A partir desta terça-feira (11 de julho), vítimas de câncer de laringe que precisaram remover o órgão ganham uma esperança para voltar a se comunicar por meio da fala. Referência em oncologia em Minas Gerais, o hospital Alberto Cavalcanti vai passar a fornecer laringes eletrônicas para pacientes elegíveis. O instrumento será entregue de forma gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O Alberto Cavalcanti será o primeiro hospital público de Minas Gerais a fazer a distribuição gratuita do equipamento. Presente na cerimônia de entrega, a vice-presidente da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e médica oncológica Patrícia Albergaria comemora a conquista e diz que já há um estoque dos equipamentos para os próximos pacientes elegíveis.
“Já adquirimos 20 laringes eletrônicas, vamos distribuir oito agora (entregues na cerimônia) e temos até reserva. É uma política que vai continuar”, garante. Ela também afirma que o número é o suficiente para a demanda que tem do equipamento.
As primeiras entregas foram feitas, na manhã desta terça (11). Oito pacientes foram presenteados com as laringes, durante cerimônia no auditório do hospital Alberto Cavalcanti. A ação integra a campanha Julho Verde, que busca conscientizar e sensibilizar para o câncer de cabeça e pescoço.
A alegria estava estampada no rosto dos oito primeiros pacientes contemplados com a laringe eletrônica. Silenciado desde janeiro de 2021, Hélio Francisco da Costa, de 62 anos, ficou empolgado com a presença da reportagem no local da cerimônia. Ele gesticulou para a equipe de O Tempo, ansioso para dar entrevista.
Ele diz que está muito feliz com a laringe eletrônica e que promete usar bastante o instrumento, inclusive para comemorar os gols do América-MG, time do coração. “Coelhoooo”, vibrou Hélio, já fazendo os primeiros testes no novo aparelho que, a partir de agora, será sua voz.
Irmã de Hélio, a cabeleireira Zuraide Francisco da Costa, de 51 anos, se emocionou durante o evento. Ela relata que o período entre a cirurgia e o recebimento da laringe esofágica foi difícil tanto para ele quanto para a família. “Ele ficava nervoso. Nem sempre a gente conseguia entender as coisas que falava”, relata.
Agora, o sentimento é de alegria. “Só gratidão. Vamos poder nos comunicar mais, antes era só por gestos. Eu já virei uma intérprete. Só tenho a agradecer a Deus e a toda a equipe do hospital. Nós vencemos o câncer”, comemora.
A laringe eletrônica é uma das formas de reabilitar uma pessoa que precisou passar pela remoção total da laringe e das cordas vocais devido ao câncer de laringe. Ela é um aparelho portátil, que funciona com baterias recarregáveis.
De forma resumida, o paciente encosta a ferramenta no pescoço, e a laringe eletrônica emite ondas sonoras contínuas, que se tornam a voz do usuário. O paciente pode articular para controlar o som da voz pela cavidade da boca, transformando os sons em fala. O equipamento pode ser usado alguns dias após o tratamento cirúrgico.
Há alguns requisitos que o paciente precisa cumprir para receber a laringe eletrônica. A fonoaudióloga do hospital Alberto Cavalcanti, Silmara Melgaço, explica que além de ter realizado a laringectomia total – que é a remoção total da laringe e das cordas vocais -, é preciso que ele atenda a outras características.
“O paciente precisa ter uma boa destreza manual, porque ele vai pegar a laringe com as mãos e ele precisa pressionar no pescoço ou na bochecha. Ele precisa pressionar o botão para ter uma boa vibração. E ele precisa ter uma boa motivação para o uso”, detalha Silmara, que também ressalta que é preciso ter uma musculatura adequada na região da cabeça.
“A gente escolhe um ponto em que a musculatura esteja apta a receber esta vibração. É comum depois do tratamento que a gente tenha regiões em que o pescoço esteja mais enrijecido. Então não vamos conseguir uma boa vibração. É uma característica importante”, explica.
Caso o paciente remova totalmente a laringe, mas não atenda a todos os requisitos, de acordo com Silmara, ele é encaminhado a outras formas de reabilitação. “A gente tenta, por exemplo, a voz esofágica (voz expelida com o esôfago), que é um treino que a gente consegue fazer com esse paciente ambulatorialmente. E a gente também tem a prótese tracoesofágica”, esclarece.