Com linhas expressivas, que ora remetem às montanhas de Minas Gerais e ora acompanham as curvas da exuberante Lagoa da Pampulha, o conjunto moderno da região, que já tinha fama internacional e atraía vários visitantes, agora ganha mais destaque com a conquista do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no último domingo (17), durante a 40ª Reunião do Comitê do Patrimônio Mundial, no Centro de Convenções de Istambul, na Turquia.
Único representante do Brasil na disputa, que contava com obras de mais de 20 países, o complexo, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), entre 1942 e 1943, a pedido do então prefeito da capital mineira, Juscelino Kubitschek, é composto por quatro edifícios. São eles a Igreja de São Francisco de Assis, mais conhecida como Igrejinha da Pampulha; o Museu de Arte, antigo Cassino; a Casa do Baile, atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte; e o Iate Tênis Clube, antigo Iate Golfe Clube.
Finalidade
Segundo especialistas, o título alcançado é destinado a monumentos, edifícios, trechos urbanos e até ambientes naturais de importância paisagística, com o objetivo de catalogar, identificar, proteger e preservar bens que tenham valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico.
Referência de arte moderna, o conjunto da Pampulha, que conta também com o paisagismo de Roberto Burle Marx, com esculturas de artistas renomados, como Alfredo Ceschiatti, e com painéis com azulejos do pintor Cândido Portinari, além de reconhecimento mundial, passa, agora, a contar com o compromisso de proteção da Unesco e de todos os países signatários da convenção.
Complexidade
De acordo com Leônidas de Oliveira, presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), alcançar tal nomeação não foi fácil. A campanha pelo título começou há 20 anos, mas só se concretizou em 2012, após uma série de complexos e rigorosos procedimentos.
“No ano de 1996, o governo brasileiro, por meio do Itamarati e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), enviou uma lista indicativa para a Unesco, com lugares ou sítios históricos que poderiam vir a ser Patrimônio da Humanidade. Foram 33 candidatos, e nessa lista estava a Pampulha. No entanto, somente no fim do ano de 2012 que a prefeitura municipal iniciou efetivamente o processo”, comenta Oliveira.
Ainda de acordo com ele, após a efetivação foram criadas duas comissões, uma de acompanhamento e outra técnica, no intuito de transformar a proposta em realidade. E foi na Fundação Municipal de Cultura que o dossiê para a candidatura, que contém cerca de 500 páginas, foi elaborado.
“Foram vários técnicos que trabalharam no processo, feito em parceria com Iphan e com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). Passamos por dez fases, incluindo a visita da Unesco, análises documentais, pareceres e obras”, menciona.
Entre os critérios avaliados está o fato de o bem representar “uma obra-prima do gênio criativo humano”, “um evidente intercâmbio de valores humanos ao longo do tempo ou dentro de uma área cultural do mundo” e de ser um “exemplar excepcional de um conjunto arquitetônico ou tecnológico ou paisagem, que ilustre estágios significativos da história humana”.
Para Oliveira, estar no seleto grupo de lugares importantes para a humanidade coloca Belo Horizonte em outro patamar. “Haverá maior exposição de BH como cidade moderna, que preserva sua história e que, a partir do título, estará em todos os guias turísticos do mundo”, frisa ele.
Para a presidente do Iphan, Kátia Bogéa, o Brasil tem muito a comemorar com a conquista do título. “O conjunto da Pampulha está na origem da produção arquitetônica e urbanística brasileira, dentro do Movimento Moderno, e deve ser um bem compartilhado por toda a humanidade”, afirma ela.
Linha do tempo
Dezembro de 2012:
Retomada da candidatura do Conjunto Moderno da Pampulha a Patrimônio Cultural da Humanidade.
Abril de 2013:
Visita de técnicos do Iphan para conhecer melhor o local e definir o cronograma dos trabalhos a serem realizados.
Dezembro de 2014:
Entrega do dossiê de candidatura.
Março de 2015:
Comunicado da Unesco sobre a aceitação da candidatura belo-horizontina.
Março de 2015:
Criação da Comissão de Gestão, envolvendo diversas secretarias municipais, com o objetivo de coordenar e articular ações, projetos e intervenções dos diversos órgãos públicos, bem como iniciativas do setor privado na Região da Pampulha.
Setembro e outubro de 2015:
Visita da arquiteta venezuelana Maria Eugênia Bacci, representante do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), que colheu impressões e conheceu detalhes da candidatura do Conjunto Moderno da Pampulha.
Maio de 2016:
Parecer favorável da Unesco, após avaliação do Icomos, relatando a singularidade do Conjunto Moderno da Pampulha e seus aspectos genuínos.
Julho de 2016:
Conquista do título mundial, concedido pela Unesco.
Você sabia?
Além do novo título, o conjunto arquitetônico da Pampulha é tombado nas esferas federal (pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan), estadual (pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais - Iepha) e municipal (pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural).
Minas Gerais possui quatro Patrimônios Culturais reconhecidos pela Unesco. Além do conjunto da Pampulha, há Ouro Preto, o Centro Histórico de Diamantina e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas.