Imagens de pessoas feridas, ameaças diretas e indiretas e juras de morte. A ocupação feita nesta sexta (15) pelas polícias Militar e Civil no aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, parece não ter intimidado completamente os traficantes que atuam no local. É por meio de redes sociais – Facebook e WhatsApp – que integrantes das gangues Pau Comeu e Del Rey têm trocado ameaças, o que mantém o clima de tensão no morro.
Moradores do aglomerado contaram na sexta-feira que os criminosos declararam que o momento mais crítico do conflito ainda não chegou. “Todo dia eles publicam alguma coisa avisando que a guerra ainda vai continuar. Falam sobre os pontos que ainda querem atacar e sobre o que são capazes de fazer para vencer”, afirmou uma moradora, que terá o nome preservado.
Desde a prisão de Michael Deyvison Dias, o Maikinho, 20, há três dias, o clima tem sido tenso na comunidade. O jovem é apontado como um dos líderes da gangue Del Rey e seria o pivô do confronto armado entre os dois grupos no aglomerado, já que ele teria sido expulso da Pau Comeu. Moradores das regiões comandadas pelas facções contam que ruas da comunidade ficam vazias devido ao terror da disputa.
“Nós estamos aproveitando que a PM está aqui para sair. Temos ficado trancados. A partir das 18h, fica tudo fechado, porque todo mundo está com muito medo. Parece que a qualquer momento o negócio aqui vai explodir”, contou outro morador do local.
Operação. Durante a última sexta (15), cerca de 140 policiais civis e militares entraram no aglomerado. Até o fechamento desta edição, 17 mandados de prisão e de busca e apreensão haviam sido cumpridos. Seis pessoas haviam sido presas, e dois adolescentes, apreendidos. Entre os detidos estariam dois líderes, um da Pau Comeu e outro da Del Rey. As polícias divulgarão o resultado da operação na próxima segunda-feira.
Os presos foram levados para a 4ª Delegacia da Polícia Civil. Porém, nem mesmo a presença dos policiais impedia que eles trocassem xingamentos e ameaças.
Por conta disso, os integrantes de cada gangue foram colocados em locais separados. Segundo familiares dos homens detidos na operação desta sexta, os policiais chegaram às residências dos suspeitos logo pela manhã. Os parentes levaram comida para os presos.
Minientrevista
Tenente-cel. Wadim, Comandante do 22º Batalhão da PM
Na última quarta-feira, a Polícia Militar prendeu Maikinho, que seria o pivô da guerra na Serra. Mas vários já foram presos. Não há uma solução para acabar com o tráfico? A Polícia Militar tem, dentro do rol de atribuições, a de conter, de colocar as pessoas presas. No aglomerado da Serra, a gente tem uma população estimada em 50 mil pessoas lá. Cerca de 99% delas são pessoas de bem. Mas só no ano passado nós apreendemos 420 armas de fogo na área do batalhão. Na Serra, foram mais de cem. Neste ano, nós estamos com cerca de 280 armas apreendidas até o momento. Por ser protagonista, por estarmos próximos, talvez sejamos, dos órgãos de segurança pública, o mais demandado. Eu acredito que as leis são fragilizadas.
Diante dessa limitação, qual a posição do senhor? A Polícia Militar não permite qualquer tipo de intranquilidade, de ruptura da ordem. O que importa para nós é fazer o nosso trabalho bem feito. O que importa é prender as pessoas. Eu prendo e prendo muito. Eu prendi um arrombador lá no bairro Santo Antônio umas 60 vezes. E, se tiver que prender 120, nós vamos prender. Só hoje (ontem) no aglomerado, nós prendemos oito. Eu poderia falar que enxugamos um iceberg.