Mulher é baleada e morre após esfaquear policial durante confusão em Minas

A Polícia Militar (PM) instaurou um inquérito para apurar a atuação de militares do município de São Sebastião do Anta, na região do Rio Doce, durante uma confusão que terminou com uma mulher de 41 anos morta a tiros, o irmão dela de 49 baleado e um sargento esfaqueado, na noite de domingo (6).

O Boletim de Ocorrência registrado no município indica que os policiais de plantão foram acionados na praça João Barbosa Neto, no Centro, por volta das 18h44. Lá, o sargento de 45 anos, que estaria de folga e sem farda, repassou informações sobre suspeitos de dois roubos que teriam ocorrido em sequência na cidade.

No local, em um bar da família das vítimas baleadas, diversos homens foram abordados e, ainda segundo a versão da PM, "os suspeitos se mantinham nervosos e exaltados, sendo necessário ações de controle e contato físico".

Ainda conforme a corporação, durante a abordagem, o homem que acabou sendo baleado teria passado a questionar a abordagem, enquanto a sua filha filmava tudo com um celular. O homem de 49 anos teria se aproximado da abordagem e, após algum tempo, teria dito que iria "buscar uma coisa para resolver com vocês (policiais)".

Neste momento o homem teria saído do bar armado, momento em que o soldado fardado teria efetuado dois disparos em seu ombro. Durante a confusão, o sargento que não estava fardado acabou sendo surpreendido pela irmã do baleado, que, armada de uma faca, deferiu um golpe no abdomem do militar, que revidou e acertou dois tiros na mulher.

O policail ferido e os irmãos baleados foram socorridos, entretanto, a mulher não resistiu aos ferimentos e morreu. O dono do bar, que foi baleado, está preso, mas segue hospitalizado sob escolta policial. O sargento também recebeu voz de prisão, mas precisou passar por uma cirurgia por conta do ferimento e ainda não foi apresentado às autoridades.

Vídeo mostra truculência em abordagem

Apesar da versão da PM, o vídeo que está circulando nas redes sociais mostra cenas de truculência policial durante a abordagem que terminou com a mulher morta. Nas imagens, é possível ver o sargento sem farda e apontando uma arma para as pessoas que eram abordadas.

Ele também aparece agredindo um homem, que já caminhava para sair do local, com chutes. Em outro momento, o sargento é visto dando chutes na perna de um jovem que está imobilizado e voltado para a parede e, ainda, dando uma coronhada em outra pessoa que era abordada. As imagens não mostram o momento dos tiros.

Após a repercussão das imagens, o 62º Batalhão da PM divulgou uma nota em que afirma que, assim que tomou conhecimento dos fatos, foi determinada a abertura imediata de um Inquérito Policial Militar (IPM) que irá apurar as circunstâncias do ocorrido.

"Assim que forem concluídas as apurações do IPM, todas as informações serão repassadas aos profissionais da imprensa", finaliza a nota.

Suposta arma não foi encontrada

Apesar dos policiais terem alegado que o homem foi baleado por ter aparecido portando uma arma, o utensílio não foi encontrado no local pela polícia. Uma faca, usada pela mulher para esfaquear o sargento, foi apreendida, porém, já teria sido lavada pela família.

No hospital, o homem baleado relatou à PM que tentou intervir ao ver a abordagem violenta dos policiais e que, por conta disso, houve uma discussão enquanto a filha filmava tudo. Depois disso, ele teria entrado para o bar e chamado a filha, momento em que teria sido baleado.

Ele negou que estivesse armado e informou que isso poderia ser provado pelas câmeras de segurança do estabelecimento. Entretanto, ainda de acordo com a PM, no estabelecimento foi constatado que os equipamentos de segurança estavam desligados e não registraram nada.

Segundo família, sargento estava embriagado

Nas redes sociais, familiares dos irmãos baleados pela PM afirmam que o militar que aparece no vídeo agredindo pessoas durante a abordagem, e que acabou esfaqueado pela vítima, estaria bêbado.

"O sargento matou uma mulher com depressão pós-parto e atirou no irmão dela após chegar embriagado de festa. Descanse em paz minha irmã, espero Justiça. Ele sabia que ela tinha depressão, assim como toda a vizinhança", escreveu uma familiar.

A reportagem de O TEMPO conversou com um morador da cidade, que confirmou que a família da vítma era conhecida na região. "Ele perdeu um bebê há cerca de um ano e ficou em depressão, teve que ser internada recentemente. O que soube foi que teve essa abordagem, o irmão foi tirar satisfação e foi baleado. Ela tava dormindo, acordou e pegou a faca, mas acabou tomando dois tiros depois de atingir ele. Estamos todos assustados", disse o morador, que preferiu não ser identificado.