Uma propaganda de outdoor de uma academia em Igarapé, na região metropolitana, foi alvo de muitas críticas. O anúncio instalado há pouco mais de dois meses, na região central da cidade, evidencia três portes físicos distintos e carrega o seguinte questionamento: “De que lado você quer estar?”. A propaganda pegou mal e dividiu opiniões. Mediante as distintivas interpretações que a publicidade originou, os proprietários do estabelecimento resolveram retirar o anúncio.
Para muitos moradores da cidade a ação publicitária foi entendida como ofensiva por fazer alusão a gordofobia - preconceito, desmerecer ou fazer a pessoa acima do peso se sentir inferiorizada. Para outros a propaganda foi interpretada como uma ação que promove a saúde.
O estudante Ozair de Carvalho, de 23 anos, está do lado das pessoas que se sentiram incomodadas com o anúncio. “Achei o outdoor pesado, porque quer que as pessoas estejam dentro de um padrão. E o corpo ideal seria o musculoso, tido como perfeito. Não concordo com isso,” comentou.
Já para a estudante de odontologia Francine Araújo, de 24 anos, o conteúdo do outdoor causou impacto positivo. “Para mim o intuito do comercial é de lembrar sobre a necessidade de se cuidar e de evitar a obesidade, que é uma doença”, avaliou.
Em contrapartida, a estudante de educação física Talita Guimarães, de 24 anos, acredita que qualquer informação antes de ser repassada deve ser bem avaliada para evitar falhas de entendimento. "A publicidade foi muito agressiva. Ninguém tem que impor o corpo ideal para ninguém. Temos que ir em busca da saúde, e não ditar padrões estéticos. Sempre é bom ficarmos em alerta para evitar passar informações que gerem dualidade de entendimento”, ponderou.
Nossa reportagem conversou com um dos proprietários da academia Marquiley Eugênio, de 29 anos. Segundo ele a intenção da campanha era de promover a prática de exercícios para as pessoas dos mais diversos tipos físicos. “O objetivo era levar para as pessoas a ideia de qualidade de vida e trazer todos os tipos de pessoas, com todos os tipos de hábitos para a academia”, explicou.
De acordo com o empresário ele mesmo criou a ação publicitária, e quando descobriu sobre o impacto negativo que o outdoor estava causando, ele ponderou e decidiu retirar o anúncio. “Um amigo me alertou que pessoas estavam reclamando, porque se sentiram ofendidas ou até mesmo expostas. Pensei muito a respeito e cheguei à conclusão que o melhor a ser feito é retirar a propaganda”, pontuou.
Ainda conforme Eugênio as próximas campanhas serão feitas com mais cuidado e atenção. “Aprendi a lição. A partir de agora vou buscar opiniões de publicitários e evitar ações que gerem qualquer tipo de duplo sentido ou dupla interpretação”, concluiu.
Especialista
De acordo com a professora do departamento de comunicação social da UFMG Vanessa Cardozo Brandão, independentemente se a campanha foi criada ou não por um profissional da comunicação, o que importa é estar atento e ter um olhar sutil e contemporâneo sobre as questões que rondam a nossa sociedade. “Existem casos de campanhas publicitárias de grandes marcas que os profissionais erraram na mensagem. O teor das campanhas publicitárias deve estar em sintonia com a perspectiva da nossa contemporaneidade que luta cada vez mais por inclusão”, comentou.
UFMG realizará seminário sobre outdoors e conteúdos polêmicos
O seminário "A 'batalha dos outdoors' e outras interações polêmicas", será realizado no dia 6 de agosto, às 14h. Dentre as diversas temáticas, no workshop será levantada a discussão sobre como os outdoors se incluem nos discursos polêmicos, por meio de pontos de vista que circulam na sociedade.
Para mais informações sobre a palestra acesse: www.ufmg.br