Se, por um lado, as escolas se valem de estratégias variadas para que sua nota média no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tenha valor mercadológico, por outro, o ranking é importante para que sociedade e governo possam acompanhar e propor políticas públicas de melhorias no sistema de ensino. Mas como resolver, então, o impasse entre a necessidade de divulgação e o abuso ético nos resultados?
Na avaliação do sociólogo Mateus Prado, que se especializou em análises do Enem, a resposta passa pela experiência já feita no ensino superior. Alunos de graduação são avaliados no primeiro e no último ano do curso por meio do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), possibilitando uma comparação do tanto que a instituição de ensino contribuiu para a evolução dos estudantes. “Poderiam replicar essa política de uma prova antes e outra depois no Enem, para verificar o crescimento do desempenho dos alunos”, sugere.
Prado pondera que esse outro exame precisaria ser tão forte e indutor como o Enem e ser realizado ao fim do nono ano do ensino fundamental ou no início do primeiro ano do ensino médio, para que fosse possível fazer a medição do quanto a escola agregou a cada aluno naquele período.
Procurado pela reportagem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou, via assessoria, que a avaliação do ensino fundamental é feita por meio do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e que “não cogita nenhuma nova avaliação”.
Deseducação. Segundo o especialista, a forma como o ranking é feito hoje “deseduca”. “Apesar de ter virado quase o maior vestibular do mundo, o Enem tem induzido poucas mudanças no ensino médio, o que poderia ser feito se ele fosse divulgado de outra forma”, afirma Prado. Priorizando o treinamento conteudista, muitas escolas estariam deixando de lado atividades de formação importantes, como socioambientais, socioeducativas e educação de valores.