Após aderir ao uso do WhatsApp para comunicar a incidência de roubos, assaltos e arrombamentos no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte, moradores da região passarão a utilizar apitos para mobilizar vizinhos a acionarem a polícia. Na manhã desta quarta-feira (29), uma reunião entre a Polícia Militar e representantes da Associação de Moradores do bairro Buritis, estabeleceu os tópicos que serão discutidos em uma assembleia marcada para a próxima terça-feira (5).
“Essa assembleia já estava prevista com os moradores do bairro para discutir a questão da segurança no bairro, porque é um tema que envolve toda a cidade. Então, nesta manhã, nos reunimos com o comandante do policiamento do bairro para traçar os tópicos que serão tratados neste encontro, que deverá reunir além dos moradores, a Polícia Militar e o Conselho de Segurança Pública”, explica a diretora da Associação dos Moradores do Buritis, Fátima Gottschalg.
As denúncias dos moradores são alarmantes. Na página do grupo Meu Bairro Buritis, no Facebook, muitos relatam casos de arrombamentos, assaltos e até sequestros em plena luz do dia. Em uma das postagens, um morador postou a imagem do comunicado interno do prédio, em que o síndico alerta os moradores sobre os riscos e conta que somente no último dia 21, entre 11h e 17h, foram registrados seis tentativas e arrombamentos de apartamentos no bairro.
FOTO: web repórter |
Memorando alerta sobre arrombamentos nos apartamentos |
Em outro prédio, o comunicado interno alerta sobre um golpe ainda mais elaborado, no qual os criminosos enviam uma carta como se fossem de alguma empresa de internet ou telefonia, e deixam o telefone para agendamento do serviço.
FOTO: web repórter |
Em outro condomínio, comunicado alerta sobre golpe |
Golpe da falsa identificação
Uma das abordagens dos criminosos que mais tem sido denunciada pelos moradores é a da falsa identificação. “Eles conseguem entrar nos prédios dizendo que são de algum serviço externo como Copasa, Cemig, ou mesmo entrega de pizza ou de farmácia. Depois que conseguem entrar, eles arrombam os apartamentos”, conta a gerente comercial Jacqueline Victor da Silva, de 49 anos, criadora do grupo do bairro no WhatsApp.
Segundo ela, a adesão dos moradores ao aplicativo foi tanta que três dias depois de ter criado o grupo, ela precisou criar um segundo grupo para incluir todos que solicitaram participar da mobilização. “Decidi criar o grupo ao perceber que diariamente as pessoas do bairro comentavam de assaltos ou de roubo. A ideia é comunicar no grupo onde aconteceu o assalto, como foi, onde está tendo arrombamento naquele momento”, explica.
Uma das medidas que os moradores decidiram adotar, é a de andar sempre com apitos. Assim, quando perceberem algum crime na região, como uma movimentação suspeita em um imóvel vizinho, a testemunha pode acionar o apito e gerar um apitaço, para assustar o suspeito e acionar rapidamente a polícia.
A moradora também observa que em muitos casos, os criminosos estão bem vestidos e praticam o crime sem serem notados. “Já entraram no condomínio em que moro, invadiram a casa de uma vizinha e saíram pela porta da frente dela, sem ela nem perceber. Em outro caso, uma caminhonete parou em um estabelecimento ao meio-dia, em uma via super movimentada, e os suspeitos que estavam super bem-vestidos desceram do veículo e roubaram o local”, conta Silva.
Em um dos casos, registrado pelas câmeras de segurança de um condomínio (veja o vídeo acima), os suspeitos tentam arrombar o local forçando as grades para entrar.
A Polícia Militar irá colocar câmeras de olho vivo na região do Buritis para ajudar no monitoramento da região. A avenida Professor Mário Werneck, um dos principais corredores do bairro, é uma das vias que receberá os equipamentos. A diretora da Associação dos Moradores do Buritis, Fátima Gottschalg, informou que as câmeras já começaram a ser instaladas.
Redução não condiz com relatos de moradores
O major Marcos Afonso Pereira, comandante da 126ª Companhia de Polícia Militar, unidade responsável pela segurança da região, conta que, apesar dos relatos, houve uma redução no índice de roubos no bairro. “Percebemos entre janeiro e abril deste ano uma redução de 10 a 15% destes crimes na região”, conta.
O número destoa do balanço divulgado pela Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), que aponta que só no mês de março, houve um aumento de 10,7% no índice de roubos no Estado com relação ao mesmo período do ano passado. Este é o maior índice mensal registrado desde 2012. No levantamento do primeiro trimestre, somente Belo Horizonte registrou 9.246 roubos, uma média de um roubo a cada 15 minutos.
Ainda de acordo com o comandante, a mobilização da comunidade e o diálogo com a polícia são necessários para garantir a segurança no bairro. “Trazer essas solicitações para a Polícia Militar é importante e mostra que a sociedade está interessada em consolidar essa rede na região”, diz.
Segundo ele, os roubos no qual os suspeitos se apresentam como agentes de serviço externo, como Cemig, Copasa ou algum órgão de pesquisa é característico no bairro. “A gente viu que essas informações passadas pelos moradores do bairro, de pessoas tentando entrar em prédios dessa forma, é algo característico no Buritis, mas são fatos esporádicos. Por isso nós temos orientado para que os trabalhos ou serviços solicitados em condomínios sejam sempre registrados e controlados pela portaria.Isso reduz muito as ocorrências. Quando o prédio não tem portaria, cabe a cada morador controlar isso e evitar que pessoas que não tenham sido chamadas, tenham acesso ao prédio”, diz ainda.
Ele ressalta que a reunião desta quarta serviu para estabelecer os temas que serão abordados junto aos moradores na reunião do dia 5.
Os moradores também informaram que há a possibilidade da PM ser incluída no grupo, para agilizar o recebimento e atendimento dos casos de criminalidade no Buritis.