Complexo da Lagoinha

Especialistas de segurança analisam atitude de delegado que matou homem em BH

Anderson Cândido de Melo, de 48 anos, foi morto após briga de trânsito no Viaduto Oeste

Por Vitor Fórneas
Publicado em 26 de julho de 2022 | 21:13
 
 
 
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Após uma briga de trânsito envolvendo um delegado da Polícia Civil de Minas Gerais, que matou o motorista de caminhão reboque Anderson Cândido de Melo, de 48 anos, nesta terça-feora (26), a reportagem de O TEMPO entrevistou especialistas de segurança pública para que eles analisassem o ocorrido no Complexo da Lagoinha, em Belo Horizonte. Os estudiosos concordam que a atitude do delegado - de atirar contra a vítima - não é aceitável, principalmente pelo cargo que ocupa.

O coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais, Cláudio Beato, destaca que a ação do policial é uma clara demonstração de que ele não tem “domínio das técnicas” que um profissional da segurança precisa.

“Aparentemente, o delegado não era tão preparado assim, como se diz. Claramente não tem domínio das técnicas necessárias para agir numa situação dessas”, afirma. Um outro fator que ajuda a entender o ocorrido na tarde desta terça-feira (26), segundo Beato, é o ambiente de estímulo à aquisição de armas pela sociedade.

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“É um pouco do nosso tempo, dessa coisa de ter uma arma fácil. Mesmo em um profissional preparado está sujeito a acontecer isso. Imagina se isso se multiplicar e todos tiverem arma de fogo e resolver a situação dessa forma”, sugere propondo a reflexão.

Casos como o registrado na capital mineira devem fazer com que se pense sobre a preparação dos policiais, conforme destaca Beato. “Os delegados têm preparo mais jurídico pela natureza da função que desenvolvem. É preciso ver como se dá a preparação destes profissionais em vários sentidos: manuseio de arma, técnicas de abordagem e controle emocional”.

Descredibilidade das forças de segurança

Brigas de trânsito, entre vizinhos e as discussões em geral terminam em tragédia no Brasil muitas das vezes. O professor e também especialista em segurança pública Luiz Flávio Sapori alerta que a “imposição da força” para resolver conflitos é reflexo da descredibilidade das instituições de segurança.

“A solução violenta de conflitos banais é mais comum do que imaginamos e é a manifestação de uma sociedade que legitima o uso de violência física para solucionar conflitos. É o que chamamos de anomia moral”, afirma.

Levantamento de O TEMPO mostra que as brigas de trânsito no Brasil registraram, ao menos, 16 ocorrências com morte somente em 2022 em 13 estados da federação. O caso de BH é ainda mais grave, conforme pontua Sapori, por ter sido praticado por um delegado da Polícia Civil.

“Por ele ser um delegado, o crime é ainda mais grave. Ele é um profissional da força de segurança. Não pode usar armas para resolver problemas do cotidiano. Isso precisa ser levado em consideração na denúncia e julgamento”.

Para mudar a realidade, Sapori pontua a necessidade de “diminuir a impunidade”. “Só há uma maneira de diminuir o que temos visto: com a força da lei. Não podemos nos transformar na sociedade da guerra de todos contra todos”, finaliza.

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