PERIGO

K9 invade as cadeias: sistema prisional é porta de entrada da droga em MG

Em São Paulo, após se espalhar dentro dos presídios, canabinoides sintéticos foram para as ruas e saíram de controle

Por Clarisse Souza
Publicado em 12 de maio de 2023 | 03:00
 
 
 
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Antes de se popularizar entre usuários das cracolândias de São Paulo, a K9 se espalhou pelas cadeias daquele Estado e se mostrou capaz de driblar com facilidade as revistas e equipamentos de raio-x das prisões. O mesmo movimento traçado pela droga na capital paulista é observado em Minas Gerais.

O perito criminal Pablo Marinho, do Instituto de Criminalística da Polícia Civil de Minas, confirma que a maioria dos canabinoides sintéticos, como K2, K4 e K9, que chegam ao laboratório da corporação, são fruto “de apreensões nas unidades prisionais” – a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) não tem dados específicos de apreensões do entorpecente.

Por ser incolor e sem cheiro, ela é praticamente imperceptível a olho nu quando borrifada em pedaços de papel. São essas características que fazem dela uma droga discreta, que escapa fácil aos atuais processos de segurança das penitenciárias. “É facílimo de entrar com K4 e K9 no presídio. A droga é um pedaço de papel. Se um servidor corrupto quiser entrar com ela na carteira, por exemplo, consegue. É fácil burlar o sistema”, garante uma fonte ligada ao sistema prisional em Minas.

Entrada. Em Contagem, na região metropolitana de BH, por exemplo, a droga já foi encontrada até em selos de correspondências endereçadas aos presos da Penitenciária Nelson Hungria, conforme relata uma fonte de dentro da unidade. Outra amostra foi localizada em papéis escondidos dentro de um absorvente íntimo usado por uma visitante.

O vice-presidente do Sindicato dos Policiais Penais de Minas Gerais (Sindppen), Wladmir Dantas, afirma que, apesar da proliferação de “drogas K” entre presidiários, a categoria ainda não recebeu treinamento para identificar a substância. “Isso fragiliza toda a segurança das unidades”, alerta.

Por meio de nota, a Sejusp informou que “há procedimentos operacionais voltados para a atuação diária dos profissionais, que inclui o reconhecimento de drogas como as da família ‘K’”. 

Baixo custo e efeito alucinógeno fazem droga se espalhar

À frente do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico de São Paulo (Denarc-SP), o delegado Carlos César Castiglioni confirma que a trajetória da K9 em Minas Gerais é muito semelhante à traçada no Estado vizinho. Por esse motivo, o policial acredita que pode ser “só uma questão de tempo” para que a droga se alastre pelas ruas da capital mineira, assim como ocorreu em SP.

Castiglioni ressalta que, em São Paulo, “as drogas K” se popularizaram pelo baixo custo – entre R$ 5 e R$ 10 por pino ou selo – e alto poder alucinógeno. Por isso, o consumo atingiu em cheio a cracolândia, ponto onde se concentram pessoas em extrema vulnerabilidade, muitas em situação de rua e com vício em substâncias pesadas e baratas, como o crack.

Para frear o avanço das “drogas K”, o chefe do Denarc-SP diz que é preciso focar no combate aos centros de distribuição da droga. “É um trabalho que estamos fazendo por aqui”, explica.

De olho em SP

Alerta. Embora defenda que o uso da K9 em Minas está concentrado nas cadeias, o perito criminal da Polícia Civil de Minas Gerais Pablo Marinho afirma que a corporação está “em alerta” e acompanha a mudança de perfil dos usuários de São Paulo. “Pode ser que isso se torne uma realidade para nosso Estado”. 

Sejusp diz que fiscaliza

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG) declarou, em nota, que coíbe diariamente, por meio da atuação de policiais penais, a tentativa de entrada de substâncias ilícitas nas unidades prisionais de Minas. O órgão, entretanto, não tem dados específicos sobre as “drogas K”.

Alerta

A entrada das “drogas K” nas cadeias estaria provocando aumento do número de atendimentos médicos entre a população carcerária – a Sejusp não confirma. Detentos estariam sofrendo convulsões e até paradas cardíacas, afirma fonte ouvida pelo Super Notícia

Denarc. O Super Notícia pediu entrevista com o delegado responsável pelo Denarc-MG sobre as ações de combate à K9, mas o pedido foi negado pela Polícia Civil. 

Federais. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que não houve apreensão da K9 nas BRs de Minas. A Polícia Federal não havia se manifestado até o fechamento desta edição.

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