Entenda

Médicos que atestaram morte de Lorenza são denunciados por falsidade ideológica

O médico Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso, do Mater Dei, foi duplamente denunciado pelo crime de falsidade ideológica, e a pena de prisão varia de um a cinco anos: entenda o porquê

Por Alice Brito e Lara Alves
Publicado em 30 de abril de 2021 | 18:50
 
 
 
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Fora a acusação contra o promotor André Luis Garcia de Pinho, 51, pelo assassinato da própria mulher, Lorenza Maria Silva de Pinho, 41, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também decidiu denunciar os médicos Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso e Alexandre Campos, que assinaram o atestado de óbito da vítima, pelos crimes de falsidade ideológica.

Leia mais: Entenda como o promotor André de Pinho matou Lorenza, segundo hipótese do MP

À tarde de sexta-feira (30), o procurador-geral Jarbas Soares Júnior, à frente da investigação do crime, declarou que Itamar será duplamente indiciado por falsidade ideológica. Por outro lado, a acusação contra a Alexandre Campos será única. Segundo o Código Penal, o crime prevê pena de prisão de um a cinco anos.

Entenda o porquê

O crime de falsidade ideológica é caracterizado pela omissão em documento público ou particular de declaração que nele deveria constar ou pela inserção de declaração falsa. A equipe técnica do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) entendeu, em seu parecer, que os médicos Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso e Alexandre Campos mentiram no atestado de óbito de Lorenza Maria Silva de Pinho. O documento assinado pelos dois indicava como causa primeira da morte autointoxicação. Além dessa acusação, recai também sobre Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso uma segunda denúncia igualmente por falsidade ideológica – segundo o MP, ele teria mentido sobre o estado de saúde da paciente.

Hospital Mater Dei

Informações coletadas no início da investigação realizada em parceria entre o Ministério Público e a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) revelavam que André, segundo relato dele, teria ligado para o Hospital Mater Dei e solicitado uma ambulância para atendimento de Lorenza no apartamento da família Pinho, no bairro Buritis. Enviado pela unidade de saúde, o plantonista Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso teria feito manobras de ressuscitação e intubação em Lorenza por cerca de meia hora. Logo depois, ele atestou o óbito por autointoxicação e indicou que Lorenza teria se engasgado. O médico, que é clínico geral da emergência do Mater Dei, foi ouvido pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em 19 de abril.

A reportagem indagou a assessoria do Hospital Mater Dei se a unidade irá se posicionar sobre o assunto, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria, que será atualizada tão logo houver resposta. Equipe de advogadas de Itamar também é procurada. 

Assassinada por intoxicação e asfixia

O laudo pericial do Instituto Médico Legal (IML) foi uma entre as provas coletadas pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para oferecer à Justiça a denúncia do promotor André Luis Garcia de Pinho pelo crime de feminicídio. Horas e minutos que antecederam o assassinato de Lorenza foram registrados por imagens de câmeras de segurança analisadas por peritos e investigadores no transcorrer do último mês, desde que foi montada a equipe que comandaria a apuração da morte suspeita da mulher. Cem horas de gravação foram essenciais para detalhar o que aconteceu no apartamento da família Pinho no dia em que Lorenza foi morta.

De acordo com o Ministério Público, às vésperas de matar a mulher, o promotor André de Pinho foi ao supermercado para adquirir dois litros de aguardente. Feita a compra, ele retornou para o apartamento no bairro Buritis. A hipótese do órgão é que, no imóvel, André garantiu que Lorenza ingerisse meio litro da bebida alcoólica – informação que foi confirmada pelo promotor em depoimento à Procuradoria-Geral, em Belo Horizonte. Com a mulher embriagada, o marido administrou nela adesivos de medicação antidepressiva – a orientação médica prescrevia para Lorenza dez miligramas do remédio; no dia do óbito, André forneceu quarenta a ela, o quádruplo da quantidade devida. Foi pela combinação que o laudo da perícia indicou intoxicação exógena.

Apesar dos esforços do promotor para matá-la, Lorenza não foi a óbito com a mistura de bebida e medicação. Então, percebendo que a mulher não morreria, André teria entrado, segundo a hipótese traçada pelo MP, em briga corporal com ela. Indícios do material genético de André foram encontrados sob as unhas de Lorenza; como também, a perícia detectou lesões na parte inferior da cabeça dela, e que são típicas de quando a vítima tenta sobreviver às agressões. Ele, por fim, optou pela asfixia mecânica, cobrindo boca e nariz dela.

Detido em regime de prisão provisória desde 4 de abril, o promotor André de Pinho permanecerá encarcerado, segundo confirmou o Ministério Público na tarde de sexta-feira (30). A provisória será convertida em detenção temporária. Equipe de advogados à frente da defesa de Pinho disseram que vão pedir a impugnação do laudo usado pelo MP. 

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