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PBH nega que área de Carlos Prates só possa ser usada como aeroporto

Executivo questiona alegação da família do médico Alberto Cavalcanti, segundo a qual terreno foi doado com a condição de ser usado como aeroporto

Por Lucas Gomes e Rayllan Oliveira
Publicado em 01 de maio de 2023 | 03:00
 
 
 
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A Prefeitura de Belo Horizonte afirma que não existem documentos que comprovem que a doação do terreno do aeroporto Carlos Prates foi feita sob a condição de utilização apenas para aviação. A afirmação contesta a alegação da família do médico Alberto Cavalcanti, que promete acionar a Justiça com o objetivo de manter o terminal em operação. Os familiares dizem que este era um desejo do antigo proprietário do espaço e que o terreno, de 547 mil metros quadrados, deve ser devolvido à família caso seja aproveitado com outra finalidade.

“Os órgão da prefeitura, juntamente com os da União, não encontraram nenhum tipo de registro. O que sabemos, até agora, é que a família parece ter o testemunho de uma pessoa, mas eles não conseguiram levantar documentos que comprovem isso”, explica a assessora especial da Prefeitura de Belo Horizonte, Natália Araújo.

No entanto, a  família do médico Alberto Cavalcanti diz que iniciou um processo de varredura nos cartórios em busca de documentos que comprovem a doação do espaço com esse objetivo. Além das escrituras, eles esperam reunir jornais da época e depoimentos de algumas pessoas que possam comprovar o repasse mediante a citada condição.

Conforme informado por O TEMPO, uma dessas testemunhas deverá ser Lídia Maria, de 98 anos, que é irmã de Alberto Cavalcanti. “Ela está lúcida e sabe dessa história”, contou o designer Geraldo Dias Coelho Filho, de 63 anos, neto de Cavalcanti e sobrinho-neto de Lídia. Além dela, amigos dos familiares e ex-internos do hospital que leva o nome do patriarca deverão testemunhar no caso. “A gente sabe que essa é uma história real, não é algo inventado. A gente tem feito essa pesquisa para reunir todos esses relatos”, relatou.

Para a assessora especial da prefeitura da capital, Natália Araújo, mesmo que os familiares consigam algum registro sobre a doação do terreno sob essa condição, o processo seria longo e com pouca possibilidade de uma resolução favorável à família. “Teria um processo de discussão intenso, isso porque é um imóvel registrado como público há 80 anos”, justifica.

Ainda segundo Natália, caso o processo avance e a Justiça determine o pagamento de alguma indenização, esta seria uma responsabilidade da União. “É algo que não seria coordenado pela prefeitura, mas pela União, que é a responsável pela área”, completa.

Aeroporto era sonho do médico Alberto Cavalcanti

Segundo o designer Geraldo Dias Coelho Filho, de 63 anos, neto de Cavalcanti, o espaço foi doado ao poder público com a finalidade de ser utilizado somente para o funcionamento de um aeroporto. “Meu avô até construiu uma arquibancada para que os internos do hospital pudessem ver aviões subirem e descerem. Era uma forma para que eles pudessem se distrair”, relatou.

Ainda segundo Geraldo, o avô adquiriu a área para a instalação de um sanatório, que precisou ser transferido do centro da capital, onde, atualmente, funciona o hospital com o nome do patriarca. “Como tinha muito movimento no centro, as pessoas tinham medo de que as doenças dos pacientes fossem contagiosas”, explicou.

O espaço onde funcionou o aeroporto Carlos Prates está localizado ao lado do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), no bairro Padre Eustáquio, na região Noroeste da capital. A unidade de saúde foi inaugurada em 1936, com o nome Sanatório de Minas Gerais, No espaço, eram tratadas pessoas com tuberculose. Oito anos depois, em 1944, o terminal foi inaugurado. 

Outra versão

Entre os usuários do aeroporto Carlos Prates, a versão que circula há muitos anos é a de que o terreno foi doado pelo coronel Alípio de Melo, que, inclusive, dá nome ao bairro vizinho ao aeródromo. Foi, inclusive, a história apresentada por Estevan Velasquez, presidente da associação VoaPrates, ao falar da construção do espaço. 

“O Carlos Prates foi criado justamente porque, na década de 1930, o aeroclube do Estado de Minas Gerais, que era a única escola do nosso Estado, funcionava aqui, na Pampulha. A Pampulha, naquela época, já não comportava o tipo de aviação que acontecia com essa aviação de escola. Por isso fizeram o Carlos Prates: justamente para absorver o aeroclube do Estado de Minas Gerais. O terreno foi doado pelo coronel Alípio de Melo. Ele doou o terreno, ele era apaixonado e já tinha uma pista lá (uma pista de terra que pertencia a uma fazenda dele). Então ele doou para o aeroclube. E aí foi fundado, em 1944, o aeroporto Carlos Prates”, detalhou. 

 

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