Alta periculosidade

Homens fardados executaram o traficante Nem Sem Terra, do PCC, no interior de MG

Dupla bateu no portão e informou para a esposa do traficante que estaria ali para verificar se o homem estava cumprindo as medidas impostas pela Justiça

Por José Vítor Camilo
Publicado em 20 de abril de 2024 | 17:00
 
 
 
normal

Homens vestindo uma farda semelhante à usada pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) teriam sido os responsáveis pela execução de Carlos Alexandre da Silva Juscelino, o Nem Sem Terra, de 42 anos, que é considerado um dos maiores traficantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Estado. A informação foi repassada à polícia pela companheira do homem, assassinado a tiros na última sexta-feira (19 de abril), uma semana após obter a liberdade provisória, na cidade de Patrocínio, no Alto Paranaíba. 

No registro feito pela PM, consta que a esposa do traficante, uma mulher de 39 anos, relatou que os dois estavam em casa quando alguém bateu no portão e ela foi até lá para atender. Antes de abrir, ela perguntou quem seria, ouvindo como resposta que se tratava da polícia. Após abrir o portão, ela então se deparou com dois homens vestindo fardas e, com um papel em uma das mãos, um deles disse que eles estariam no local para fiscalizar o "cumprimento das condicionantes impostas pela Justiça" ao seu marido.

Entretanto, ainda conforme o relato da testemunha à PM, assim que entraram no quintal e avistaram Nem, os suspeitos sacaram suas armas e efetuaram vários disparos contra o homem, antes de fugirem enquanto a mulher gritava por socorro.

A perícia da Polícia Civil constatou que o traficante tinha seis perfurações no tórax, entretanto, foram recolhidos no local quatro projéteis e cinco cápsulas de calibre 9 mm.

Ainda conforme o registro policial, a vítima foi identificada como o traficante de "alta periculosidade", conhecido por ser integrante do PCC e comandar o tráfico de drogas no Morro das Pedras, favela localizada na região Oeste de Belo Horizonte. Nem Sem Terra já teria sido preso por tráfico de drogas e homicídio. Líder do tráfico no aglomerado ao longo dos anos 90 e 2000, Nem foi condenado, somando as penas, a mais de 70 anos de prisão. 

A reportagem de O TEMPO procurou a assessoria de imprensa da PMMG e questionou se a corporação fará uma apuração acerca do uso do fardamento pelos assassinos do homem. Até a publicação desta reportagem a polícia ainda não tinha se posicionado.

Câmeras flagraram terceiro suspeito

Ainda de acordo com o Boletim de Ocorrência registrado após a execução de Nem Sem Terra, câmeras de segurança do entorno da casa da vítima mostraram um pouco da dinâmica do crime e poderão auxiliar na investigação do caso.

Imagens mostram o momento em que um carro, não identificado, estaciona em uma rua próxima e os dois indivíduos fardados descem. A dupla segue a pé até o imóvel por cerca de 100 metros, e retorna, também a pé, após cometer o assassinato.

Entretanto, a PM também identificou um terceiro suspeito. O homem estaciona o carro na avenida onde fica a casa da vítima e, aparentemente, monitora o cruzamento até que os disparos acontecem. Com normalidade, após o crime ele retorna para seu veículo e deixa o local fugindo em marcha ré.

A morte do traficante é investigada pela Polícia Civil Minas Gerais (PCMG), que apura as circunstâncias, a motivação e a autoria do assassinato. A polícia pede que toda informação que possa levar à prisão dos autores do crime sejam repassadas à PM pelo 190 ou 181. O denunciante não precisa se identificar.

Quem era Nem Sem Terra

Preso em 2005, o homem era acusado de mais de 20 assassinatos, tortura e tinha pelo menos seis mandados de prisão - quatro por homicídios e dois por tráfico de drogas.

A prisão do traficante ocorreu quando ele, baleado no ombro, tentou ser atendido no Hospital Municipal de Betim, na região metropolitana.

Na época, a Polícia Militar informou que o traficante se feriu durante uma troca de tiros em um confronto entre facções inimigas, que disputavam o controle de tráfico de drogas na Pedreira Prado Lopes.

Em 2007, ele foi condenado pela primeira vez a 44 anos e sete meses de reclusão em regime fechado por dois homicídios qualificados, quatro tentativas de homicídio e formação de quadrilha.

Ele foi acusado de ter atirado, em 10 de fevereiro de 2001, em um grupo de pessoas. Na ocasião, duas pessoas morreram, sendo uma delas uma criança. Outras quatro ficaram feridas. O fato ocorreu nas esquinas das ruas Alice e Brás, no bairro Santa Rita, na região do Barreiro, e teria sido motivado por uma disputa por ponto de tráfico.

Anos depois, ele recebeu novas condenações que, juntas, somam 72 anos e dois meses de prisão. Ele foi enquadrado em mais de dez artigos do código penal.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!