Terceirizados

Medo agora é do desemprego 

MPT tenta acordo com a Samarco para evitar que 2.400 trabalhadores sejam demitidos

Por jhonny cazetta / juliana baeta
Publicado em 20 de novembro de 2015 | 04:00
 
 
 
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Mariana. Desde o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central Minas, no último dia 5, o operador de máquinas de uma empresa terceirizada da mineradora Samarco mal consegue dormir. Voluntário na ajuda às vítimas do desastre, ele vive o medo de não saber se terá de volta o emprego, uma vez que está de licença remunerada.

Ele não está sozinho nessa angústia. De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Samarco possui ao menos 2.400 funcionários terceirizados – quase a mesma quantidade de seus 2.860 trabalhadores contratados. Os números – repassados ao MPT em uma reunião nesta quinta entre o órgão e representantes da Samarco e da Vale – preocupam o órgão, que tenta um acordo com a mineradora para evitar uma demissão em massa.

“A empresa que eu trabalho teve o contrato cancelado, e o burburinho é que vão mandar todo mundo embora. Só nós, somos quase 200 funcionários. Com o trabalho voluntário, tenho acompanhado de perto o sofrimento de todos aqueles que perderam casas e amigos. Não sei se amanhã vou ter dinheiro para comprar comida para os meus filhos”, contou o sondador, que pediu para não ser identificado.

Se a maioria teme pela demissão, ao menos 89 terceirizados já teriam tido baixa na carteira durante essa semana, segundo a Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT-MG). Esse é o caso da técnica de segurança do trabalho Raquel Carneiro, 32, que atuava na unidade operacional de Germano.

“Eu acompanhava as atividades em campo e fazia as inspeções de segurança. Eu tinha um contrato temporário, e a previsão era de terminar em fevereiro, mas já fui dispensada. Tive um pequeno acerto que só deu para pagar as contas deste mês. Não sei como vou fazer”, lamentou a mulher, que também teve a casa destruída pela lama em Paracatu de Baixo.

Reunião. Para tentar evitar o problema dos funcionários terceirizados, o MPT começou nesta quinta uma série de reuniões com as empresas, sindicatos e funcionários. A proposta do procurador Geraldo Emediato de Souza é que, em dez dias, ocorra um acordo entre as partes, com o restabelecimento dos contratos da Samarco com as empresas terceirizadas para um período mínimo de readequação de 180 dias a partir do retorno das atividades da empresa.

“A Samarco hoje (nesta quinta) nos informou que está mantendo esses contratos até o dia 31 de dezembro para avaliar todas as situações. E que nenhum funcionário havia sido demitido. Estariam todos, por instruções da empresa, em recesso remunerado”, explicou o procurador após a primeira reunião.

Souza acrescentou que irá verificar todos os cadastros e contratos das empresas terceirizadas para saber o número correto dos funcionários e a situação de cada um deles. Caso não haja acordo, o MPE pretende entrar com uma ação na Justiça em favor dos trabalhadores. Hoje está programada uma reunião entre o MPT e os sindicatos representantes dos funcionários terceirizados da Samarco.

Outro lado

Posição
. Procurada, a Samarco informou desconhecer demissões em empresas terceirizadas. De acordo com o MPT, funcionários contratados diretamente pela mineradora não podem ser demitidos por lei até o retorno das atividades da empresa.

Saiba mais

Agricultura.
 Uma força-tarefa com Estado, municípios e algumas empresas começou a visitar propriedades rurais atingidas pela lama. Técnicos irão avaliar as condições de fertilidade do solo para a retomada da produção agropecuária nas regiões atingidas no desastre. 

FGTS. O Ministério da Integração Nacional negou que o decreto que libera o saque do FGTS às vítimas do rompimento de barragens isente a mineradora Samarco de responsabilidade sobre o desastre.

Rejeitos na construção

Um grupo de pesquisas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) indica que rejeitos de mineração, como os do desastre em Mariana, poderiam ser utilizados na construção civil. Segundo o coordenador do projeto, professor Ricardo Fiorotti, é possível separar materiais como concreto, argamassa, tijolos e blocos de pavimentação dos rejeitos.

“O processo possibilita a incorporação de até 80% da lama no lugar de areia na produção de materiais para a construção”, disse.

Prefeitura estuda criar novo distrito industrial na cidade

Mariana
. Com o objetivo de diversificar a atividade econômica em Mariana – hoje totalmente dependente da mineração –, o prefeito da cidade, Duarte Júnior, estuda a criação de um novo distrito industrial no município. Segundo o líder do Executivo Municipal, já existe uma região disponível, e especialistas já trabalham neste projeto.

“A nossa equipe tem trabalhado muito forte nisso, e, graças a Deus, o processo das licenças ambientais para se viabilizar isso já está muito adiantado”, afirmou.

Além de potencializar o comércio, a intenção de Duarte Junior é levar escolas para a região. Nesta quinta mesmo, conforme o prefeito, ele se reuniu com representantes do Senai para que sejam instaladas instituições do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio nas quais jovens também possam fazer cursos profissionalizantes e se preparem para o mercado de trabalho.

“Não queremos aumentar a nossa receita vendendo terrenos. Queremos aumentar o número de funcionários trabalhando sem depender da mineração. Nossa ideia é perguntar para as empresas quantos empregos elas podem criar, e aquela que mais tiver capacidade de gerar postos vai receber um terreno com toda a infraestrutura”, explicou. 

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