Saúde

Mortal, vírus da raiva avança em BH, e Parque Municipal ainda não vai reabrir

Nos oito primeiros meses de 2021, 14 animais contaminados foram recolhidos pela Zoonoses da capital, ante 11 em 2020

Por Lucas Negrisoli, Renata Evangelista e Bruno Menezes
Publicado em 13 de agosto de 2021 | 13:32
 
 
 
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O vírus da raiva, causador da doença que, em humanos, leva à morte em, praticamente, todos aquelas que a desenvolvem, está circulando mais em Belo Horizonte neste ano em comparação aos anteriores. A inferência ocorre a partir do número de morcegos encontrados com o vírus na cidade. Nos oito primeiros meses de 2021, 14 animais contaminados forma recolhidos pela Zoonoses de BH, ante 11 em 2020, 15 em 2019 e 16 em 2018.

Dos morcegos achados neste ano, cinco deles estavam nos arredores do Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no Centro-Sul da cidade. O caso mais recente foi registrado ainda em agosto e, por isso, o local continua fechado, sem previsão de reabertura.

"Desde o início da ação preventiva e de bloqueio que está sendo realizada no Parque Municipal, já foram vacinados aproximadamente 300 gatos e ainda restam cerca de 30 para receberem a dose da vacina. Ainda não há data prevista para a reabertura do Parque Municipal", define a prefeitura. Após a vacinação, monitoramento e manejo dos animais será mantido.

Morcegos com raiva encontrados em BH

  • 2021 – 11 (até agosto)
  • 2020 – 14
  • 2019 – 15
  • 2018 – 16
  • 2017 – 11

“Para evitar a circulação do vírus, a Prefeitura está vacinando os gatos do Parque Municipal. O trabalho envolve a captura do animal, que deve ser feita de forma cuidadosa, além da leitura dos dados do chip eletrônico, quando se trata de animais já monitorados. Neste momento, alguns animais estão sendo vacinados novamente contra raiva, já que a vacina deve ser aplicada anualmente. Pela alta letalidade da raiva, é preciso garantir uma imunização de mais de 90% do total de gatos do parque para que a reabertura se dê com segurança para a população, no sentido de não ser exposta à doença”, informou o Executivo.

Morcegos infectados, apesar de serem um termômetro importante para identificar a circulação do vírus, não são os “vilões” da disseminação. Desde 2004, quando começa a série histórica de análises do tipo em morcegos em BH, nenhum morcego hematófago – ou seja, que se alimenta de sangue – foi encontrado com o vírus na cidade. Em suma, isso significa que não são, em absoluta maioria, os morcegos que infectam seres humanos. Os principais transmissores são animais domésticos, como cães e gatos.

Registros de contaminação por morcegos ocorrem, apenas, quando há contato com o corpo do animal morto, em geral, caído ao chão. Felizmente, a prefeitura de Belo Horizonte informa que “não há registros de casos de raiva em cães desde 1989, em gatos desde 1985, e raiva humana desde 1984 na capital”. Todavia, o avanço da circulação do vírus preocupa. 

Eduardo Viana Vieira Gusmão, diretor de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), afirmou à reportagem que há um “risco muito grande de contato com o vírus” neste ano, em relação a períodos anteriores. 

“A partir do momento que haja contato [com algum animal agressivo, ou com o corpo de morcegos], a orientação é ir até uma unidade de saúde para minimizar a chance de desenvolvimento do vírus rábico, evitar que a pessoa adoeça. O grande temor é que as pessoas acabam não procurando o atendimento médico e podem desenvolver a doença. Não tocar em morcegos e, sempre que houve um ataque por qualquer tipo de animal, é preciso buscar unidade de saúde imediatamente”, explica.

Com atendimento rápido, é possível impedir a manifestação da doença, o que, conforme descrito na literatura médica, demora cerca de 20 a 45 dias. A pessoa que sofreu um ataque passa por aplicação de um soro antirrábico e/ou é submetida a um esquema vacinal para evitar que o vírus tome conta do corpo.

“A chance maior de contágio é contato via cão ou gato. Às vezes, o animal dá uma mordiscada e o dono acha que não é nada, mas acaba disseminando a doença. A campanha de vacinação antirrábica vacinal é fundamental para que isso não ocorra. Protegemos os animais par nos protegemos. As pessoas têm deixado de comparecer à vacinação. Tivemos uma cobertura mais baixa porque foi fora da época em 2020 e, também, por causa da pandemia. Mas ela precisa continuar”, clama Gusmão.

Campanha de vacinação

Em 2021, a prefeitura de Belo Horizonte informa que “cerca de 8 mil cães e gatos” foram vacinados contra a raiva e que “10 ações de prevenção e bloqueio, abrangendo mais de 6 mil imóveis, além da ação que está em andamento no Parque Municipal” ocorreram.

Animais vacinados contra raiva em BH

  • 2021 (antes da campanha) – 8 mil
  • 2020 – 180.269
  • 2019 – Não houve campanha, a pedido do Ministério da Saúde
  • 2018 – 250.197
  • 2017 – 241.413

“A campanha de vacinação contra a raiva animal é definida pelo Ministério da Saúde. Em 2021, a previsão é que a campanha seja realizada em outubro. Em 2020, nos meses de novembro e dezembro, foram mais 180 mil cães e gatos vacinados na campanha. Podem receber a vacina cães e gatos a partir de 3 meses de idade”, ressalta o Executivo. O número de animais vacinados em 2020 foi 38% menor do que a última campanha realizada, em 2018.

A raiva, quando desenvolvida em cães e gatos, pode se manifestar em diversas formas, que não se limitam ao aumento de agressividade do animal. Qualquer mudança de comportamento dos bichos pode ser um indício e, em especial, qualquer mordida, mesmo que superficial, pode transmitir o vírus. Por isso, é necessário procurar, sempre, atendimento médico.

Além disso, a Zoonoses pede para que donos de animais os levem, ao menos, uma vez por ano ao veterinário. “A raiva pode se manifestar de diversas formas, mesmo imperceptíveis, e, por isso, pedimos toda atenção possível. Se mordeu, vai no centro de saúde. Não arrisque. Logo após a mordida, lave a região com água e sabão e procure o auxílio. A doença mata todos os infectados, mas pode ser prevenida com ações simples”, conclui Gusmão.

Morcegos são “do bem”

Desde 2004, nenhum morcego hematófago foi encontrado em Belo Horizonte ou arredores. Os animais que vivem na capital se alimentam ou de insetos ou de frutas e têm medo do ser humano. Por isso, é raro que ataques de morcego sejam registrados. Os bichos cumprem, ainda, um papel importante na vida biológica da cidade, ajudando no controle de pragas e transportando sementes.

Gusmão afirma que, nos últimos meses, pedidos para que agentes da Zoonoses “matem” morcegos que são avistados próximo a residências têm crescido na capital. 

“Não é preciso ter medo. Eles que têm medo de nós. Mesmo quando um morcego não hematófago está infectado com raiva, ele não ataca o ser humano. Em geral, só são encontrados fragilizados, caídos no chão, ou mortos. A preocupação é em não tocar nos animais”, esclarece o especialista.

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