Trânsito

Indenização paga por acidente de moto cresce mais em MG do que em SP

Número de pagamentos feitos pelo Dpvat subiu 9,7% em Minas e 3,4% em São Paulo neste ano; dados refletem aumento do risco de acidente diante de frota cada vez maior

Por Clarisse Souza
Publicado em 14 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Era manhã de 7 de agosto quando a corretora Michele Alexia Santos de Souza, 25, recebeu a notícia de que o marido, Alfredo Ribeiro da Silva, 32, havia acabado de morrer em um acidente de trânsito. O assistente de administração de pessoal pilotava uma motocicleta pela avenida Amazonas, no bairro Jardinópolis, na região Oeste de Belo Horizonte, quando foi atingido por um carro que avançou o sinal vermelho durante uma perseguição policial. “Foi desolador, como se eu tivesse perdido minha vida junto”, descreve Michele, um mês depois. 

A morte de Silva – que deixou uma filha de 2 anos e a mulher grávida de oito meses – ajuda a engrossar uma estatística que só cresce em Minas. Dados da Seguradora Líder, administradora do Seguro Dpvat, apontam que o número de indenizações pagas em decorrência de acidentes com motocicletas no Estado saltou de 14.838 entre janeiro e julho de 2019 para 16.286 no mesmo período de 2020, alta de 9,75%.

O percentual de aumento em território mineiro é maior do que o registrado em São Paulo. Embora, em números absolutos, aquele Estado lidere o ranking de indenizações pagas no país em 2020, com 16.569 registros entre janeiro e julho, o crescimento em SP na comparação com o mesmo período de 2019 (16.021) foi de apenas 3,4%. 

Os índices podem reunir acidentes de datas anteriores, uma vez que as vítimas têm até três anos após o sinistro para solicitar a indenização. Mas, para especialistas, os dados do Dpvat sinalizam um aumento da vulnerabilidade de motociclistas no trânsito em Minas, onde a frota ultrapassa os 2,5 milhões de motos – em SP, são 4,8 milhões. “A motocicleta leva seus acidentes a um grau de severidade muito maior porque não existe proteção para o condutor”, observa o professor universitário e especialista em trânsito Márcio Aguiar.

“A culpa não é da moto. Meu marido estava na via correta, na velocidade da via. Mas estar de moto contribuiu, sim (para a morte), o corpo dele foi o ‘para-choque’”, disse Michele, que perdeu o marido no acidente.

O número de acidentados, aliás, pode ser muito maior, já que muitos condutores desistem de acionar o seguro. É o caso do vidraceiro David Alessandro dos Santos, 37. Atingido por um carro na região do Barreiro em fevereiro deste ano, ele preferiu assumir os custos do tratamento médico a ter de lidar com a burocracia para acionar o seguro. “Preferi deixar para lá”, conta o motociclista, que levou seis pontos no pé e precisou se ausentar da vidraçaria por 15 dias, o que provocou prejuízo de R$ 2.000.

O aumento de entregadores nas ruas durante a pandemia para atender a demanda por serviços de delivery pode ter contribuído para elevar o número de indenizações pagas por acidentes envolvendo motocicletas em Minas.

“Isso, somado à redução da circulação de automóveis, deixou as vias mais desobstruídas, favorecendo a imprudência e excesso de velocidade (por parte dos motociclistas), o que interferiu na gravidade dos acidentes com moto”, pontua Alysson Coimbra, diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra).

Em apenas três meses como entregador de comida, o motociclista Pedro Henrique Santos, 20, já sentiu na pele o que é cair de moto durante o trabalho. “O povo não dá seta, não segue as regras. Acaba que ninguém respeita a motocicleta”, reclama. 

 

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