Temor que já faz parte da rotina dos moradores dos grandes centros urbanos há algumas semanas, o coronavírus também chegou aos pequenos municípios mineiros. É o que mostra o balanço da Secretaria de Estado de Saúde, que confirmou casos de pacientes com a doença em pelo menos duas cidades com menos de cinco mil habitantes em Minas Gerais: Jeceaba, na região Central, e Divinésia, na Zona da Mata.
Na pacata Jeceaba, a confirmação da doença já tomou conta das rodas de conversa e gera cada vez mais preocupação entre os 4,9 mil moradores. Apesar do comércio fechado desde o dia 23 de março, Ana Luísa, de 21 anos, conta que as ruas permaneciam cheias de pessoas – pelo menos até o primeiro caso de coronavírus. "As pessoas ficaram com mais receio, está tudo praticamente vazio. Antes não respeitavam muito [o isolamento social]. Conheço a pessoa infectada de vista", revela.
E em uma cidade em que praticamente todos se conhecem, o secretário municipal de Saúde, Vinícius Gonzaga, ressalta que o convívio rotineiro entre os moradores é um potencializador da disseminação do coronavírus. "A palavra que a gente deixa para a população, principalmente depois da confirmação da doença, é fique em casa. Temos uma preocupação ainda maior por conta do tamanho da cidade. Como é pequena, os círculos sociais se sobrepõem, terreno certo para a transmissão comunitária", enfatiza.
Conforme o secretário, uma mulher de 39 anos, que tinha voltado de viagem de Belo Horizonte, apresentou sintomas leves da doença. Submetida a um teste, que demorou 14 dias para confirmar o coronavírus, ela, os familiares e outras pessoas que tiveram contato direto foram isolados para evitar novas infecções. "Foi feito o monitoramento diário e o quadro de saúde permaneceu estável. Reforçamos a necessidade do isolamento social e buscamos sempre mostrar para os comerciantes que, por mais que gere transtornos econômicos, o momento é de salvar vidas", complementa.
Outros seis casos suspeitos de coronavírus em Jeceaba seguem em investigação e aguardam o resultado dos exames. "É uma cidade pequena e as pessoas ficam apreensivas. Vamos seguir com o decreto que impede a reabertura das lojas e atividades comerciais", frisa Vinícius Gonzaga.
Paciente passou por várias cidades
Do outro lado do Estado, o medo do coronavírus também está mais presente entre a população. Com menos de 3,3 mil habitantes, Divinésia, na Zona da Mata, teve a confirmação do primeiro caso no último domingo. De acordo com o prefeito Antônio Geraldo (PSDB), o paciente tem 34 anos e havia visitado parentes em Fortaleza, no Ceará. Antes de voltar à cidade, ele passou por Belo Horizonte e Ubá. "Durante toda a primeira quinzena de março, ele ficou no Nordeste e só retornou no fim do mês. Como já tínhamos montado a estrutura para enfrentamento ao coronavírus, conseguimos fazer o monitoramento de todos que chegavam de fora", relata.
O prefeito diz ainda que os primeiros sintomas surgiram ainda no Ceará e, como ele estava com a passagem marcada para o dia 20 de março, preferiu retornar. "Assim que chegou, procurou o hospital de referência da região, que fica em Ubá, foi diagnosticado com uma gripe e medicado. Depois, a equipe de saúde daqui passou a monitorar diariamente o caso e colocou toda a família em quarentena", afirma.
E com a recusa de manter o isolamento, a prefeitura chegou a recorrer à Polícia Militar para que a medida fosse cumprida pelos 14 familiares que tiveram contato com o paciente. "Até que o quadro clínico piorou. Ele precisou ser internado na UTI por quatro dias. Mas quando o resultado confirmou o coronavírus, já havia cumprido a quarentena e não apresentava mais nenhum sintoma", acrescenta Antônio Geraldo.
Para o prefeito, o caso mostra a importância das medidas de prevenção. "Reforça a necessidade de tomar todas as cautelas, valorizar as barreiras sanitárias e seguir os protocolos do Ministério da Saúde. Tem outro caso em investigação, um senhor de 80 anos que faleceu, mas já tinha problemas respiratórios há muito tempo", alega.
Moradora da cidade, Carla Valente, de 38 anos, teme ainda mais a propagação do coronavírus. "Acredito que não vai ser só ele. Estamos mais apreensivos agora", conta. Proprietária de um restaurante, ela lembra que, apesar das dificuldades financeiras, o fechamento do comércio ajuda a reduzir o número de casos.
'Vírus não tem fronteira'
Para o infectologista e presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, Dirceu Greco, a confirmação dos casos revela que a pandemia provocada pelo Covid-19 também está chegando aos municípios pequenos. "Há um trânsito muito grande entre as cidades e, no caso de um vírus como esse, a chance de chegar em locais afastados é real. Ele começa nas maiores e vai para as menores", explica.
O especialista lembra também que a propagação do vírus não tem fronteiras. "A recomendação para essas pessoas é a mesma, ficarem atentos aos sintomas e, caso sejam brandos, permanecer em casa. A pandemia do coronavírus está expandindo e não sabemos o que vai acontecer", destaca.