Demanda

Fila para procedimentos médicos em BH já chega a 27 mil pessoas

Número inclui consultas, exames cirurgias e procedimentos eletivos da capital e outras 500 cidades; pandemia atrasou acompanhamento de doenças crônicas, como hipertensão

Por Cinthya Oliveira
Publicado em 03 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 
 
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O ano de 2022 vai ser de grande desafio para a gestão na área de saúde, tanto para o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto para a rede privada. Isso porque, além da circulação da variante ômicron, da Influenza e outros vírus, a assistência deve estar preparada para atender a todos os procedimentos médicos que ficaram represados nos anos de 2020 e 2021.

Nessa lista estão consultas e exames de rotina, além de cirurgias e procedimentos eletivos.

Somente em Belo Horizonte, a fila para cirurgias eletivas para residentes na capital e mais de 500 municípios pactuados tem mais de 27 mil nomes. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, são feitas tratativas diárias para a ampliação de vagas para esses procedimentos, processo que ocorre de maneira gradativa.

“O município está revisando a fila de espera considerando a condição clínica dos pacientes. Além disso, está em estudo de viabilidade a adoção de um incentivo financeiro para os prestadores ampliarem a oferta dos procedimentos mais críticos”, afirma a secretaria.

Para o médico Rodrigo Vieira, coordenador do curso de medicina do UniBH, além da demanda pelas cirurgias eletivas, o sistema de saúde vai ter de lidar com a grande demanda de pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, que ficaram sem o acompanhamento adequado ao longo da pandemia.

“As pessoas ficaram atrasadas com seus exames periódicos, de controle de saúde. No sistema público ficou evidente que houve uma piora no controle de doenças como diabetes e pressão alta”, diz. “Existe um grande desafio para gestores de saúde de todos os níveis para não deixar que doenças crônicas se agravem. Eles devem ser eficientes para lidar com essa demanda reprimida”.

O médico afirma que será necessário um pacto entre as esferas de poder público e a rede privada para dar conta da grande demanda. “Todos temos de deixar as rivalidades de lado, as divergências de ordem política, e pensar na saúde. Não há como vencer desafios com decisões baseadas no que as pessoas pensam politicamente. União, Estado, município, público e privado: todo mundo tem que ser mobilizado”, conclui.

Interrupção causada pela pandemia dificultou a detecção do câncer

O represamento dos procedimentos médicos também interfere na área oncológica. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), somente em 2020, cerca de 2.000 casos de câncer de pele deixaram de ser diagnosticados.

A Fundação do Câncer estima que, no primeiro ano da pandemia, tenha havido queda de 84% na realização de mamografias e 50% de papanicolau (exame que detecta câncer no colo de útero) na rede pública, ante o ano anterior, em todo país.

A entidade ainda diz que a pandemia deixou sem diagnósticos cerca de 4.000 casos de câncer de mama em 2020.

Ex-diretor do hospital Mário Penna, Rodrigo Vieira espera que em 2022 os diagnósticos de câncer sejam mais tardios.

“Antes da pandemia as pessoas tinham acesso a exames de forma mais rápida. Infelizmente, vários desses exames não foram feitos em 2020 e 2021, como endoscopia e tomografia. Os pacientes estão chegando à consulta com tumores mais avançados. O grande desafio do SUS é colocar nos trilhos novamente a linha de cuidado com a oncologia, para que o rastreamento do câncer aconteça de forma mais hábil”, afirma. 

Operadoras particulares gastaram R$ 43 bilhões no terceiro trimestre

Na saúde suplementar, a volta dos pacientes aos consultórios começou a impactar orçamento no segundo semestre do ano passado.

De acordo com Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), entidade que representa 15 grupos de operadoras de planos, no terceiro trimestre do ano, as prestadoras pagaram R$ 43 bilhões aos fornecedores – o valor mais alto desde o primeiro trimestre de 2019.

“Esse custo recorde é consequência da inflação da saúde, da incerteza econômica brasileira, mas, sobretudo, pela alta demanda de procedimentos não urgentes”, argumenta a diretora, acrescentando que a expectativa do setor é de um aumento ainda maior no primeiro trimestre de 2022. A taxa de sinistralidade (relação entre as despesas com a utilização dos serviços e a receita que a operadora recebeu pelo contrato) deve chegar a 85%, dez pontos percentuais a mais do que no primeiro trimestre do ano anterior.

Embora os custos das operadoras devam subir neste ano, o setor vai muito bem quando o assunto é crescimento de consumidores.

Número inclui consultas, exames cirurgias e procedimentos eletivos da capital e outras 500 cidadesSomente em Minas, o número de beneficiários na saúde privada cresceu 3,8%, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No país, ainda de acordo com a entidade, houve alta de 2,77% nos planos de assistência média entre os meses de novembro de 2020 e 2021.

 

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