Caminhoneira antes mesmo do nascimento da segunda filha, hoje com 15 anos, a mineira Simone Maria Silva, 47, não imaginou que seria obrigada a deixar estradas de forma abrupta quando iniciou o tão esperado mês de férias em maio de 2019. Repetindo o feito de anos anteriores, ela dedicou sete dias do período de descanso a um check-up geral, entretanto, por pouco não acreditou no laudo que recebeu após uma mamografia. “Logo que fiz a mamografia, me pediram que eu repetisse em outro aparelho. Depois me encaminharam para um ultrassom e, em seguida, fui para uma biópsia, e, de lá para cá, mantenho a rotina com médicos”, detalha.
A conclusão da biópsia trouxe o susto: câncer de mama. “Eu recebi a notícia do diagnóstico e ligou um alerta. Quem não tem autocontrole, entra em desespero, mas eu fiquei com a cabeça no lugar, tive força, fé e esperança. Hoje até brinco”, conta ela que, após três operações e 16 sessões de quimioterapia, mantém apenas um tratamento oncológico e visitas rotineiras à mastologista.
Em meio à campanha anual do Outubro Rosa, período marcado por ações que destacam a importância do diagnóstico precoce, da mamografia e do autoexame, a caminhoneira decidiu arriscar-se na poesia – leia abaixo – para lembrar a outras mulheres a importância do próprio cuidado. “De certa forma, nós sempre sabemos a necessidade do exame. Mas, depois que a gente passa pela situação, a gente quer alertar, levar informação, ajudar outras mulheres de alguma forma”, destaca.
É justamente na toada da importância da mamografia feita a partir dos 40 anos de idade, sempre a cada ano, que alguns espaços de saúde de Belo Horizonte decidiram ofertar de forma gratuita a realização do exame. O Hospital da Baleia está disponibilizando mil mamografias de graça neste mês de outubro, bem como o Sesc Venda Nova que até o mês de dezembro oferecerá atendimentos em saúde na unidade do bairro Novo Letícia – confira abaixo como agendar o exame.
Após o susto, coragem
Afastar-se das estrada foi a primeira decisão que a caminhoneira Simone Maria Silva tomou após descobrir o câncer de mama. A segunda apareceu logo em seguida: tornar o período da doença o menos doloroso possível. “Recebi o diagnóstico de câncer um ano após a morte da minha cunhada que, durante sete anos, lutou contra um outro tipo de câncer. Logo passou pela minha cabeça: ‘será que vou passar por tudo aquilo de novo?’. Mas, decidi que não ia sofrer, sempre trabalhei meu psicológico. Quando aparecia um pensamento negativo, logo eu cortava ‘opa, opa, opa, aqui não’. Decidi focar nas mulheres que se curaram. E sempre brinquei muito: ‘cabelo caiu? Cresce de novo, mais bonito, mais lisinho. Brinco também que ganhei dois silicones de graça. Levo tudo com leveza”, relembra.
A queda do cabelo, aliás, uma das principais dores para muitas mulheres que enfrentam um câncer de mama tornou-se uma preocupação para Simone, que, no entanto, rapidamente solucionou a questão. “Eu tinha um cabelo na cintura. Quando descobri o câncer, já cortei no ombro. Quando percebi que realmente já estava caindo, pedi para tirar tudo, porque eu não queria ter a sensação dos fios caindo. Acho que o baque é menor. Já que ia acontecer (a queda de cabelo), melhor que fosse logo. Não me abalou não, a falta do cabelo não foi um problema”.
O rápido diagnóstico permitiu também um rápido tratamento para a doença e, em um ano e cinco meses, ela já está livre da quimioterapia. Foram 16 sessões e três cirurgias, uma para retirada da mama, outra alguns meses depois para retirada de parte da pele que ainda continha células cancerosas e outra para reconstrução da mama. “Logo que eu terminei a quimioterapia, iniciei a radioterapia, terminei agora em junho. Continuo uma sequência com tratamento com a terapia oncológica que dura cinco anos, mantenho também consultas e exames periódicos. Agora está mais tranquilo”, detalha.
Importância do diagnóstico precoce
Frente a inúmeras campanhas de prevenção a doenças, o Outubro Rosa reforça especialmente a importância do diagnóstico precoce para tratamento eficaz do câncer de mama. Quanto à prevenção, mantém-se o padrão de hábitos saudáveis que podem evitar também outras doenças – como manter uma dieta saudável e uma rotina de exercícios físicos. Em relação ao diagnóstico precoce, a mamografia tornou-se essencial para tal, principalmente, em regra geral, entre as mulheres com mais de 40 anos. Apesar do autoexame ser importante para a detecção do câncer de mama, pode ser que ele não seja o suficiente ou que apenas aponte lesões de forma tardia, como esclarece a médica Cláudia Márcia e Silva, coordenadora do setor de mastologia do Hospital da Baleia em Belo Horizonte.
