Enquanto a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) não publica protocolos de reabertura para as escolas de educação infantil na cidade, cerca de 60 instituições da capital contrataram uma empresa de gestão de saúde para elaborar regras de funcionamento para o recebimento de alunos. Algumas das 31 creches e pré-escolas que foram autorizadas a reabrir pela Justiça nesta semana orientam-se pelo programa, segundo o gestor do projeto da empresa EUSaúde, do grupo RCS Saúde, Marcelo Nunes.

Uma das prerrogativas do programa é a separação dos alunos em “bolhas”: até 12 crianças podem fazer parte de um determinado grupo, orientado pelo mesmo professor. Esses grupos não têm contato com os demais nos diferentes ambientes escolares e fazem as refeições e brincadeiras juntos. Após a utilização de algum dos espaços, ele é higienizado antes de receber outras crianças. 

A entrada também é diferente de antes da pandemia de Covid-19. Os pais deixam as crianças de cada grupo na escola em horários escalonados. Ao chegarem, os alunos trocam de sapato — mas só precisam trocar o restante da roupa se tiverem se deslocado de transporte público. Já os professores trocam de roupa todos os dias na chegada e na saída do colégio.

“Os grupos ficam isolados o tempo inteiro. Pessoas externas não entram e, se tiverem que entrar, por urgência, passam por um processo de higiene, colocam um macacão que cobre até a cabeça, usa máscara, face shield, luva e protetor de pés”, detalha Nunes. Ele também pontua que a comunidade escolar tem acesso a consultas por telemedicina 24 horas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que crianças com menos de cinco anos não devem ser obrigadas a utilizar máscara. O programa segue a recomendação, mas orienta que as crianças maiores de dois anos utilizem o item de segurança no deslocamento entre espaços da escola. 

Na decisão do juiz Rinaldo Kennedy Silva, que autorizou a retomada das 31 insitutições de ensino, ele orienta que elas sigam as regras estabelecidas pela PBH na portaria SMSA/SUS-BH No 0194/2020. A prefeitura lembra, porém, que essa portaria já foi revogada, e afirma que entrará em contato com o juiz a fim de ter esclarecimentos sobre a orientação. O juiz também orienta que as normas desenvolvidas pela Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções (Ameci) sejam observadas. 

Receio

Nesta semana, o professor universitário Rodrigo Bonatti, 43, voltou a mandar os filhos, de dois e seis anos, à escola, para atividades recreativas. “Nossa casa não é mais somente casa, mas local de trabalho e parque de diversão das crianças. Já está uma bagunça”, diz.

Mesmo confiante de que os procedimentos de segurança adotados pela escola sejam eficazes, ele afirma que o receio de que as crianças contraiam Covid-19 no ambiente escolar permanece. “Estamos aprendendo a conviver com o medo. Meus pais e os da minha esposa são idosos e temos medo de nos tornarmos vetores da doença para os mais velhos. Na sexta-feira passada, eu passei pela Savassi à noite e vi bares lotados, com todo mundo bebendo cerveja sem usar máscara. Será que vale a pena sacrificar os pequenos tanto assim e privá-los da socialização em um momento tão importante da vida, enquanto outras pessoas não estão muito preocupadas?”, questiona. 

Outro lado

Em coletiva de imprensa nesta semana, o secretário municipal de Saúde de BH, Jackson Machado, afirmou que todos os protocolos para volta às aulas já estão prontos, mas só serão implementados quando os números da pandemia na cidade permitirem. 

O infectologista Carlos Starling, membro do comitê de enfrentamento da pandemia da PBH, publicou uma pesquisa em que evidencia que o risco de transmissão da Covid-19 em escolas é alto na capital mineira. O levantamento considera parâmetros do Centro de Controle de Doenças de Atlanta (CDC), que considera a taxa de baixa quando há menos de 20 casos da doença por 100 mil habitantes em 14 dias. Em BH, a taxa estava em 162 casos, entre os dias 16 e 29 de setembro. 

Em coletiva de imprensa, o prefeito de BH, Alexandre Kalil (PSD) afirmou que a maior parte da comunidade escolar não deseja o retorno às aulas neste momento. "Chegou uma pesquisa da PBH em que 74% (da população) é contra (a volta às aulas). Eu sou contra a aula. Os pais não querem a volta às aulas. Os professoras, os serventes e os atendentes não querem", disse.