na última quinta-feira, surgem suspeitas de mais irregularidades e riscos em outras obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo na capital. A construtora Constran, responsável por erguer a Estação São Gabriel do Move e as estações de transferência do sistema, teria subcontratado uma empreiteira sem capacidade técnica para executar o serviço, conforme laudo feito por engenheiro da própria empresa.


A montagem das estações de transferência ficou a cargo da Ralmec Engenharia, com sede em Montes Claros, no Norte de Minas, e como principal atividade locação de contêineres. No site da Ralmec, fotos mostram o trabalho sendo realizado pela empresa na capital mineira.

Conforme o edital de licitação da obra (142/2011), a Constran é proibida de subcontratar total ou parcialmente o serviço, “salvo expresso consentimento da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura”. O órgão foi procurado nesse domingo, mas não respondeu a solicitação.

Denúncia. De acordo com a fonte ligada à Constran, que pediu anonimato, a prática de terceirização é comum na empresa. No caso das obras do Move, um engenheiro da construtora visitou a empresa Ralmec, em Montes Claros, há cerca de dois anos, para fazer uma avaliação técnica e recomendou que ela não fosse contratada. “A Ralmec é uma empresa pequena e não se habilitaria em uma licitação. Os profissionais não estão habilitados para esse tipo de serviço, eles não têm os cursos de soldagem necessários e não são certificados”, disse.

No entanto, mesmo diante da recomendação, a Constran insistiu na terceirização. “Eles (a prefeitura e a Constran) não têm controle de qualidade do aço que foi utilizado nas estações – que precisa ser especial”, declarou o profissional.

A fonte também destacou que, ao ganhar a licitação para construção das estações, em 2012, no valor de R$ 75 milhões (fora os aditivos), a Constran contratou várias empreiteiras, mas teria optado em continuar apenas com a Ralmec em função do menor preço. “Há riscos nas estações. É preciso verificar, por exemplo, se o sistema de proteção de descarga atmosférica está funcionando. Porque, se cai um raio ali dentro, queima todo mundo que está lá”.

De acordo com engenheiros em transportes especializados em licitação, a subcontratação é permitida, mas apenas em cerca de 20% a 30% do total da obra e desde que as empresa escolhida seja regularizada e siga os padrões de qualidade estabelecidos. “Nesse caso, a responsável pela obra continua sendo quem venceu a licitação”, afirmou o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG), Clemenceau Saliba Júnior.

Sob investigação
Câmara.
O vereador Iran Barbosa, que propôs uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as obras de mobilidade urbana da Copa, também disse ter conhecimento das subcontratações feitas pela Constran.

São Gabriel. A construtora também é investigada pelo parlamentar por suspeitas de irregularidades na obra da Estação São Gabriel. Um dossiê de quase 60 páginas aponta falhas graves na execução da estrutura, como colunas de sustentação curtas amparadas por menos parafusos que o indicado, parafusos e porcas frouxos e folgas expressivas nas flanges, que são peças que vedam a conexão das estruturas.

Vistoria. A reportagem consultou três especialistas e visitou a Estação São Gabriel junto com o vice-presidente do Ibape-MG, Clemenceau Sáliba Júnior. Na avaliação dele, há risco da edificação desabar.

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