Protesto

Médicos paralisam trabalho em ato contra atraso salarial do Estado

Médicos se queixam do parcelamento dos benefícios e do atraso, além do sucateamento das condições de trabalho

Por Pedro Ferreira e Danielle Torres
Publicado em 09 de novembro de 2017 | 16:38
 
 
 
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Funcionários da saúde do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) e de outras unidades da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) cruzaram os braços nesta quinta-feira em protesto contra o parcelamento e o atraso dos salários pelo governo do Estado e a falta de estrutura e o sucateamento das unidades. Segundo os manifestantes, as equipes estão desfalcadas e o atendimento à população está comprometido.

Segundo os médicos, o papel do HPS na rede Fhemig deve ser revisto, pois o hospital, que é referência no atendimento de emergências traumáticas e de queimados, virou uma grande Unidade de Pronto Atendimento (UPA), reclamam. A reestruturação das condições físicas do hospital deve ser urgente, disseram.

Os médicos reclamam que não têm nem banheiro decente para usar no HPS, que há um cobertor em volta do vaso sanitário para conter o vazamento, e que faltam leitos e condições adequadas para a população.

Também reclamam da falta de materiais no Hospital Maria Amélia Lins e que não há manutenção nos aparelhos e instrumentos usados em cirurgia. Ainda no Amélia Lins, segundo a denúncia, há infiltração na sala de conforto médico e o banheiro necessita ser desentupido todos os dias, mesmo com o uso correto.

Na maternidade Odete Valadares, a reclamação é que falta roupas de cama, monitores, “foco” na sala de cirurgia, entre outros problemas. Os vazamentos e os entupimentos também são comuns devido a problemas hidráulicos, protestam.

De acordo com o diretor de campanha do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed), Arthur Mendes, o objetivo da manifestação foi denunciar o caos dentro das unidades da Fhemig. “As unidades estão sucateadas há anos. Falta material e, agora, a gota d'água é o desrespeito em relação aos profissionais por parte da gestão. Os salários estão escalonados, os atrasos vem acontecendo. Começa a ficar impraticável manter o serviço. O que existe é muito dinheiro sobrando para propaganda, mas para resolver os problemas, ele não aparece. Médico também têm família, têm conta para pagar e o governo tem conseguido pagar as contas daquilo que ele tem feito, que é propaganda às vésperas de uma eleição”, reagiu o diretor do Sinmed. Segundo ele, não há nenhuma garantia de pagamento do décimo terceiro salário. “Contamos com profissionais de ponta, capacitados, mas que não encontram condições para exercer a profissão”, reclama.

Segundo Arthur, os atendimentos de urgência e de emergência foram mantidos nas unidades de saúde durante o protesto, conforme prerrogativas do Código de Ética Médica, segundo ele. “Os colegas permanecem nas unidades atendendo os casos graves”, ressaltou.

A técnica em enfermagem do HPS, Mariângela Martins Ferreira, de 46 anos, também cruzou os braços. Segundo ela, está difícil sobreviver com um salário baixo e ainda por cima, parcelado. “O salário não aumenta, está dividido em duas ou três vezes e a situação está cada vez pior. Em alguns setores, as escalas estão todas reduzidas e eles não aumentam os funcionários. Nós estamos lutando pelos nossos direitos, de aumento de salário e de receber o décimo terceiro que o governo não está querendo pagar. A gente se endivida no cartão de crédito, vira aquela bola de neve, atrasa as contas, tudo, e o nome vai para o SPC”, reclama Miriângela.

Outra técnica de enfermagem do HPS, Maria Adriana Ferreira, de 54, denuncia que o governo está descontando em seu salário o empréstimo consignado que ela fez, mas que não está repassando o banco. “O governo está descontando no meu pagamento, mas está repassando para o banco. E o banco fica mandando carta falando que está levando o meu nome para o SPC porque é uma dívida que eu estou pagando. Não tenho culpa disso”, lamenta.

A diretora da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais em Belo Horizonte (Asthemg), Juliana de Alcântara Moreira Pereira, disse que reivindicam nada mais além das suas garantias. “Aumento anual, garantia do decimo terceiro e o pagamento em dia. O HPS precisa de um investimento muito grande, o que tem sido feito é ínfimo perto da realidade . A situação de outros hospital está igual. O atendimento tem sido feito graças aos funcionários, que pensam primeiro no paciente”, afirmou Juliana.

Do HPS, os manifestantes seguiram em caminhada para a Praça da Liberdade, onde protestaram em frente à antiga sede do governo de Minas. Depois, foram em passeata para a praça da Assembleia Legislativa.

Reuniões

Segundo o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Jackson Machado Pinto, estão acontecendo reuniões para um ajuste de contas entre município e Estado, mas não há previsão de pagamento.

Em reunião realizada na noite desta quinta, no Sindicato dos Médicos, ficou definido que nesse primeiro momento não haverá mais paralisação. O sindicato já enviou as pautas relativas aos problemas de cada unidade ao Governo e espera que até o dia 20 obtenha retorno sobre as reivindicações da categoria. Segundo o sindicato, nos próximos dias as unidades farão assembleias internas para definir como irão agir.

A Fhemig foi procurada pela reportagem e informou, por meio de uma nota, que apesar das dificultadas financeiras, o governo de Minas vem "mantendo o repasse para custeio das unidade assistenciais da Fhemig". Com isso, a fundação espera que em um curto espaço de tempo se regularize o repasse dos pagamentos da Prefeitura de BH para o órgão. Confira a nota na íntegra: 

"Apesar das dificuldades financeiras, o Governo de Minas Gerais vem mantendo o repasse para custeio das unidades assistenciais da Fhemig e espera-se que em curto espaço de tempo se regularize o repasse dos pagamentos da Prefeitura de Belo Horizonte para a Fhemig.  Estamos promovendo melhorias nas instalações do HPS João XXIII, com ações de manutenção e compra de equipamentos, como monitores e um novo tomógrafo. Também estão sendo realizados investimentos  no Hospital Infantil João Paulo II, na Maternidade Odete Valadares  e outras unidades da Rede.
A Fhemig tem envidado todos os esforços possíveis para assegurar condições ideais de trabalho aos servidores e a melhor assistência ao usuário no âmbito das suas unidades hospitalares. 

Quanto ao funcionamento do João XXIII, não é correto que seja comparado a uma UPA,  já que  o município de Belo Horizonte organizou sua rede de urgência e emergência baseado em UPAs como porta de entrada e hospitais de referência como retaguarda sendo um deles o João XXIII.  Estes hospitais de retaguarda  tem responsabilidades assistenciais definidas na grade de urgência. O João XXIII tem equipe altamente especializada em cirurgia do trauma, sendo a principal referencia em  intoxicações graves, grandes queimados e grandes traumas"

Atualizada às 22h16

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