Minas Gerais

Novo modelo da EJA quer valorizar vivências dos alunos em formação transversal

EJA Novos Rumos começa a ser implantada em março, com curso de formação para professores que lecionam para jovens e adultos em Minas Gerais

Por Lara Alves
Publicado em 04 de dezembro de 2020 | 14:02
 
 
 
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Retornar à sala de aula após uma brusca interrupção no ritmo escolar pode ser uma opção complicada para estudantes que decidem se matricular na Educação de Jovens e Adultos (EJA). O cenário é principalmente conturbado àqueles que ingressam no período noturno do ensino médio que, de acordo com a Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG), concentra elevadas taxas de reprovação e evasão escolar – chegando até 66% no primeiro ano. A situação é dramática não apenas em Minas Gerais, mas repete-se em outros cantos do país.

Frente o problema, o Estado optou por criar um outro modelo de educação destinado a estes estudantes com mais de 18 anos, mas que respeite a bagagem cultural e também as vivências que eles construíram até poder voltar à escola. Chamado "EJA Novos Rumos", o programa começará a ser implantado a partir de março, e sua primeira etapa, na prática, será a formação de professores com um olhar específico destinado à educação desse público – a prioridade, de acordo com o órgão estadual, será considerar a história daqueles alunos e suas experiências na aplicação dos conteúdos lecionados. As inscrições, aliás, estão abertas até a próxima sexta-feira (11) no site da SEE, e o próprio sistema direciona o aluno para a escola mais próxima da residência dele.

Em relação à mudança no método de educação com o modelo recém-lançado, a secretária de Estado de Educação, Júlia Sant’Anna, detalha que a principal mudança será a forma de educar o aluno, entendendo que o conteúdo a ser oferecido a ele não pode seguir os moldes do método aplicado a outros estudantes do ensino médio – público a que se destina o “Novos Rumos”. “Muitas vezes, nós falamos em um aluno que está marginalizado, ele procura a EJA e estuda por um material aplicado a adolescentes, como na situação do primeiro ano do Ensino Médio. Só que este jovem ou adulto já tem outros interesses. Era necessário repensar como trabalhar conteúdos como matemática e química para estes estudantes que já têm a própria vivência, a própria bagagem. Eles têm que receber uma atenção dirigida à faixa etária, aplicar uma metodologia que entenda que esse aluno tem uma bagagem por trás, é um aluno que já trabalha, por exemplo”.

A formação de professores que será iniciada em março pretende justamente alinhar os conteúdos a serem lecionados com esta realidade prática. “Esse ciclo de formação será totalmente retomo a partir de março e nós pretendemos trabalhar não só a parte conceitual e filosófica da EJA, como também entender como cada componente curricular, que são as nossas disciplinas, podem ser aplicados à realidade dos estudantes. Entendemos que é necessária uma transversalidade melhor entre elas, para trabalhar de forma profunda as áreas do conhecimento e oferecer uma formação mais rica e cuidadosa”.

Ainda de acordo com a secretária, entre os diferenciais do novo modelo está a inclusão de uma disciplina destinada a orientar alunos para o próprio futuro, garantindo que, após a formação, eles possam ter perspectivas diferentes das que mantinham quando retornaram à escola. “Teremos também na carga horário uma disciplina chamada ‘Projeto de Vida’, na qual o aluno vai escolher um professor que será como seu orientador para, realmente, um projeto de vida, não só no eixo cognitivo. Será discutido o futuro do aluno. Esses estudantes com distorções idade/série não podem ser rejeitados, eles precisam ser acolhidos e entender que têm a possibilidade de outros futuros”.

Aqueles que decidirem por outras trajetórias terão prioridades nas matrículas de cursos da Formação Inicial Continuada (FIC) que, segundo Júlia Sant’Anna, possibilitará que alunos da EJA se qualifiquem para o mercado de trabalho. “Estamos criando para o ano que vem cerca de 12.700 vagas para os cursos de qualificação da educação profissional que já formam para o mercado de trabalho com profissões que têm muita demanda em Minas Gerais. De forma rápida, esse estudante já poderá conseguir empregabilidade. São vagas para cursos como promotor de vendas, assistente de logística, cuidador de idosos…. Vamos dar prioridade a alunos da EJA para tais vagas”, conclui.

Matrículas

As matrículas de interessados em retornar à sala de aula no próximo ano letivo da EJA, que começará de forma remota até o momento, estão abertas até sexta-feira (11). Alunos com idade superior a 18 anos e que se inscrevem no sistema online da Secretaria de Educação são redirecionados para o programa, que identifica de forma automática qual escola estadual é mais próxima da residência do aluno.

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