Veneza

'Mataram um inocente', diz mãe de morto em ação policial em Ribeirão das Neves

Boletim de ocorrência aponta que o filho dela, Jefferson Guilherme da Costa Santos, 20, estaria envolvido em uma troca de tiros com Policias, versão que Nelzi Rodrigues contesta

Por Bruno Menezes
Publicado em 01 de agosto de 2021 | 21:13
 
 
 
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“Agora eu vou lutar para limpar o nome do meu filho”. A declaração é da contadora Nelzi Rodrigues dos Santos, 49, que perdeu o filho, Jefferson Guilherme da Costa Santos, 20, durante uma ação policial no bairro Veneza, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, na última quarta-feira (28). Ela afirma que pretende processar o Estado pela morte do filho.

O caso foi noticiado por O TEMPO. De acordo com o boletim de ocorrência feito pela Polícia Militar, Jefferson e outro homem, de 26 anos, teriam recebido os policiais no bairro com tiros. Os militares relataram que chegaram a pedir que eles abaixassem as armas, ordem que não teria sido acatada e o tiroteio persistiu, até os dois serem baleados, não resistirem aos ferimentos e morrerem. O boletim ainda relata que os dois pertenceriam a uma organização criminosa, especializada no tráfico de drogas e que eles já teriam trocado tiros em policiais no Espírito Santo, no dia 25 de junho.

A versão é contestada por Nelzi Rodrigues que diz que Jefferson, seu filho adotivo, nunca se envolveu com o crime, não conhecia o outro rapaz morto na ação policial e era trabalhador. “No dia 25 de junho, no dia que teve a troca de tiros no Espírito Santo, a gente estava na missa de sétimo dia do meu marido que faleceu no dia 19 de junho. Meu filho não é bandido, não participa de facção criminosa, não é nada disso. Ele trabalhava a noite, de carteira assinada, tem ponto que comprova onde ele estava todas essas datas”, disse.

No dia em que Jefferson e o outro rapaz foram mortos, Nelzi estava trabalhando fora. Ela disse que foi avisada pela filha mais nova de um tiroteio no bairro e que Jefferson havia saído de casa há poucos minutos. “Ele tinha o hábito de ficar sentado aqui na rua. Ele estava no passeio esperando um colega e não era o outro rapaz. Ele abriu o portão para uma garotinha de oito anos entrar no conjunto de casas, ela disse isso. Ela contou que quando ele fechou o portão, ele já tomou o primeiro tiro. A polícia já entrou atirando. Nenhum vizinho confirma que teve troca de tiros aqui. Eles vieram pra matar, mas infelizmente ele estava na frente do bandido”, disse.

Nelzi relata que além dos tiros, o corpo do filho também tinha sinais de violência. “Não só mataram ele, porque ele estava com o nariz quebrado, cheio de hematomas no rosto e as mãos esfoladas, como se tivessem pisado nelas. Eles podem ter matado um bandido na ação, mas também mataram um inocente junto com ele”, disse.

Hospital

Após desconfiar que o filho adotivo teria se ferido na ação policial, Nelzi Rodrigues foi até o hospital para onde ele teria sido levado, para tentar obter notícias dele. No local, ela descobriu que ele estava morto. “Ficamos lá quase duas horas sem informação no hospital. Fiz um escândalo e a diretora me levou até o necrotério. Eu o achei no necrotério, morto e com os olhos ainda abertos. Eu estava cheia de ódio no coração nesse momento, nem chorar eu consegui”, relatou.

Jefferson havia completado 20 anos no dia 21 de julho. A mãe adotiva diz que decidiu criá-lo quando ele ainda tinha um ano de idade e mãe biológica veio a falecer. Após o episódio, Nelzi Rodrigues afirma que vai processar o Estado. “Eu vou entrar contra o Estado na Justiça. Com certeza. Porque não dá pras coisas continuarem desse jeito”, finaliza.

O que a PM diz

Em nota enviada à reportagem, a PM informou que a corregedoria acompanha os fatos. Disse também que, "após monitoramento e confirmação de que um autor de atentado contra policiais militares no Estado do Espírito Santo e possuidor de mandado de prisão em aberto, estaria homiziado na cidade de Ribeirão das Neves, foi realizada diligência no endereço desse e, no local, o referido autor, com outro homem, portavam armas de fogo e resistiram a abordagem, disparando contra os policiais militares".

A nota prossegue informando que, "para revidar a injusta agressão e resguardar suas vidas, os militares efetuaram disparos, atingindo os suspeitos. Após cessar a agressão contra os policiais, os autores foram socorridos, sendo suas armas de fogo e algumas cápsulas deflagradas apreendidas. No local, ainda foram localizadas drogas, munições e outros objetos ilícitos, além de ser realizada a prisão de mais uma integrante da quadrilha".

Atualizada às 11h35 de 2 de agosto

 

 

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