O marco dos seis anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central do Estado, que deixou 19 mortos e danos irreparáveis ao meio ambiente e às comunidades afetadas pela lama reuniu mais uma vez, na manhã desta sexta-feira (5), os atingidos pela tragédia. Eles se concentraram por volta das 11h na praça Minas Gerais.
Com bandeiras, cartazes e um carro de som eles entoavam cantos e frases que passavam uma mensagem principal: que a tragédia não pode ser esquecida. Mesmo depois de seis anos, os moradores das três comunidades mais atingidas pela lama ainda não conseguiram dormir em paz, já que os distritos ainda não foram totalmente reconstruídos.
Em Bento Rodrigues, até o momento, apenas dez das 205 moradias previstas para serem reconstruídas estão finalizadas. Em Paracatu de Baixo nenhuma das 64 casas estão prontas e em Gesteira o projeto de reassentamento de nove famílias ainda tramita na Justiça.
Angústia que fica perceptível no rosto do aposentado Jerônimo Batista. Casado e pai de oito filhos, ele afirma que desde a tragédia tem morado em Mariana, assim como os outros antingidos, mas sonha em um dia poder voltar para Paracatu de Baixo e ter de novo a vida tranquila da “roça”.
“Já morreu muita gente com depressão. Eu perdi a minha mãe tem dois anos. A minha mãe só falava em voltar para Paracatu e várias pessoas também que eu conheci que só falavam em voltar para lá. Para empresas tão grandes isso é uma vergonha. O pessoal está sofrendo e até agora nada está pronto”, lamenta o aposentado.
Em meio a essa angústia, Jerônimo afirma que os prazos nunca são respeitados e cobra uma posição mais firme da Justiça para o caso.
“A Justiça precisa estar mais em cima e dar uma força maior para a população. A Justiça brasileira anda muito fraca a esse respeito. Eles dão um prazo de entrega e não adianta, eles vão jogando para frente. As empresas tinham que ser multadas”, disse.
Mobilização
A mobilização desta sexta-feira (5) foi organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e contou com o apoio de outros movimentos e entidades. A integrante do MAB, Letícia Oliveira ressalta que a tragédia não pode cair no esquecimento e que muito pouco foi feito para os atingidos.
“Esse é um ato principalmente por conta da demora na entrega dos reassentamentos. As pessoas estão falecendo e não conseguem voltar para as comunidades. Seis anos depois é um absurdo não termos nenhuma casa pronta em Paracatu de Baixo, em
Gesteira e apenas dez em Bento Rodrigues e não há prazo para que essas comunidades sejam finalizadas”, pontuou.
Além de Mariana, o MAB explica que outro protesto em Governador Valadares, na região do Rio Doce também ocorreu na manhã desta sexta-feira. Ainda pela manhã, integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) protestaram em frente a sede da Samarco, também em Mariana, por conta dos seis anos da tragédia. Os manifestante chegaram a fechar completamente a MG-129, rodovia importante que corta a cidade.
Parentes de vítimas de Brumadinho reforçam pedido por justiça
Exibindo uma bandeira com a foto do filho morto após o rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro de 2019, a vice presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), Andressa Rodrigues explica que os atingidos em Brumadinho também decidiram apoiar o movimento de hoje.
“Nós viemos aqui hoje para trazer também o nosso grito de Justiça, a nossa solidariedade pela não repetição desse crime que matou aqui 19 jóias e em Brumadinho matou 270. A nossa luta é por Justiça, para que haja condenação criminal exemplar”, destaca.
Ela conta que o filho único, Bruno Rodrigues, 26, trabalhava como operador de processamento na Vale. No dia do rompimento da barragem ela ainda se lembra da última conversa que teve com ele.
“A Vale o matou e junto o meu coração. Naquele dia eu conversei com ele pela manhã. A última lembrança que tenho é dele falando: ‘até daqui a pouco mãe’. O até daqui a pouco eu sei que vai demorar um pouquinho, mas creio que vou encontrá-lo e o daqui a pouco vai chegar”, disse.