Luto

‘Não tenho mais Dia das Mães’, diz mulher que perdeu a filha em Brumadinho

Rompimento da barragem B1, da mineradora Vale, completa cinco anos nesta quinta-feira (25)

Por Bruno Daniel
Publicado em 24 de janeiro de 2024 | 18:51
 
 
 
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Desde 25 de janeiro de 2019, as datas comemorativas perderam o significado para a servente escolar Maria Regina da Silva, de 59 anos. A filha dela, Priscila Elen da Silva, de 29 anos, é uma das 272 vítimas do rompimento da barragem B1, da Mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte.

Durante a concentração para a Carreata da Justiça, que faz coro por justiça na véspera da tragédia completar mais um ano, Maria definiu a filha como estudiosa e trabalhadora. Priscila, que morreu aos 29 anos, era formada em Direito e cursava Educação Física. Hoje, só resta a saudade.

“Você cria uma família, espera que vai ficar velha e que aqueles filhos vão te olhar, vão te enterrar, e, de repente, você tem que enterrar um filho. Eu não tenho mais o Dia das Mães. Eu não tenho mais o Natal”, desabafa.

As lembranças que Maria Regina tem da filha são de alegria. “Ela era muito festeira. Ela gostava muito do aniversário dela, gostava muito do aniversário da gente, gostava de fazer surpresa, do Natal. Em todas essas festas que ela gostava de fazer, ficou um vazio”, lamenta.

Maria é uma das organizadoras da Carreata da Justiça, que vai ser realizada nesta quarta-feira (24). O ato tem o objetivo de pedir justiça e responsabilização criminal pelas 270 mortes, incluindo duas mulheres grávidas, causadas pelo rompimento da barragem da Vale. Após quase anos da tragédia, ninguém foi julgado.

Ao todo, 16 pessoas são rés no processo. Maria se diz indignada com a falta de punição, mas ainda acredita que a justiça será feita. "Sentimento de revolta, tristeza, indignação. Você vê tantos crimes que acontecem e rapidinho são solucionados. E diante de um crime tão grande, com 272 pessoas mortas, tantas provas, tantos documentos, CPI's, investigações, e até agora eles não foram julgados. Mas a esperança de justiça não acaba", pontua.

Após a Carreata da Justiça, que tem saída prevista para o Cemitério Parque das Rosas, em Brumadinho, vai haver um Momento de Louvor, com apresentação de um coral. A ação está marcada para as 19h30, na Praça das Joias.

A tragédia

Às 12h28 do dia 25 de janeiro de 2019, a barragem da Mina Córrego do Feijão se rompeu. Em menos de dois minutos, a lama destruiu centenas de hectares de Mata Atlântica, causou a morte de animais e contaminou a água do rio Paraopeba. Ao todo, 26 municípios foram atingidos.

O Ministério Público de Minas Gerais já ofereceu denúncia criminal contra os réus, mas, conforme o procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal entenderam que o julgamento cabe à Justiça Federal. Também conforme Jarbas, o MPMG vai tentar reverter a decisão.

"Estamos tentando no Supremo Tribunal Federal, agora no plenário, reverter essa decisão, para que o Tribunal do Júri de Brumadinho julgue as imputações", afirma.

Réu pode ficar livre de julgamento

No dia 13 de dezembro de 2023, o desembargador federal Boson Gambogi votou para que o ex-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, deixe de ser réu na ação penal que vai julgar 16 pessoas por homicídio doloso qualificado e crimes ambientais no caso do rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. O pedido de habeas-corpus foi feito pela defesa de Schvartsman.

Se os demais desembargadores também acatarem o pedido da defesa, o ex-presidente da Vale ficará livre do julgamento em relação às mortes provocadas pelo rompimento da estrutura. O julgamento do pedido foi interrompido após o desembargador federal Pedro Felipe Santos pedir vistas do processo. Conforme o Tribunal Regional Federal da 6ª Região, a previsão é de que o caso volte a ser analisado em fevereiro deste ano.

O processo sobre o rompimento da barragem tramitou por três anos na Justiça estadual mineira e começou em janeiro deste ano, após ter sido transferido para a Justiça Federal. Isso ocorreu a pedido da defesa de dois réus. Atualmente, a 2ª Vara Criminal Federal, em Minas Gerais, notifica os acusados. O julgamento não tem data para ocorrer.

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