Em 1968, Paulo César Guedes teve o último contato com a sua mãe, quando tinha apenas três meses. Sem nenhuma lembrança da mulher que lhe gerou, a história sobre a separação dos dois é incerta, transitando entre ele sendo arrancado dos braços da mulher ou entregue por ela à uma ama de leite. A única certeza é que tudo aconteceu em Barbacena, cidade do Campo das Vertentes onde o homem vive até os dias de hoje. Passados 54 anos, Paulo luta, agora, para tentar encontrar a mãe ou, ao menos, saber o que aconteceu com ela.
Supostamente filha de escravos e nascida em Paracatu, no Noroeste de Minas Gerais, Marta Maria Narciso teria se mudado para Barbacena na década de 60 em busca de uma vida melhor, passado a trabalhar em uma boate da cidade. Lá, ela teria conhecido o pai de Paulo, Argemiro Guedes, que hoje tem 76 anos e cuja paternidade já foi confirmada por exame de DNA.
Lutando contra uma depressão por conta da vontade de saber o que ocorreu com a mãe, Paulo, que trabalha como pedreiro, procurou nos últimos dias o jornal Sputnik Voz do Povo, que atua na região da cidade natal de sua mãe. Já nesta quarta-feira (21 de junho), ele conversou com a reportagem de O TEMPO, contando um pouco de sua história.
"Fiquei com uma ama de leite, depois fui para uma tia, para a minha avó e, depois, eu me casei e toquei a minha vida. Mas é uma coisa muito complicada, pois cada um fala uma coisa e eu queria saber o que aconteceu afinal. O que dizem é que ela é de Paracatu, que os pais dela eram escravos em Coromandel, mas, como não sei os nomes dos pais dela, temos dificuldade em conseguir saber algo", detalhou.
A esposa de Paulo, Tereza Cristina, de 32 anos, conta que a sogra trabalhava como garota de programa e, quando ela foi levada para a Santa Casa de Barbacena para o parto, o filho acabou sendo retirado de seus braços e ela foi expulsa da cidade.
"Colocaram ela dentro de um ônibus, para voltar para a Paracatu, e ela estava indo com o bebê. Mas eles tomaram ele dela. Até hoje ele chora falando que quer morrer por causa dela, já ficou sete meses na cama, sem conseguir sair por causa da depressão. É o sonho dele encontrar com ela", diz.
Ainda de acordo com a esposa de Paulo, desde que eles começaram a buscar notícias sobre a mulher, a única informação obtida foi de que ela teria sido vista pela última vez há cerca de 5 anos, nas proximidades de um restaurante chamado "Cristal", localizado em Paracatu.
"Um caminhoneiro disse que a viu, que ainda estava fazendo ponto (se prostituindo), e aí ele comentou, perguntou sobre o filho que ela teve em Barbacena e ela confirmou que teve o 'Paulinho', e teria dito que o sonho também é reencontrar ele", completou a esposa de Paulo.
A única informação que se tem sobre o bebê é de que, no dia em que teria sido tomado de Marta, ele era muito pequeno e estaria vestindo uma camisa do Botafogo. "Se alguém tiver alguma informação sobre minha mãe, pode me procurar. Não quero morrer sem conhecer ela", pediu, emocionado, o pedreiro.
Qualquer informação pode ser passada por telefone para Paulo, no número (32) 9 9135-7371.
Procurada pela reportagem de O TEMPO, a delegada Bianca Landau, que é a policial responsável pela Divisão Especializada de Referência da Pessoa Desaparecida, explica que, casos como o de Paulo, não são investigados como desaparecimento, mas, sim, como "encontro de família".
"Se for em Belo Horizonte, basta procurar a nossa delegacia que fazemos um trabalho social neste sentido. Vamos colher um breve relatório do que a pessoa sabe. A partir daí, vamos designar um investigador para tentar fazer essa busca e costumamos ter muito sucesso. Não é um trabalho criminal, mas investigativo", detalha a delegada.
No caso de pessoas que buscam outros familiares no interior de Minas, a orientação da policial é que seja procurada a delegacia local da cidade onde a pessoa vive, para que o procedimento investigativo seja iniciado e as buscas aconteçam.