Terremoto

Mãe não tem contato com mineira no Nepal desde sábado

Comerciante de Belo Horizonte recebeu último telefonema da filha Simone Nascimento Antonio na manhã de sábado e, desde então, não teve mais notícias

Por Litza Mattos
Publicado em 27 de abril de 2015 | 19:38
 
 
 
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A angústia e a preocupação da comerciante de Belo Horizonte Sylvia Nascimento Antonio parecem aumentar a cada minuto sem contato com a filha. Já são mais de 48 horas desde que estilista mineira, Simone Nascimento Antônio, de 38 anos, fez um rápido telefonema para tranquilizar a família, no último sábado por volta das 11h da manhã (horário do Brasil). "Ela me deu um telefonema rápido e disse: ‘Mãe, só quero te falar que estou viva. Houve um terremoto que destruiu muita coisa, mas estou viva’", contou a mãe, que disse ter pedido para a filha voltar a ligar.

Segundo Sylvia, depois que o tremor secundário de magnitude 6,7 atingiu o Nepal, no domingo, ela perdeu completamente o contato com a filha. "Entramos em contato com a embaixada (brasileira) em Katmandu e tivemos a resposta de que eles estão procurando em hotéis, pousadas e vários locais, mas que até o momento não tiveram nenhuma posição. Um grupo que também está dando assistência lá e já conseguiu encontrar várias pessoa, nos informou que ainda tinha três brasileiros desaparecidos e que um deles era a minha filha", contou Sylvia.

A comerciante disse à reportagem de O TEMPO que a filha estava no país havia duas semanas e planejava voltar ao Brasil em dez dias. "No final da semana passada ela tinha se mudado para um novo hotel porque achou a construção melhor, mais nova e mais confortável, mas não cheguei pegar o endereço", diz.

Leia entrevista com Sylvia Nascimento Antonio:

O TEMPO - Quando sua filha fez o último contato por telefone, no sábado, como ela estava?

Sylvia - Ela estava muito agoniada, em choque, porque alguns colegas estavam feridos, um tinha quebrado a perna e ela precisava ajudar. Disse que na hora do terremoto só teve tempo de sair correndo e que amigos jogaram um casaco em cima dela. Ela disse que estava socorrendo uma criança de três anos que estava cheia de poeira de 3 anos nos braços e que ia aproveitar que ainda tinha internet para tranquilizar alguns amigos assustados que sabiam que ela estava no Nepal.

O TEMPO - A senhora não acha que ela pode estar ajudando essas pessoas?

Sylvia - Ela pode estar envolvida ajudando, mas a minha preocupação é porque ela sabe como estou aqui, sabe que estou agoniada, ainda mais depois do segundo terremoto. O que me preocupa é que a Simone tem muito expediente. Ela já morou na Inglaterra, se formou na Itália, então ela sabe da preocupação que eu tenho com ela. Por isso, acredito que ela ia dar um jeito de arranjar como se comunicar. Ela já teria ido até a Embaixada de qualquer maneira para pedir para mandarem um recado para o Brasil, passar meu telefone e falar que está bem.

O TEMPO - O que ela te contava da viagem?

Sylvia - Tem pouco tempo que ela foi. Ela estava na Índia e de lá foi para o Nepal. Ela adora os templos e como ela é estilista, ela estava pensando em fazer confecção lá. Ela foi sozinha para o Nepal, mas ela conhecia algumas pessoas de lá. Ela fala várias línguas e tinha contato com várias pessoas de lá.

O TEMPO - Conhecer o país era um sonho dela?

Sylvia - Sim. Ela estava apaixonada com os templos, a meditação, deslumbrada com tudo isso. Era um sonho dela conhecer o país. Ela tinha me dito que ia voltar outra pessoa, muito melhor do que foi.

O TEMPO - Você pensa em ir pra lá?

Sylvia - Não tem como ir. A única coisa que posso fazer é esperar, e esperar que as pessoas entrem em contato. Minha esperança agora é só orar e aguardar, porque tudo que tinha que ser feito já fizemos.

Itamaraty

A reportagem entrou em contato com o Itamaray para confirmar o nome da mineira entre os desaparecidos, mas recebeu uma nota do órgão dizendo que, "protegendo a privacidade e a intimidade dos brasileiros e de suas famílias, não temos autorização para divulgar nomes nesse caso" e que "não há, até o momento, informação sobre a presença de brasileiros entre as vítimas fatais".

O texto enviado pela assessoria de imprensa o órgão informou ainda que "a Embaixada do Brasil em Katmandu segue mobilizada para prestar o apoio necessário aos cidadãos brasileiros que se encontram no país".

Até o momento, o Ministério das Relações Exteriores recebeu informações sobre 113 brasileiros já localizados que estavam no Nepal durante o terremoto. Esses não sofreram ferimentos, estão recebendo toda a assistência consular e, um centro de atendimento a brasileiros foi montado no aeroporto da capital. Ao todo, 157 brasileiros estão no país, segundo número atualizado na noite desta segunda-feira pelo Itamaraty.

O Itamaraty também sugeriu que a familiares de brasileiros desaparecidos entrem em contato com o Núcleo de Assistência a Brasileiros, pelos telefones disponibilizados no site do Ministério e ressaltou que o colapso das comunicações no país pode dificultar o contato.

Estilista deixa mensagem

A última mensagem publicada por Simone, em seu perfil em uma rede social também foi no sábado. "Meus amores. I am good. Just strong terremoto, my hands still shaking. Loads of love and buena onda to Katmandou. (Estou bem. Apenas um forte terremoto, minhas mãos ainda estão tremendo. Muito amor e boas vibrações para Katmandu) Gracias. Tô viva queridos. Tá tudo bem. Um terremoto como esse só mostra como nós, seres humanos, somos tão frágeis. Muito respeito pela Mamma, gritando para poder respirar", escreveu a estilista, que não respondeu aos comentários de amigos e familiares.

Atualizada às 20h49

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