“O diagnóstico precoce é o que tratamos no Outubro Rosa. Existem lesões que não são palpáveis, mas que podem ser vistas diretamente na mamografia. Então, nós preconizamos que as mulheres façam anualmente a mamografia a partir dos 40 anos. Uma lesão torna-se palpável normalmente cerca de cinco anos depois de ter iniciado seu crescimento. O autoexame é importante, sim, mas não substituiu a mamografia e as consultas anuais com mastologistas e ginecologistas”, esclarece.
A regra em relação à prescrição da mamografia para mulheres com idades superiores a 40 anos só muda quando se trata de pacientes enquadrados em grupos de risco para o câncer de mama. “Fora dessa faixa etária, recomendamos a mamografia a mulheres que têm história familiar positiva para o câncer de mama em parentes de primeiro grau, que seria mãe, irmã e filha, ou pacientes masculinos com câncer de mama, é importante prestar atenção para o fato de que homens também podem desenvolver o câncer de mama. Também recomendamos para pessoas que têm câncer de mama bilateral”, explica.
Autoexame
Recomenda-se que o exame de toque seja feito a cada mês pela própria mulher, ou uma semana após a menstruação ou em uma data marcada no caso de pacientes que não mais menstruam. A médica detalha como o toque deve ser feito: “A mulher precisa escolher um lugar, na frente do espelho ou embaixo do chuveiro, por exemplo. Uma mão é colocada na cintura ou no pescoço enquanto a outra apalpa a mama contrária. A mão esquerda apalpa a mama direita, e a mão direita apalpa a mama esquerda. É necessário que a mulher mantenha a mão espalmada, e não aperte a mama. Apalpa a mão, a axila e faz uma leve pressão no mamilo para saber se tem alguma secreção”.
Quais são os sinais de alerta?
A mastologista do Hospital da Baleia destaca alguns sinais que demandam atenção da mulher e uma rápida ida ao médico. O primeiro deles refere-se a alterações no aspecto da pele da mama. “A pele fica parecendo uma casca de laranja, é um sinal de corrida ao mastologista”. O segundo diz respeito ao aspecto do próprio mamilo. “O mamilo que anteriormente não era invertido, passa a ser invertido. Este é outro sinal de uma consulta médica mais urgente”. O terceiro indício de alerta aparece quando há secreção mamária – o aspecto poderá ser semelhante ao da água ou mesmo um corrimento sanguíneo. “O sinal clássico é, também, a presença de nódulos nas mamas. São indicativos de que a pessoa deve procurar imediatamente um mastologista. É sinal de que tem algo errado que precisa ser diagnosticado”, detalha.
Exames gratuitos
Hospital da Baleia: a unidade de saúde na região Leste de Belo Horizonte está disponibilizando de forma gratuita mil mamografias. Os exames são marcados por telefone e realizados por ordem de agendamento. A oportunidade vale para mulheres que têm o pedido médico para o exame, o cartão do Sistema Único de Saúde, idade entre 50 e 69 anos e não ter feito o exame nos últimos 12 meses.
O agendamento pode ser feito diretamente nos postos de saúde ou diretamente com o Hospital da Baleia através dos telefones (31) 3489-1650 e (31) 3489-1669, sempre das 7h às 18h.
Sesc Venda Nova: o agendamento de exames a serem feitos na Praça da Saúde do Sesc Venda Nova, que fica à rua Maria Borboleta no bairro Novo Letícia, dá-se através do telefone (31) 3048-7407, sempre de segunda a sexta-feira das 7h às 19h e aos sábados das 8h às 17h. As mamografias são destinadas a mulheres que trabalham na área de comércio de bens, serviços e turismo ou dependentes e tenham entre 50 e 69 anos; aquelas que se enquadram no primeiro critério, mas não no segundo, podem agendar o exame se tiver indicação médica.
Alívio na poesia
Frente à jornada após a descoberta do câncer de mama, a caminhoneira Simone Maria Silva decidiu usar a própria experiência para escrever a outras mulheres sobre a importância da prevenção à doença e do autocuidado. Leia abaixo o poema por ela escrito.
"Outubro rosa
Sou motorista caminhoneira,
Disso me orgulho com paixão.
Mais foi na estrada da vida,
Que tive a confirmação
Diagnosticada com câncer de mama
Toda paixão virou preocupação.
Fiquem atentas a qualquer alteração,
Até mesmo nas estradas existe sinalização.
Pare, olhe, escute e preste atenção
Não espere o sinal ficar vermelho para fazer a prevenção.
Sei bem como é nossa profissão,
Nela o tempo é corrido
E exige dedicação.
Mas não hesite
Em encostar seu caminhão
E fazer da mamografia
Seu exame periódico de prevenção.
A todas as mulheres caminhoneiras ou não,
Fica a dica
Se cuidem, se previnam, o autoexame realizem
E faça da sua saúde
O bem mais precioso que existe"