sopão solidário

Moradores de rua do bairro Lourdes ganham piquenique em ato de protesto

Mais de 1.200 pessoas que se indignaram com a medida de ligar a água pelo menos duas vezes por dia na praça Marília de Dirceu para espantar moradores de rua, confirmaram presença no evento; presidente da associação nega atitude higienista

Por JULIANA BAETA
Publicado em 03 de outubro de 2013 | 18:46
 
 
 
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Uma medida considerada higienista por muitas pessoas e possivelmente adotada no bairro Lourdes, região Centro-Sul da capital, motiva uma manifestação solidária na praça Marília de Dirceu. O ato está marcado para acontecer no dia 12 deste mês, data em que se comemora o dia das crianças e o dia de Nossa Senhora Aparecida, a santa padroeira do Brasil. 
 
Desde o mês de julho deste ano a Associação dos Moradores do Bairro Lourdes (Amalou), implantou mais dispositivos de irrigação na praça. Apesar de o presidente da associação, Jefferson Reis, afirmar que a medida não é para espantar os moradores de rua, ela foi adotada pouco depois da decisão da Justiça de proibir a prefeitura da capital e o governo do Estado de recolherem os pertences dos moradores de rua. "O que acontece é que o jardineiro vem todos os dias à praça, e liga o esguicho de água às 7h, para realizar a limpeza. Por isso, ele pede para que os mendigos saiam e também limpa as ruas, retirando os pertences deles", diz.
 
No entanto, Reis admite que foi contra a determinação judicial de não recolher os objetos dos moradores de rua. "Não é assim que se resolve as coisas, o Estado tem que dar condições dessas pessoas trabalharem, elas não podem ficar jogadas pelas ruas com seus objetos", conta.
 
Ainda segundo Reis, a praça é mantida pela Amalou, e os moradores de rua acabam deixando cobertores e objetos no local. "E ainda fazem as necessidades ali, mas a praça é frequentada por crianças com seus pais e babás, e idosos. Não podemos deixar o local assim. Recentemente, a praça Marília de Dirceu foi agraciada com o prêmio de melhor praça da categoria", diz, orgulhoso.
 
Revolta
 
No evento "Piquenique solidário em Lourdes" organizado pelo Facebook, que já conta com mais de 1.200 participantes confirmados, a descrição deixa explícita que a ação é uma forma de repudiar a atitude da Amalou para com os moradores de rua e "todas as ações que não respeitem os direitos humanos". Na página, os participantes se unem para organizar o roteiro de programações artísticas e culturais para o protesto e também opinar quando ao que deve ser levado, para realizar um "sopão" e distribuir aos moradores de rua. Além disso, também estão sendo planejadas doações de agasalhos, objetos pessoais e de outros alimentos.
 
O advogado Arayan Pereira, que confirmou presença no evento, conta que resolveu aderir por não achar que simplesmente tirar os moradores de rua da praça irá resolver alguma coisa. "Afinal, eles podem ficar onde querem, a rua é um espaço público. O estudante Mateus Meireles, que também irá participar do ato, lembra que nem todos os moradores do bairro Lourdes pensam da mesma forma. "Achei muito bacana a atitude de alguns dos moradores dali de também aderirem ao evento e mostrar que não concordam com a medida da Amalou. O exemplo serve para mostrar que não são todos que pensam assim, e que tem gente que se preocupa com o outro", diz.
 
Já a fotógrafa Jéssica Bissuli, não poderá participar do evento, mas conta que irá mandar doações por meio de um participante. Para ela, o ato não é apenas uma forma de repudiar a ação da Amalou, mas também uma forma de conscientizar a sociedade sobre o problema. "Esse tipo de atitude dos moradores do bairro não irá resolver nada, só vai continuar promovendo a desigualdade e a exclusão social. A população precisa se informar mais sobre a situação dos moradores de rua. Todos que julgam e apontam os dedos, nunca passaram por essa situação, nem sentiram na pele o que é morrer de fome e de sede e não ter a quem recorrer", disse.
 
Para ela, não há nenhuma vantagem em ser invisível. "E é o que essas pessoas são para os olhos da maioria da sociedade. Mas é um equívoco, porque os moradores de rua são seres humanos igual a nós, e têm os mesmos direitos. Eles precisam de assistência médica e atenção também", explica.
 
O presidente da Amalou, Jefferson Reis, conta que não é contrário à iniciativa dos manifestantes, e que também estará presente no ato: "Também me preocupo com a classe social. Afinal, a Amalou também ajuda uma creche no conjunto Santa Maria".

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