Em Brumadinho

Mesmo tendo perdido 2 familiares e 7 amigos, Horácio ajuda nas buscas

Ele espera encontrar o amigo Rodrigo Monteiro, que na hora da tragédia estava escovando os dentes no vestiário do refeitório da mineradora

Por Fransciny Alves
Publicado em 29 de janeiro de 2019 | 09:26
 
 
 
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Mesmo contabilizando a perda de dois familiares e sete amigos na tragédia em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, o pintor Horácio Sattler tem ajudado o Corpo de Bombeiros a adentrar a mata da região do Córrego do Feijão, principal local atingido pela avalanche de lama deixada pelo rompimento da barragem da Vale.

Ele conversou com a reportagem de O TEMPO em uma plantação de verduras tomada pela lama enquanto esperava os militares. 

Ele conta que nessas buscas espera encontrar o amigo Rodrigo Monteiro, que na hora da tragédia estava escovando os dentes no vestiário do refeitório da mineradora. O desaparecido era funcionário de uma empresa terceirizada.

“Esses meus amigos, todos aqui de Brumadinho, desde novo estudávamos juntos. Tem um especial que é o Rodrigo Monteiro, que querendo ou não a gente tomava umas, né? Era um dos momentos de felicidade. Tenho vários vídeos dele que fico vendo e recordando esses momentos”, disse.

Por conhecer a área, Horácio e mais três amigos adentraram em uma mata próximo do pontilhão ferroviário e acreditam que acharam um corpo. Ele diz que prontamente avisaram o Corpo de Bombeiros. “Ficamos tristes, já choramos, mas vamos que vamos. A gente não pode parar. Nunca tinha visto um corpo na minha vida, mas enfrentamos água, devastamos o mato todo, resgatamos um cachorro e achamos uma casa que tinha só os escombros. Mas avisamos isso aos bombeiros porque a gente não pode meter a mão num corpo”, conta. 

Ele diz que os conhecidos que não foram localizados – duas mulheres e sete homens –trabalhavam na Vale e em áreas agrícolas. Mas Horácio revela que não tem esperanças em encontra-los vivos.

O pintor acredita que o número de mortos em decorrência do rompimento da barragem deve chegar a mais 150 mortos. “Quem sabe disso (a quantidade de óbitos) é a população, quem vive aqui. Queremos que esse processo seja agilizado o mais rápido possível porque quando o barro secar, já era”, afirma desesperançoso. 

Durante toda a entrevista, Horácio sempre mudava de assunto quando os olhos ficavam marejados. Questionado sobre o motivo de esconder as emoções, ele disparou: “A gente tem que ser focado. A gente é da roça, não pode ficar lamentando uma coisa que já aconteceu. A gente tem que viver a vida porque a cidade já era. Tem que enfrentar”.

Futuro

Horácio, que mora na região Central de Brumadinho, agora quer mudar de cidade juntamente com a mãe, que ele pensou ter perdido na tragédia porque ela não atendia os telefonemas e trabalhava em uma das áreas do município que foi evacuada. “A primeira oportunidade que der a gente vai ‘vazar’. Não é porque a gente quer abandonar a cidade, mas como que a gente vai viver agora se já antes da catástrofe a gente não tinha emprego?”, indaga.

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