O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis, sediado e coordenado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), iniciou, nesta terça-feira (14), a coleta de amostras de esgoto nas bacias do ribeirões Arrudas, em Belo Horizonte, e do Onça, em Contagem, para verificar a presença de coronavírus nos dejetos.
Inédito no país, o estudo tem o objetivo de auxiliar as autoridades de saúde no monitoramento da presença do Covid-19 em diferentes áreas sem a necessidade de realização de testes diretos em infectados. As amostras serão coletadas em 24 pontos estratégicos, 12 em cada ribeirão.
Nesta terça, os trabalhos se concentraram na região Centro-Sul de BH, próximo aos hospitais das Clínicas e da Unimed, na avenida do Contorno. Não é possível, no momento, fazer o recolhimento de amostras na região do hospital Eduardo de Menezes, referência no tratamento do Covid-19 na capital, por ter uma rede de esgoto própria, que não lança na rede da Copasa. Parceira do projeto, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais ajudou na definição dos pontos de monitoramento e também cedeu cinco equipes para o trabalho de campo.
O trabalho é desenvolvido pelos professores Carlos Chernicharo, César Mota e Juliana Araújo, do INCT, baseado em estudos recém-publicados pela revista Lancet Gastroenterol Hepatol. Um levantamento realizado em Amsterdã, na Holanda, mostrou que pacientes com a coronavírus apresentaram em suas fezes o RNA do Sars-CoV-2, causador da doença.
São quatro técnicos trabalhando na coleta das amostras. "Cada equipe tem um amostrador automático, com uma mangueirinha que vai na rede de esgoto, coletando amostras em intervalos de tempo regulares. Essa amostra fica preservada numa caixa com gelo, um isolante térmico, abaixo de 4 graus. É uma amostra grande, de 10 l. Depois a gente homogeniza, passa para 1 l e levamos para o laboratório", explica o professor Chernicharo.
As amostras serão analisadas no laboratório de microbiologia do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia da UFMG, na Pampulha. A expectativa é que os primeiros resultados saiam na segunda quinzena de maio. "Essa análise é bem demorada. Ela é bem parecida com o teste que as pessoas fazem. Fazemos a análise usando o mesmo equipamento, mas com reagentes diferentes. Não é para a análise clínica, não estamos tirando reagentes que poderiam estar testando pacientes", esclarece o pesquisador.
Além da Copasa, os estudos têm o apoio do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e da Secretaria de Estado de Saúde (SES). O projeto também está sendo discutido pela Agência Nacional de Águas (ANA).
Atualizada em 15/04, às 12h20.