Explosão nos números

Mortes por Covid dobram entre fevereiro e março em ao menos 76 cidades de Minas

Aumento chega a 400% e desafia sistema de saúde em regiões com pouca estrutura; veja a lista

Por Cristiano Martins
Publicado em 27 de março de 2021 | 08:00
 
 
 
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O total de mortes confirmadas por Covid-19 dobrou ou mais, somente entre os meses de fevereiro e março, em pelo menos 76 municípios de Minas Gerais. O levantamento realizado por O TEMPO com dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) revela o duro impacto desta “segunda onda” da pandemia nas cidades de pequeno porte, em sua maioria desprovidas de estrutura própria para socorrer os doentes.

Um exemplo é Catas Altas, na região Central de Minas. Entre todo o ano passado e o fim de fevereiro, a cidade havia sofrido dois óbitos pelo novo coronavírus. Em março, o número disparou para sete vítimas, segundo o balanço consolidado do Estado até esta sexta-feira (26). Os registros da Prefeitura são ainda piores e já dão conta de nove fatalidades, isto é, uma explosão de 350%.

“É um número bem significativo, pois somos uma cidade pequena, de 5 mil habitantes. São conhecidos, amigos em comum... Tivemos dois parentes de funcionários sepultados na mesma semana, e depois duas mortes numa mesma família. E a partir daí, novas perdas com um intervalo mínimo, a cada três, quatro dias. É algo muito próximo, que nos afeta demais”, conta a secretária municipal de Saúde, Jalizy Rodrigues.

A cidade não possui leitos de UTI, assim como a enorme maioria dos municípios mineiros (91%). Devido à alta complexidade desse tipo de equipamento, a rede assistencial é estruturada de forma a absorver os atendimentos em polos micro e macrorregionais. Os pacientes graves de Catas Altas, por exemplo, são encaminhados para Santa Bárbara ou Itabira. “Há muitos casos brandos, que não precisam de internação. Mas muitos dos que precisaram não voltaram”, lamenta a secretária.

Mesmo nos postos de saúde locais, a escalada da pandemia já vem provocando diversos gargalos. “Nossa demanda triplicou. Graças a Deus ainda não está em falta, mas tivemos que antecipar toda a nossa programação para a compra de insumos, EPIs [equipamentos de proteção individual] e oxigênio, porque temos pacientes crônicos de outras doenças que também precisam e há relatos de escassez em várias regiões”, acrescenta Jalizy.

A situação é parecida em Lagoa Dourada, no Campo das Vertentes. O município havia registrado quatro mortes por Covid-19 até fevereiro e viu o número saltar para nove em março, oito deles já incluídos no balanço oficial do Estado.  A secretária de Saúde local, Sandra Dutra, classifica o cenário como “dramático”. “Estamos presenciando tudo aquilo que não queríamos que acontecesse, mas chegou. Um leito disponível virou raridade”, resume a gestora, destacando que os casos graves do município precisam ser transferidos para Resende Costa ou São João Del Rei.

Aumentos de até 400%

Entre as cidades identificadas no levantamento aparece Monte Carmelo, no Triângulo Mineiro, uma das mais afetadas pelo colapso sofrido naquela região ainda no mês passado. O município passou de 13 óbitos em dezembro para 55 ao fim de fevereiro e 135 nesta semana – 127 deles já contabilizados no balanço oficial do Estado.

Em termos proporcionais, o aumento nos óbitos chega a 400% em Veríssimo, também no Triângulo. A pequena cidade tinha uma única morte por Covid-19 entre julho do ano passado e feveiro de 2021, mas agora já está de luto por ao todo cinco vítimas, segundo a SES-MG. Outro exemplo triste é Guaraciaba, na Zona da Mata, onde o número de vítimas passou de uma em 2020 para cinco em fevereiro e 16 nesta semana.

"Na minha humilde opinião, o grande complicador dessa pandemia é as pessoas ignorarem a doença e se recusarem a fazer o básico, o mais simples, que é usar máscara, higienizar as mãos e evitar aglomerações. O que se pede é um cuidado mínimo, mas, infelizmente, o que vemos são festas clandestinas e mau comportamento", alerta a secretária de saúde de Lagoa Dourada, Sandra Dutra.

 

 

 

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