Mobilidade

PlanMob dá prioridade à acessibilidade do pedestre

Desde 2007, plano é o maior investimento com foco nos caminhantes de BH. Trajetos feitos a pé são o foco das obras, que têm primeira etapa prevista para 2021

Por Pedro Nascimento
Publicado em 13 de setembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Quando se fala em trânsito e mobilidade urbana, é comum pensarmos logo em carros, motos, ônibus e metrô. Um ponto pouco considerado, especialmente pelo orçamento do poder público, é o trajeto a pé. Em BH, o último grande investimento com foco nos pedestres foi em 2007, com o programa Centro Vivo, que restaurou algumas vias e calçadas do hipercentro. Mas essa realidade está prestes a mudar com um pacote de obras que, dessa vez, além de contemplarem a região central, prometem facilitar a vida dos pedestres.

As intervenções fazem parte do PlanMob – documento que auxilia a cidade na elaboração dos planos de mobilidade – e estão divididas em três etapas. Muitas mudanças são simples, mas têm potencial para tornar mais simples o ato de andar a pé.

“Esse é o primeiro conjunto de obras voltadas para a priorização do transporte coletivo em que a acessibilidade do pedestre é tratada de forma global. Toda a calçada está sendo considerada”, explica a superintendente de planejamento e informação da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), Liliana Hermont. A mudança de foco foi possível por conta do novo Plano Diretor, atualizado em 2019, no qual estão previstas novas prioridades no trânsito, e o pedestre está no topo da “pirâmide”, seguido por bicicletas e transporte coletivo. 

Um diagnóstico foi feito para elencar as principais reclamações dos pedestres e os principais gargalos. Segundo a BHTrans, diversos cruzamentos e vias não tinham o tempo adequado para travessia, e, às vezes, faixas de pedestres mais atrapalhavam que ajudavam.

O plano prevê alteração, por exemplo, na avenida Afonso Pena, no centro, onde quem deseja atravessar a via em frente ao Palácio da Artes tem que cruzar sete faixas de pedestre, e os semáforos não ajudam. Essa é a reclamação da doméstica Rosana da Silva, 46: “É por isso que muita gente atravessa fora da faixa. Demora demais pra atravessar, e o sinal é muito rápido. Na última travessia, sempre preciso dar uma corridinha pra não ser atropelada”.

Doutor em geografia com foco em mobilidade urbana, Marcelo Amaral conta que esse tipo de investimento é positivo para todos, até para quem anda de carro. “Um terço dos deslocamentos na cidade é feito exclusivamente a pé. Quanto mais esse processo for inseguro, mais teremos paralisações no trânsito por conta de atropelamentos”, disse ele, que é integrante do movimento Nossa BH. 

“Quem usa ônibus também frequenta calçadas, pois se desloca até o ponto. Então, priorizar o bem-estar do pedestre é pensar nisso tudo”, defende. 

 

Nesta quinta-feira, vai ter consulta pública
Antes do início das obras do PlanMob, a BHTrans faz uma reunião de consulta pública, na qual a população pode tirar dúvidas e fazer sugestões. A primeira oportunidade vai ser próxima quinta-feira (19), das 10h às 12h, de forma online. 

Na reunião, vão ser discutidas as obras da primeira etapa do projeto, que contempla mudanças no trânsito nas avenidas do Contorno e Tereza Cristina, no viaduto do Floresta e em outras vias do centro e da região Leste. 

A consulta vai ocorrer por meio da plataforma Zoom Meetings. Para participar, é preciso de cadastrar no site da BHTrans (pbh.gov.br/bhtrans). A inscrição pode ser feita até as 12h da próxima quarta-feira, véspera do evento, que tem capacidade para até 300 pessoas. Também é possível só acompanhar, pelo canal da BHTrans no YouTube.

As datas das outras reuniões, que precedem a segunda e a terceira etapas, ainda vão ser divulgados.

 

Com a palavra, quem caminha por Belo Horizonte

“O sinal abre e fecha muito rápido. Para quem está com criança é uma luta. Você tem que dar a mão bem firme, porque qualquer vacilo ainda mais aqui no centro, pode ser perigoso.”
Kenia Rocha da Silva, 25, artesã

“Já vi muito idoso tendo que correr aqui para atravessar em tempo. Essa sinalização confunde muito. É muita faixa, e a travessia é muito  longa.” 
Marcos Vinícius Teixeira, 31, auxiliar administrativo, sobre a av. Afonso Pena

 

Move vira a única saída para a avenida Amazonas

Das vias consideradas troncais em BH, a mais problemática é a avenida Amazonas, segundo a BHTrans. Até pouco tempo, eram pensadas duas soluções: a implantação de faixas preferenciais de ônibus à direita – mais barata – e o Move, com faixas à esquerda e cabines de passageiros, que se tornou a única saída. 

“Faixas à direita não se mostraram viáveis em nível de solução para o trânsito na Amazonas. Por isso, agora, estamos focados na solução do Move”, explica Liliana Hermont, superintendente da BHTrans. Além das cabines de transferência e implantação das faixas, a BHTrans prevê reestruturação da avenida como um todo, com incremento na iluminação e investimento nos canteiros centrais, o que depende de aprovação de empréstimo de ao menos R$ 300 milhões junto ao Banco Mundial.

“A avenida Amazonas é o corredor viário mais importante de BH e ainda não recebeu tratamento para o transporte coletivo. Esse certamente será o nosso próximo investimento”, explica. Por hora, passam pela via 32,5 mil veículos – 16 mil deles de outras cidades, segundo dados da BHTrans. 

 

 

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