Promessa

No papel há 10 anos, nova rodoviária já custou R$ 30 milhões

Terminal previsto para ser erguido no bairro São Gabriel deveria estar funcionando desde 2012

Por Clarisse Souza
Publicado em 22 de abril de 2019 | 03:00
 
 
 
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Entre promessas e adiamentos, o anúncio do projeto de um novo terminal rodoviário no bairro São Gabriel, na região Nordeste de Belo Horizonte, está completando dez anos sem sair do papel e sob a ameaça de cair no esquecimento. No terreno de 70 mil metros quadrados – onde a rodoviária já deveria funcionar desde 2012, conforme o plano inicial –, não há sinal de obras, e o que se vê é apenas mato, já que até o trabalho de terraplenagem, executado há cerca de três anos, perdeu-se com a ação do tempo.

A construção do terminal, que se arrasta por três gestões municipais e já custou mais de R$ 30 milhões somente com desapropriações, esbarra agora na ausência de um projeto viário para o entorno, o que ainda vai demandar a remoção de outros 27 imóveis. Em março de 2018, o prefeito Alexandre Kalil (PHS) chegou a chamar a nova rodoviária, aprovada no primeiro governo do ex-prefeito Marcio Lacerda, de “aberração” e praticamente descartou a possibilidade de dar início à obra, temendo a piora do trânsito no Anel Rodoviário.

Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), um anteprojeto para a viabilização de uma alça de acesso ao Anel foi encaminhado ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Procurado pela reportagem, o órgão não informou quando deve concluir a análise do documento.

Desde que o plano de retirar a rodoviária do hipercentro da capital, para desafogar o trânsito e ampliar a capacidade do terminal, foi anunciado, uma avalanche de problemas impediu a concretização do projeto. A começar pela escolha do terreno: antes de eleger a área ao lado da estação de metrô do São Gabriel, o Executivo municipal cogitou o bairro Calafate, na região Oeste, mas estudos de viabilidade derrubaram a proposta.

A busca por um consórcio interessado em construir e operar o terminal também foi trabalhosa. Foram necessários três editais, até que a SPE Terminal assumisse a missão. No entanto, as remoções de famílias, que foram parar na Justiça, tornaram o processo ainda mais moroso. A reportagem entrou em contato com o consórcio, que informou que apenas a prefeitura responde sobre o assunto.

Em meio a tantos adiamentos, o terminal, que deveria estar funcionando há sete anos, não tem qualquer previsão de inauguração, o que revolta moradores, segundo o presidente da Associação de Desenvolvimento do bairro São Gabriel, Gladstone Otoni. “É um abandono. Dá a sensação de impunidade. Não há interesse por parte da prefeitura, e a gente tem clareza de que (a obra) não vai sair do papel”, lamenta.

Centro. O Estado investiu R$ 5,5 milhões em obras no terminal do centro desde 2016. Entre as intervenções, estão manutenção de elevadores, pintura e revitalização de piso e telhado.

Local não é adequado, diz estudioso

A escolha do terreno ao lado da estação de metrô São Gabriel para construir o novo terminal rodoviário pode ter sido equivocada, segundo o engenheiro Nilson Nunes, especialista em transportes e trânsito. Ele defende a retirada da rodoviária da região central como opção para ajudar a desatar o nó do trânsito no hipercentro, mas considera que o novo empreendimento deve ser erguido em área mais periférica.

“Vão tirar essa demanda toda da área central, que hoje é um estorvo, mas vão transferir para outro local que também é bastante complicado, por causa da avenida Cristiano Machado”, observa o engenheiro.

A aposentada Aparecida Oliveira, 70, afirma que o novo terminal geraria muitos benefícios para os moradores do entorno. “Uso a rodoviária do centro. Fiquei feliz quando disseram que ela viria para cá (bairro São Gabriel). Mas acho que não vou ver nem a fundação”, disse.

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